sexta-feira, dezembro 29, 2006

riacrdoo nosocomiado (II)

E de novo as infecções nosocomiais!

Um estudo da universidade John Hopkins nos EUA, e publicado hoje na revista científica New England Journal of Medicine, revela que pequenos procedimentos são suficientes para reduzir drasticamente a incidência de infecções hospitalares. Coisas tão simples como lavar as mãos, ou quando se insere um catéter central limpar bem a zona de inserção e usar luvas, máscara e bata.



Os investigadores conseguiram, com estes procedimentos, reduzir em 66% a taxa de incidência de infecções nosocomiais originadas pela colocação de catéter central. Foram consituídos protocolos para a colocação de catéter central, assim como constituiram-se equipas de médicos e enfermeiros que tinham de cumprir determinados objectivos diários, seguindo algumas check-lists.

Outro pormenor desta notícia é que no estado americano de Maryland, desde a primavera deste ano, é obrigatório para algumas unidades hospitalares fazerem a vigilância das infecções nosocomiais, e reportarem as infecções detectadas às autoridades competentes.

Cá está, são pequenas coisas que fazem toda a diferença: não é necessário abusar de antibióticos para controlar um grave problema hospitalar.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Ano novo, comparticipações novas

Tal como foi discutido para a aprovação da Lei do Orçamento de Estado de 2007, os medicamentos comparticipados veriam pelo menos três alterações durante este ano que se segue:
1) as suas comparticipações seriam diminuídas nos três escalões (B, C e D);
2) a redução do seu preço de venda ao público seria de 6%;
e 3) propôs-se a revisão do Sistema dos Preços de Referência.

Ontem (27/12) o INFARMED enviou uma circular informativa a todas as farmácias, a dar conta destas três alterações.
As alterações são, passando a citar:
- a comparticipação do escalão B baixa de 70% para 69%;
- " " " " C baixa de 40% para 37%;
- " " " " D baixa de 20% para 15%. Tudo isto a partir do dia 1 de Fevereiro de 2007.
Ainda, a redução de 6% no PVP dos medicamentos comparticipados também entra em vigor a partir do mesmo dia. Finalmente, a revisão do sistema de Preços de Referência é que só irá efectuar-se neste dia 1 de Fev, ao contrário do previsto (dia 1 de Janeiro).
Os medicamentos de comparticipação do escalão A, mantêm os 95% de encargo pelo Estado.

Na realidade, o Estado foi bastante subtil nestas alterações, pois compensa a redução do PVP dos medicamentos com a diminuição dos seus encargos. Os jornais alertam para estas modificações e referem que o utente não deverá sentir diferença naquilo que pagam, dizendo mesmo que o público poupará cerca de 13 milhões de euros por ano (contra os 115 milhões de euros que o Estado poupará).

É também de referir que já se falou na hipótese de se acabarem com os regimes de complementaridade ainda em 2007. Mas ainda não passa de um rumor (?)...

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Má-informação?...

Os antipsicóticos de segunda geração como a risperidona, a olanzapina ou a quetiapina são considerados como tratamento de primeira linha para a esquizofrenia, por apresentarem menos efeitos secundários de movimento (como a discinésia) que os antipsicóticos de 1ª geração. No entanto, estas novas moléculas não estão livres de efeitos secundários, apesar de serem melhor toleradas pelo organismo.

Os efeitos secundários deste grupo de medicamentos engloba o aumento de peso, a tendência para o aumento do colesterol e da glicémia. Como tal, muitos das indústrias que produzem e vendem estes medicamentos têm mesmo tido a precaução de avisar os doentes e todos os profissionais de saúde que estes factores são de risco por levarem ao aparecimento de diabetes tipo 2.

Mas o curioso é que a empresa Eli Lilly (r), produtora do famoso Zyprexa (r), conseguiu manter numa espécie de segredo que a olanzapina também tinha estes dois riscos associados ao seu consumo. Ensaios clínicos foram feitos, claro está, mas os resultados foram tratados de tal modo que fosse possível informar os médicos e os farmacêuticos de tudo o que o medicamento tem de bom e mau, excepto essa característica de aumentar a glicémia com a toma prolongada do antipsicótico. O que é extraordinário, como vem referido neste artigo aqui, é que os delegados de informação médica tiveram mesmo ordens para não mencionar estes efeitos secundários. A empresa queria primar com a sua molécula com a ajuda da omissão de factos. Nem tudo lhes correu bem, porque ao longo dos anos em que o medicamento já está no mercado, os médicos notaram que os seus pacientes, mesmo tomando o Zyprexa (r), estavam a ficar obesos e com tendência para a hiperglicémia.

Todos os factos negros sobre este medicamento conseguiram ver a luz do dia graças a um advogado que representa nos USA uma associação de doentes esquizofrénicos e que tomam este medicamento. Pacientes que já se tinham queixado várias vezes das consequências que o antipsicótico lhes infligiu mas sem qualquer resposta por parte da empresa.
Resta agora saber, como é que se vai resolver este problema. Por um lado, ao longo dos anos, os médicos (dos USA) foram deixando de prescrever este antipsicótico, por suspeitarem deste possuir os mesmo efeitos secundários que as restantes moléculas de segunda geração possuem.
Mas por outro lado, falta a parte da regulamentação que tem de agir depressa para se evitar um maior número de doentes mentais com risco de terem diabetes tipo 2.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Boas Festas!


Para assinalar a temporada que agora atravessamos, mas também para assinalar o primeiro Natal que o Linezolide *comemora*, a equipa deste blog deseja a todos os seus leitores um...
Feliz Natal


cheio de saúde! ;-)







da equipa,
Andie & Riacrdoo

sábado, dezembro 23, 2006

Nuestros hermanos sem papas na língua!

Uma notícia já com algumas semanitas (Setembro), mas que só foi ontem referida no site da Ordem dos Farmacêuticos, despertou a minha atenção.



O Governo Espanhol, após a instauração de um processo pela Comissão Europeia, veio defender o seu modelo de farmácia, baseando-se no elevado nível de protecção da saúde pública que as farmácias espanholas oferecem e no facto de que estas são estabelecimentos privados de sáude de interesse público.

A legislação espanhola estabelece uma relação especial entre os farmacêuticos e o estado espanhol, de modo a garantir o acesso da populção aos medicamentos e aos serviços prestados pelos farmacêuticos (cuidados farmacêuticos, etc.). Para além disso, o modelo espanhol de farmácia permite uma adequada cobertura de farmácias no país (cerca de 99% da população) com um rácio farmácia/habitante apenas superado pela Grécia e Bélgica, e com uma taxa de reclamação reduzida (0,22% do total de reclamações apresentado em Espanha). Por fim, a comunicação refere que o regime espanhol da propriedade das farmácias e acumulação de farmácias não transgride a legislação comunitária.

Este tema já foi muito debatido por todos os farmacêuticos (e estudantes!) em Portugal. É claro que todas as alterações propostas pelo Governo Português são baseadas em aspectos económicos, ou seja, quem pode ou não lucrar com o negócio das farmácias. Eu, pessoalmente, acho que qualquer pessoa pode lucrar com esta actividade, mas bem sei que é difícil separar o trigo do joio: o lucro de uma farmácia é uma função do volume de vendas, e não tanto do serviço prestado pelo farmacêutico. É um dilema que penso que a maioria das pessoas não se apercebe no meio desta discussão e que se coloca aos farmacêuticos não proprietários. Vendo hoje um bocadinho mais e garanto o meu posto de trabalho e se calhar um aumento no salário, ou presto um melhor serviço independentemente disso originar um aumento ou diminuição das vendas?

Espanha, por seu lado, abstrai-se de todas estas discussões e segura-se num argumento: as farmácias tal como estão garantem um elevado nível de saúde pública, e é isso que interessa. Daí que não queiram mexer em nada!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Resultados da 1ª sondagem!

Pois aqui vou relatar os resultados da 1ª sondagem realizada no linezolide:

Pergunta: "Gosta da cara lavada do Linezolide?"

Sim! está muito mais giro!: 46%
Sim, mas o outro também era giro...: 38%
Tanto me faz, vim só ver a bola...: 8%
Não! O outro estava mais giro!: 8%

Tivemos 9 votações nesta sondagem. É de relatar que felizmente ninguém reprovou o novo aspecto do linezolide, e que também ninguém veio ver a bola ao linezolide! E a opção que reuniu mais votos foi mesmo a que indicava que o lifting ao linezolide veio mesmo a calhar!! A equipa do linezolide agradece por isso o reconhecimento do nosso trabalho para melhorar o linez.

Mas queremos mais votações nas próximas sondagens, foi um "n" piqueno e a equipa do linezolide anseia por uma maior actividade dos leitores do blog: mais comments aos posts e também mais votações na sondagem!

O linezolide agradece o apoio dado pelos leitores, e promete que vai continuar o trabalho que tem vindo a desenvolver!

Andie & riacrdoo

sexta-feira, dezembro 15, 2006

riacrdoo nosocomiado

Esta semana assisti a um simpósio sobre infecções nosocomiais Cá está um post sobre o simpósio!



Este simpósio foi bastante procurado por profissionais, não só farmacêuticos mas também enfermeiros, que se mostraram atentos às informações divulgadas.

Em primeiro lugar focou-se o papel das Comissões de Controlo de Infecções (CCI) que procedem à vigilância epidemiológica: esta vigilância pode ser passiva, quando são os profissionais não pertencentes às CCIs que notificam os casos, ou activa quando a própria CCI faz estudos de prevalência ou de incidência de infecções.

De seguida a professora Aida referiu os métodos de caracterização epidemiológica de bactérias multirresistentes, em concreto a fenotipagem (como ex. caracterização bioquímica, serotipo, sensibilidade aos antibióticos, etc.) e a genotipagem (por ex. amplificação por PCR de sequências genómicas, RFLP ou PFGE). De seguida referiu as diferentes classes de beta-lactamases existentes, focando em especial as beta-lactamases de largo espectro.

A professora Isabel Portugal falou sobre tuberculose multirresistente, referindo que esta faceta da tuberculose encontra-se num estado de sub-notificação em Portugal. Após referir que há alguns anos foi detectado num hospital de Lisboa uma situação de transmissão nosocomial de tuberculose, a caracterização epidemiológica das estirpes analisadas na fful não permitiu concluir se essa transmissão nosocomial continuava a existir ou não!

Quanto ao afamado Acinetobacter baumannii, tema abordado pela prof Gabrielada ffuc, parece que este é um problema essencialmente europeu, e em particular em Portugal (que maravilha). Parece que é um bicharoco muito resistente no meio ambiente, sobrevivendo mesmo em anbiente seco, ou seja, mantém-se durante muito tempo nos hospitais... Para melhorar ainda, o único antibiótico ao qual é sensível a estirpe que circula em Portugal (uma estirpe ibérica, segundo a prof Gabriela) é a colistina: tudo o resto não funciona com o acinetobacter!

A última parte a que assisti (é verdade, riacrdoo às vezes sai antes das coisas acabarem), foi uma magnífica experiência relatada por uma médica do hospital do SAMS. A CCI do hospital instituiu um programa de controlo da infecção por MRSA, que resultou muito bem: diminuição acentuada do número de doentes infectados com MRSA (peço desculpa, mas não registei os valores) e diminuição das resistências aos antibióticos. Isto tudo graças um bom controlo da infecção, com rastreios a todos os doentes novos que entravam no hospital, rastreios semanais aos doentes na UCI, rastreio nos profissionais, controlo rigoroso da utilização de antibióticos, descolonização dos doentes colonizados com MRSA mas não doentes, e também o isolamento dos doentes infectados!

Concluindo, foi um óptimo simpósio onde aprendi muita coisa. Principalmnte um aspecto, que já passei a alguns amigos meus: por favor, tentem não ficar internados num hospital por longos períodos de tempo! É que com as infecções que por lá andam...

Avanço na luta contra a osteoporose

Ora aqui está uma notícia que me intrigou primeiro de uma determinada forma, e depois, passados alguns dias, de outra forma.

Vamos por partes. A notícia que vos transmito refere-se a uma nova vertente de "combate" à osteoporose (mesmo que instalada), pois implica terapêutica génica nesta área. Até agora, os tratamentos desta doença baseavam-se na inibição dos osteoclastos (inibição da reabsorção da matriz óssea, portanto), ou então no estímulo, por parte dos osteoblastos, da formação óssea. A combinação destes tratamentos é bastante comum, para tirar partido da eficácia dos dois métodos de prevenção e combate à osteoporose (um exemplo disso é a associação de bifosfonados com colecalciferol - vitamina D3).
A inovação vem de estudos em ratos, que demonstram que a inactivação do gene Atp6v0d2 resulta em osteoclastos defeituosos e um processo melhorado de formação óssea. Os resultados traduzem-se num aumento significativo da massas óssea, e revelam a necessidade de melhor compreender a fisiologia e o metabolismo do osso (coisa para a qual já contribuiram!).

Na segunda parte deste post queria referir a minha indignação relativamente ao medicamento Protelos (r). Já tinha vendido este produto, já li o seu RCM algumas vezes, mas só esta semana é que conheci a DIM responsável por nos tirar dúvidas acerca deste produto farmacêutico. Como tal, essa senhora ensinou-nos o ranelato de estrôncio tinha exactamente as mesmas propriedades (em termos práticos e de resultados) que a experiência, acima referida neste texto. evidenciou. Diz a indústria que o produz (Servier (r)) que este medicamento é inovador por impedir a acção dos osteoclastos e favorecer ao mesmo tempo a formação da matriz óssea, tornando a balança mais pesada para o lado do crescimento ósseo. E parafraseando-os "Rebalança o turnover ósseo em favor da formação".


Agora eu pergunto, será que tem muito sentido uma terapêutica génica num momento onde este medicamento parece dominar a situação? É que as únicas precauções do Protelos são a insuficiência renal grave (por não terem feito estudos que provassem que o estrôncio se acumulasse nos rins destes doentes), e em doentes que há relativamente pouco tempo têm vindo a ser tratados para trombos sanguíneos.
É extremamente interessante esta dicotomia. Não quero parecer muito céptica em relação à terapêutica génica, mas neste caso acho que estamos perante uma situação em que essa terapêutica pode demorar tanto tempo a desenvolver, que a via de desenvolvimento de fármacos tradicionais seguramente a ultrapassará em largos anos de avanço.

sábado, dezembro 09, 2006

Linezolide: Alive and Kicking!

Quando hoje a equipa deste blog fez o seu log-in habitual para postar mais um comment, deparou-se com a situação de update do serviço Blogger. Surgiu assim a oportunidade de fazer evoluir o Linezolide associando-o a uma nova imagem, mais moderna e com cores mais apelativas (pensamos nós), e aproveitando as novas funções do serviço para editar todo o layout do blog.

Assim temos:
  • mais links para os sites de amigos (ou nossos) que possam despertar o vosso interesse, a novas leituras (ou no caso do flickr.com, a imagens).
  • mais links úteis de jornais, notícias, motores de busca, associações e escolas relacionadas com farmácia e toda a área farmacêutica, empresas da indústria farmacêutica nacional e internacional, etc etc etc!
  • uma sondagem semanal que está mais para o fim da coluna ao lado direito. Teremos o cuidado de escolher sempre perguntas pertinentes que apelem ao vosso voto, para sabermos a opinião do leitor do Linezolide. Começamos por uma pergunta mais soft, para saber se gostam deste novo estilo "modernaço" do blog. Façam o favor de votar :-)
  • mais botões e coisinhas de interesse, que vamos deixar espaço à nossa imaginação para preencher. Aqui aproveito para vos convidar, a vós leitores, que deixem a vossa sugestão quanto àquilo que queiram ver neste blog: alguma nova funcionalidade? alguma sugestão relativamente à imagem do blog? Deixem as vossas opiniões sob a forma de comentários.
Como vêem, ainda foram algumas as alterações feitas. Mas a mais importante e que visivelmente se destaca é a combinação de cores escolhida. (algo que nós estávamos à muito tempo para mudar...)

Assim, convido-vos a comentar esta mudança de look do Linezolide. Votem na sondagem!

A equipa do Linezolide agradece a todos os leitores pela vossa leitura e espera que corresponda sempre às vossas expectativas.
Um grande bem haja a todos!! ;-)

Andie & Riacrdoo

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O que é que o tetrahidrocanabinol tem a ver com a diabetes?

Mais uma novidade para a diabetes! Acho que este também não vinha nos acetatos da prof Mª Augusta!


O rimonabant é um fármaco usado no tratamento da obesidade, com acção anorética. E o mais engraçado é que antagoniza os receptores dos canabinóides, em concreto o receptor CB1 (que também existe o CB2), provocando a redução do apetite. Isto porque da acção do tetrahidrocanabinol (um agonista destes receptores) resulta um aumento do apetite, sendo por isso o tetrahidrocanabinol usado para aumentar o apetite, por exemplo, em doentes de SIDA. É mesmo classificado pelo Infarmed no grupo farmacoterapêutico 2.13 - Outros medicamentos com acção no Sistema Nervoso Central.

O rimonabant é usado em doentes obesos ( IMC≥30kg/m2), ou em doentes com IMC≥27kg/m2 e factores de risco associados (diabetes tipo 2, etc.) para promover a redução do peso.
Ora foi precisamente num estudo com doentes com diabetes tipo 2 que se verificou um benefício do rimonabant nesta patologia. Segundo os resultados do estudo, o rimonabant para além de reduzir o peso dos doentes levou também a melhorias no controlo da glicemia, nos valores de colesterol HDL e LDL, nos trigliceridos, e na pressão arterial. Segundo os autores deste estudo, os doentes que nele participaram estiveram sujeitos apenas ao rimonabant como terapêutica farmacológica.

Uma curiosidade a nível nacional é a existência de duas apresentações do rimonabant autorizadas pelo Infarmed: exactamente com as mesmas dosagens e da mesma empresa! São eles o Acomplia® e o Zimulti®, ambos da Sanofi Aventis e com data de AIM de Junho deste ano. Pena é que nenhum deles seja ainda comparticipado pelo Estado, pelo que uma simples caixa de 14 comprimidos custe 55,09€!

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Aprovado o Dec-Lei nº 235/2006

E o que é que este Decreto-lei nº 235/2006, de 6 de Dezembro, nos interessa, como farmacêuticos?

Interessa pois trata-se da aprovação daquilo de que tem vindo a ser falado nos últimos tempos no que toca à existência (ou transformação, conforme preferirem denominar a situação) de farmácias nos hospitais como serviço de dispensa ao utente.
Concretamente, este decreto-lei estabelece o regime de instalação, abertura e funcionamento de farmácia de dispensa de medicamentos ao público nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde e as condições da respectiva concessão por concurso público.
Logo no ínicio do texto deste diploma, vem referido o particular interesse do presente Governo na melhoria da acessibilidade dos medicamentos ao cidadão comum, facto que representa assim uma das suas prioridades (será o choque da saúde?...). É dos objectivos deste dec-lei que se defina o funcionamento ininterrupto destas novas farmácias hospitalares, que terão de funcionar em tudo (ou quase tudo, pois continuarão a ter a possibilidade de dispensar os medicamentos em unidose ao utente) como as farmácias comunitárias. Outro objectivo, tal como é referido anteriormente neste texto, é que a concessão da exploração comercial destas farmácias seja completamente transparente. A transparência é importantíssima ao Governo, uma vez que a abertura deste tipo de farmácias em Hospitais do SNS implica que sejam "roubados" alguns utentes das farmácias das redondezas dessas instituições, que certamente sentirão a quebra de vendas devido a estes novos desenvolvimentos.
É ainda de referir que a concessão destas farmácias poderá ser dada, no mesmo âmbito da alteração da lei da propriedade das farmácias prevista por este Governo, a sociedades comerciais cujos titulares podem não estar obrigatoriamente relacionados com o curso de Ciências Farmacêuticas.
Torna-se importante realçar que o processo de concretização destas medidas passa pelo pedido do hospital (de implantação da nova farmácia) e de contínua aprovação pelo INFARMED (que continua a ser a entidade reguladora de todos os requisitos que estas farmácias devem obedecer, para além da sua concessão em concurso público a gerir também pelo Min-Saúde).
Outro ponto a salientar é a definição de farmácia de zona, que figura no artigo 17º deste dec-lei (vale a pena ler as 6 páginas deste diploma). E também é de notar o requisito que define conceito de farmácia de zona, onde terá de ser provado que 15% da facturação provém do receituário vindo do hospital em causa.
Quanto aos hospitais que não fazem parte do SNS, o Governo prevê a concretização e aprovação de outro diploma que regulará a existência deste tipo de farmácias nessas condições (para breve, portanto).


domingo, novembro 26, 2006

Vacinas futuristicas

O Expresso deste fim de semana (leitura essencial!) tinha um número extra de notícias farmacêuticas.

Vacinas transdérmicas

Uma empresa farmacêutica americana, a Iomai encontra-se a desenvolver vacinas para a gripe e para a diarreia do viajante, utilizando sistemas transdérmicos. Estas vacinas utilizariam um método natural de imunização, através da pele, recorrendo à utilização de adjuvantes potentes que não são utilizados nas vacinas injectáveis convencionais: um exemplo é a enterotoxina termo-lábil de E. coli, que foi testada como adjuvante numa vacina deste tipo para o vírus da gripe. Estes adjuvantes permitiriam assim a imunização do organismo, mesmo sendo os antigénios de natureza proteica.
Uma questão pertinente nesta novidade é a estabilidade do produto: o antigénio, tal como foi referido, é de natureza proteica e por isso muito menos estável que outros fármacos. A empresa, no entanto, apresenta dados que asseguram a estabilidade à temperatura ambiente por 6 meses.
Como vantagens deste tipo de imunização, a empresa destaca o facto de não serem necessárias agulhas para administração dos antigénios, a ausência de efeitos provocados pelos adjuvantes, a possibilidade dos sistemas serem enviados por correio em situações de pandemia(!!!), e a distribuição fora dos circuitos de frio.
Para terminar, estas vacinas já se encontram em experimentação humana, estando alguns dos sistemas já em ensaios clínicos de fase II.

Ad latera

  • Parece que anda por aí uma vaga de despedimentos de Delegados de Informação Médica (DIM), com várias rescisões de contrato ou contactos para a negociação da rescisão. O referido jornal escreve que deverá existir um acordo informal entre o governo e a Apifarma com o intuito de reduzir em 23% o número de DIMs. O objectivo seria reduzir as vendas de medicamentos e assim refrear o gasto do estado em medicamentos. Ouvidas ambas as partes, o Ministério da Saúde diz que desconhece esse acordo, enquanto que a Apifarma justifica os despedimentos com as sucessivas baixas nos preços dos medicamentos e com a recessão (!) da indústria farmacêutica em Portugal...
  • A Udifar prepara-se para montar um sistema de controlo das carrinhas de distribuição de medicamentos, que consiste na localização por GPS e no envio da informação das encomendas já entregues e as por entregar. Pretende-se com esta iniciativa reduzir custos, diminuir o tempo das entregas e aumentar a qualidade do serviço. Curioso é o facto do sistema permitir que as farmácias recebam um SMS a informar a que horas irão receber os medicamentos encomendados!

sexta-feira, novembro 24, 2006

Escandaloso...

Estávamos nós a meados de Outubro quando as autoridades responsáveis pela Saúde Pública em Portugal finalmente perceberam que as doses da vacina da gripe, que encomendaram às Indústrias Farmacêuticas para o que supostamente cobriria a procura pela população, não seriam as suficientes.
Resultado: durante mais de duas semanas, as farmácias pelo país fora sofreram uma enchente de requisitos e reservas pela vacina da gripe, sem que nada pudessem fazer, visto que o Estado só mais tarde decidiu comprar a segunda leva de vacinas.
Depois, como se não bastasse, as ARS permitiram que os farmacêuticos trocassem uma marca por outra que as farmácias iriam receber em maior quantidade (estamos a falar da Influvac (r)). Aí toda a gente com reserva, ou com receita que eventualmente tenha aproveitado para pedir ao seu médico de família, apareceu aos magotes para levantar a sua vacinazinha... Uma vez escoado uma larga quantidade deste injectável, a procura da população diminuiu drasticamente, tendo as vendas deste produto desacelerado completamente até ao ponto em que se encontram com stock estagnado.
Mas o problema põe-se da seguinte maneira: o que é que os directores técnicos das farmácias fazem com um stock de cerca de 100 vacinas da gripe quando já estamos em plena época pós-vacinação?
Pelos vistos, e porque a lei da oferta e da procura assim o obriga, as Indústrias já têm bom remédio para as vacinas a mais, cujas encomendas as farmácias cancelaram - a sua destruição! A destruição será inevitavelmente o seu destino, uma vez que as vacinas são sazonais e não terão utilidade para o ano que vem. Portanto, estamos a falar de muitos milhares de euros que poderão vir ser deitados fora; euros esses que não contam no orçamento de estado deste ano (pois aquela maquia destinada para este programa de imunização já teria sido gasta). Tudo por falta de planeamento do estado, e com uma grande ajuda do pânico geral do público donde surgiu a procura alarmista pela vacina da gripe.
Acho isto um escândalo na Saúde, que revela a desorganização completa com que se governa este país...

domingo, novembro 19, 2006

Geração pos-pos-pos-doc


Este fim de semana na revista Única (que acompanha o semanário Expresso) vinha uma interessante reportagem sobre alguns investigadores nacionais. Falava sobre uma série de investigadores, que em virtude da baixa oferta de trabalho científico em Portugal, encontravam-se neste momento em programas de bolsas pos-doc para seguir uma carreira de investigação em Portugal. Um dos entrevistados já ia no seu quarto pos-doc!

Este tema é para mim muito interessante, e para a amiga Andie também, visto que já percorremos algum caminho nesta área, e eu pelo menos já equacionei a possibilidade de seguir o meu futuro profissional por esta área.
Olhar para esta série de pessoas que se dedicaram durante anos à investigação, e verificar que só com recurso a estas bolsas é que se mantêm nesta profissão, é muito pouco encorajador. Não que já não tivéssemos conhecimento destes factos, a vida dos alunos de doutoramento na FFUL deixava antever esta situação: só os que conseguem lugar como professores na faculdade é que garantem alguma estabilidade a nível profissional.
Aliás, descobri que um dos doutorados da nossa faculdade está neste momento a trabalhar nos serviços farmacêuticos do hospital onde me encontro a estagiar. Ou seja, mais de 10 anos a fazer investigação e encontra-se agora na carreira de farmacêutico hospitalar, com muito pouco a ver com o que andou a estudar e com enormes dificuldades para integrar-se de novo nas actividades mais clínicas.

A minha visão é um pouco pessimista, é verdade: as pessoas passam os melhores anos da sua vida a trabalhar a sério, para no fim obterem um título académico, uns poucos artigos publicados, e uma grande incerteza sobre o seu futuro profissional. Vale a pena?? Apenas e somente se o que se quer fazer é investigação!

terça-feira, novembro 14, 2006

Depressão nas crianças?

Uma coisa que eu acho que não passa pela cabeça de ninguém é que as crianças possam sofrer de sintomas de depressão. Parece um pouco estranho que uma criança, que normalmente vive despreocupada da vida alheia e dos problemas dos adultos, possa vir a sentir sensações que associamos a um quotidiano cheio de stress, cansaço, fadiga, problemas e mais problemas, muito trabalho... etc! Mas se pensarmos bem, e se a criança sofrer de depressão em relação a um problema que lhe afecta seriamente a sua qualidade de vida? E quando refiro qualidade de vida, falo daquilo a que lhe está intimamente ligado: a sua felicidade enquanto criança. Nestas circunstâncias, parece bastante lógico que uma criança possa sofrer de tristeza extrema como reacção a algo que lhe foi retirado e que, claramente, tem um grande significado na sua vida.

Portanto é nesta sequência que vos apresento uma notícia inglesa, que dá conta de uma menina de 4 anos que sofre de depressão por lhe ter sido negada a continuação da frequência neste ano lectivo decorrente, na escola onde ingressou no ano lectivo passado. O que lhe aconteceu, e que até já aconteceu aos meus sobrinhos (!), foi que a escola chegou ao limite de alunos e a menina já não foi a tempo de ter sido inscrita nessa escola para continuar neste ano. Toda esta situação despoletou uma polémica pois a criança (Molly Murphy) sentiu-se muito triste por ter de se separar dos seus coleguinhas. Molly revelou a sua depressão através de crises de vómitos, molhadelas nos lençóis à noite, e as habituais birras antes de ir para a escola. Claro que vão dizer, (e a minha mãe seria uma boa candidata a este pensamento) "ah, mas isso passava-lhe com uma boa psicologia familiar!" Mas aí é que está o problema! E se acontecem dois casos: 1) os pais não sabem lidar com a situação e até se sentem tão incomodados com isso que acabam por recorrer ao médico para tratar as "birras" e o comportamento invulgar; 2) os pais até sabem reagir bem à situação mas que mesmo assim a criança sinta uma tristeza maior que os obrigue a recorrer a um médico. Poderá ter sido o que aconteceu na realidade, e a decisão médica foi de adesão à terapêutica anti-depressiva.

Obviamente que a 1ª terapêutica neste caso, seria a terapêutica não-farmacológica, que se baseia essencialmente em levar a criança para a escola a que estava acostumada e numa série de exercícios de acompanhamento familiar. No entanto, o médico optou por seguir a terapêutica farmacológica com anti-depressivos. Os efeitos secundários poderão não ter sido estudados para crianças com 4 anos, uma vez que os ensaios clínicos dos medicamentos não englobaram esta faixa etária. Mas no UK os números indicam que, em 2003, 40 000 adolescentes e crianças estava a ser medicadas com anti-depressivos; apesar das associações de famílias apoiarem muito mais a terapia familiar.
Agora, na minha opinião pessoal, faz-me impressão considerar que uma criança de 4 ou 5 anos seja sujeita a terapêutica tão agressiva para o cérebro e para o organismo todo, como a terap. anti-depressiva é. Será que terá repercurssões no seu desenvolvimento psicológico? Será que a tudo que a Molly se queixe, tem de haver uma terapia farmacológica associada? Ou será que isto foi um caso onde não havia outra alternativa senão esta?
O assunto choca um pouco porque a doença é sempre associada a adultos. Mas é preciso ver que se calhar os adultos já chegaram a um ponto tal que querem prevenir a tristeza e as preocupações que as crianças de hoje em dia sofrem... É tal qual uma transposição para os mais pequenos.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Cuidados para farmacêuticos

Sabiam que ter um estagiário até dá jeito aos farmacêuticos sénior? Segundo eles nós aparecemos com os conhecimentos muito mais frescos, e por vezes apanhamos alguns promenores interessantes.

Na semana passada fui encomendado de fazer um pequeno quadro-resumo sobre os estupefacientes que são utilizados no hospital, trabalho esse que me levou a ler os RCM de uma série de fármacos à procura de algumas informações: indicações terapêuticas, dosagens, posologias, vias de administração, etc.



Num desses medicamentos, o transdérmico de fentanilo Durogesic®, vem um extraordinário parágrafo:


Os sistemas transdérmicos usados, depois de removidos, devem ser dobrados ao meio, fazendo aderir pela parte adesiva, colocados na saqueta em que estava antes de ter sido utilizados e deverão então ser entregues na farmácia.

Isto causou polémica nos serviços farmacêuticos! Primeiro ninguém sabia disto, e depois ninguém sabia muito bem o que fazer com os sistemas usados. O mais certo é irem para inceneração!

Noutro dia, fui eu que fui surpreendido com mais um procedimento que deveria ser feito, desta vez em doentes oncológicos submetidos a quimioterapia.

Sabiam que é preconizado que as fezes e urina destes doentes deveriam ser recolhidos para posterior destruição adequada? Alguma vez pensaram que estes resíduos estão cheios de substâncias cancerígenas que vão contaminar o meio em volta? Eu pelo menos nunca tinha pensado nisto, mas a farmacêutica que me explicou isto fez uma cara bem séria, como que deveria ser uma coisa a pensar para o futuro.


Certas coisas passam-nos um pouco ao lado, é preciso estar atento a estes pequenos promenores da vida farmacêutica!

O que se aprende no estágio...


Caros leitores, estou estupefacta!

Chamem-me ingénua, chamem-me o superlativo de honesta, chamem-me tudo o que quiserem! Mas digo-vos que mesmo tendo passado por esta pequeníssima aventura e por mais que tente compreender o porquê desta situação, continuo sem conseguir perceber a necessidade de criar situações destas...

Então o que me aconteceu, e que seguramente acontece por este país fora, em todas as suas farmácia, vezes e vezes sem conta, foi algo inédito para mim (como já deu para perceber!) mas que só me pode ajudar a perceber para o que ser o estágio em farmácia comunitária. A situação é simples, uma senhora idosa (com todo o chico-espertismo ao rubro!) dirigiu-se à minha farmácia para aviar uma receita que o médico lhe passou uns dias antes. Eu verifiquei aquilo que normalmente se verifica logo: se tinha o número de beneficiário correcto, se a cor da vinheta correspondia ao que era suposto ser, se havia vinheta do médico, se a receita está assinada pelo médico, se está dentro do prazo... enfim, uma série de coisas. Mal sabia eu que a senhora, de um dos dois medicamentos que vinham receitados, tinha artisticamente transformado o 1 em 2, assim como a palavra uma em duas! Ou seja, tinha rasurado aquilo que o médico tinha escrito! E isto, em relação a um medicamento (Ben-u-ron (r)) que custa cerca de dois euros (PVP) e que depois de comparticipado fica com um custo para o utente de 0,62 euros!!!!!

Claro que eu não reparei nisto, até porque estava (e volto a salientar) artisticamente bem rasurado: a cor da tinta era igualzinha, o 1 estava meio torto originalmente, o que lhe facilitou na transformação para 2 e a palavra um do sr doutor estava uma espécie de rabisco iniciado com um "u"...
A minha colega farmacêutica que estava a fazer a conferência das receitas é que me chamou a atenção e explicou-me: 1) a gravidade da situação pois a receita poderá vir devolvida pelo Infarmed; 2) face a uma situação similar, como é que deverá ser a minha atitude. Mas rematou com uma bela frase:"É para isto que serve o estágio: para a Andrea se aperceber da quantidade de coisas para as quais tem de ter atenção!"

A mim resta-me divagar o porquê destas falcatruazinhas que parecem ao utente uma coisa sem importância mas que pode dar algumas dores-de-cabeça às farmácias e aos farmacêuticos. Resta-me também ficar um pouco desiludida com a minha honestidade e por acreditar que toda a gente é como eu, por eu nunca pensar em fazer este tipo de coisa!

You live, and you learn! Acho que não há frase mais adequada aqui.

Claro que os meus colegas minimizaram logo o meu erro e deram-me conta das vezes que isto aconteceu, dando vários exemplos com diferentes coisas: preenchimento da receita com outros medicamentos, utentes que põem as portarias para terem maior desconto - só porque o médico se esqueceu..., entre muitos outros casos mirabolantes. Basicamente o que me aconteceu, até por ser com um "mero" Ben-u-ron (r), é considerado o arroz doce das aldrabices dos utentes!

terça-feira, novembro 07, 2006

Ar quente dá cabo dos piolhos!


Ora a isto é que eu chamo uma invenção maravilhástica (tm)!!! Portanto o que havia até hoje disponível no mercado para dar cabo dos malvados piolhos que se apoderam das cabecinhas das crianças, eram essencialmente medicamentos pediculicidas que tinham a desvantagem de serem tóxicos tanto para a cabeça como para os parasitas, havendo ainda a possibilidade de existir piolhos resistentes a essas substâncias. Ainda como novidade, deu-se a entrada no mercado de um produto que asfixia o piolho, matando-o, sem qualquer tipo de tóxicos, sendo então muito mais "inócuo" para o hospedeiro. No entanto, e porque a ciência não pára, uma equipa de cientistas americanos desenvolveram um secador de cabelos especial para matar os piolhos! Este secador trabalha a uma temperatura mais baixa do que aquela que normalmente os secadores de cabelo normais, que temos em casa, trabalham. [portanto, não experimentem com esses secadores de trazer por casa porque só vão ganhar um couro cabeludo a escaldar!] A sua eficácia é devida também ao fluxo de ar mais acelerado que é criado pelo secador.
Resumindo e concluindo, ao secar o ar em volta dos piolhos e das lêndeas, estes parasitas não conseguem sobreviver sem determinada percentagem de humidade, acabando por morrer. A eficácia deste aparelho já foi testada e foi provado que erradica 70-80% dos piolhos e quase 100% das lêndeas, sendo que os parasitas sobreviventes não conseguem reproduzir-se para infestar novamente o couro cabeludo.
Ainda não está prevista a data do lançamento deste aparelho, mas até lá não se recomenda a experiência de usar o secador convencional; recomendando-se sim, a utilização das loções e champôs que se encontram no mercado.

sábado, novembro 04, 2006

Health ketchup, edição nº4

Prontos para mais um health ketchup? ;-) Sinto-me um disco riscado, por estar sempre a repetir o formato dos meus posts e também por dizer que não tenho tido tempo para postar neste blog! Mas a verdade é esta e não consigo arranjar melhor alternativa do que este formato... "ketchup"!
Então cá vão as notícias que me despertaram a curiosidade:

#1 - Há uns dias vi na Forbes um artigo que comentava um estudo de saúde pública feito para avaliar a eficácia da vacina da gripe na prevenção desta doença, nos dias que correm, em relação à população que é actualmente vacinada. O estudo assugura que nada garante que a população vacinada, que normalmente é aquela que é considerada como estando em risco (crianças 6-24 meses, idosos e doentes crónicos), esteja realmente protegida contra o vírus da gripe. É algo que para nós, estudantes de farmácia, ainda por cima por termos tido a cadeira de virologia agora no recente 5º ano, até podemos compreender. Ora vejamos, a vacina é (normalmente) feita com vírus inactivos. O vírus da gripe, Influenzae é um vírus que tem vários segmentos genómicos que facilmente comutam entre si, havendo portanto maior facilidade de se criar novas estirpes. Assim, mesmo que se vacine com um vírus da gripe inactivos que tenham pertencido a estirpes relativamente novas, nada nos garante que essa estirpe ainda seja a que infecta a maior parte da população. Sendo assim, tudo depende da estirpe que circula durante os meses de Inverno em cada ano. Deste modo, este estudo epidemiológico concluiu que, por exemplos no grupos dos idosos, estas vacinas têm uma eficácia de somente 60-70%. O que realmente se conclui neste estudo publicado no British Medical Journal, é que não há estudos suficientemente bem esclarecidos que provem a eficácia a 100% das vacinas que correntemente são alvo da atenção da população mundial que se quer prevenir contra a gripe. É realmente alarmante, especialmente quando já se fala na possibilidade da pandemia da gripe das aves.

#2 - Esta notícia é um dois em um: primeiro pela notícia em si mesmo, e depois porque refere-se a um passo de desenvolvimento de fármacos muito importante e que tem estado muito em voga - o chamados carriers. Portanto, cientistas americanos & italianos estudam a hipótese de se poder criar um contraceptivo masculino, através de um fármaco que desenvolveram - "adjudin" - e que tem como alvo as células de Sertoli, importantes na espermetogénese por permitirem a maturação dos espermatozóides. Este composto, ainda só testado em ratos, terá como mecanismo de acção promover a separação dos espermatozóides, ainda por amadurecer, das células de Sertoli, provocando infertilidade temporária. Quanto ao segundo lado desta questão, esta molécula foi associada à hormona FSH que funciona como carrier por levar pequenas doses para os testículos do rato, impedindo assim doses superiores e evitando efeitos adversos exacerbados.

#3 - Finalmente está a ser criada a hipótese de haver um teste sanguíneo de rastreio da doença de Alzheimer. Os investigadores basearam-se em diferenças de proteínas que o sangue destes doentes apresentam em relação às pessoas saudáveis (viva à proteómica!!). Embora ainda falte muito tempo até termos verdadeiramente disponível um teste deste tipo, a sua importância não pode deixar de ser referida. A doença de Alzheimer tem sido alvo de vários estudos que desenvolvem tratamentos a serem seguidos nas fases iniciais da mesma, o maior problema é conseguir fazer o diagnóstico numa fase tão inicial. É neste contexto que se insere a importância deste futuro rastreio.

#4 - No UK (Univ de Edinburgh) descobriram um gene ligado à psicose/esquizofrenia. Denominaram este gene de neuregulin (em inglês), que descobriram ter uma maior probabilidade de se encontrar em pessoas esquizofrénicas do que em pessoas sem sintomas psicóticos. Já se sabe há algum tempo que esta doença tem contributo genético em causa, mas esta é a primeira vez que se discute a existência de um gene responsável pelos distúrbios psicóticos verificados nas pessoas esquizofrénicas. De qualquer maneira resta saber em que medida o gene influencia. Ou seja, até agora sabe-se que pelos menos este gene constitui uma diferença (em termos hereditários) entre as pessoas com psicoses e aquelas sem esses sintomas. Mas mais estudos devem ser desenvolvidos para descobrir aquilo em que o gene implica, até porque só assim se perceberá melhor a doença e poderá, eventualmente, chegar a uma terapêutica cada vez mais específica.

terça-feira, outubro 31, 2006

Vacina vs. MRSA




Aqui está, mais uma tentativa para eliminar o Staphylococcus aureus!





Um passo dado por cientistas americanos pode fazer-nos chegar mais próximos de uma vacina contra o famigerado Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). Este microorganismo, bem conhecido pelas infecções nosocomiais que provoca, tem já uma longa história de resistências aos antibióticos. Relembrando um pouco a terapêutica contra este microorganismo: no caso de termos uma estirpe ainda meticilina-susceptível, é administrado ao doente uma penicilina de largo espectro, como uma amoxicilina ou uma ampicilina; para as infecções por MRSA, é utilizada a vancomicina (ou em sua substituição a teicoplanina, por exemplo, quando o doente não possui acessos venosos para uma administração IV visto que a teicoplanina pode ser administrada por IM); e no caso das estirpes resistentes à vancomicina, cá está o nosso linezolide em acção, que tem como vantagem (para além do seu largo espectro contra gram +) o facto de poder ser utilizado por via oral.

Voltando de novo à vacina, os investigadores da Universidade de Chicago pesquisaram o genoma deste microorganismo para identificar proteínas susceptíveis de originarem uma resposta imunitária, tendo identificado quatro antigénios de seus nomes IsdA, IsdB, SdrD, e SdrE. Estes antigénios foram então ensaiados num modelo animal, em concreto murganhos, e provocaram uma resposta imunitária com formação de anticorpos, com taxas de imunização entre 60 e 100% quando administrados concomitantemente.

Embora não tenha tido acesso a este artigo (ainda só ocorreu a publicação on-line, e não está disponível para todos), já há críticas ao trabalho, nomeadamente o facto importante de este estudo ter sido realizado com apenas algumas estirpes de MRSA (em particular, estirpes específicas dos EUA). Existem diversas famílias de MRSA, e dentro de cada família várias estirpes, pelo que os antigénios escolhidos deveriam ser comuns ao maior número de estirpes possível.

O linezolide, contudo, espera que este seja mais um passo para o controlo das infecções pelo Staphylococcus aureus!