sábado, setembro 30, 2006

Novidade novidade!!

Hoje dirijo-me especialmente para os meus colegas e amigos FFULianos que me vão entender imensamente quando lerem este pequenito post.

Já está disponível o novo site da FFUL!

Pois é... Tenho pena que a "casa-mãe" se decida modificar e actualizar quando eu já não posso usufruir dela ao máximo (o 6º ano será passado longe do berço)!
Começando com a história do processo de bolonha e o curriculum com mestrado integrado, passando pelo novo site da faculdade, e agora pergunto eu: "Onde é que acabará??"
Será que vou acordar um dia e vou descobrir que destruíram o "supositório" para FINALMENTE criarem o novíssimo "supositório"? Será que vamos ter direito a uma renovação do "kosovo"? Será que o bar vai deixar de fechar "impreterivelmente" às 20h? Ou será que a tarifa do estacionamento baixa? Talvez sejam postas novas câmaras de segurança do estacionamento? Lembrei-me de uma coisa, será que a D.Nini baixa os preços exclusivamente para os do 5º ano? Será que a D. Nini vai passar a ter saldos e promoções?

Enfim, mudanças....

... isto é o que me custa um bocadinho: a casa mãe deixou marcas (e das boas) e agora passo a vida a comparar tudo a "ela"!!

quinta-feira, setembro 28, 2006

Código Médico-Farmacêutico...

Pois é, quem diria que umas aulas de código da estrada resultariam num post no linezolide??
Monsieur riacrdoo anda nestes últimos tempos e andará nas próximas semanas a tirar a carta de condução. Pois não é que nestas aulas também se fala da saúde??
Isto acontece pois como sabem nas aulas de código estão sempre a relembrar (e muito bem) qual a influência na condução do consumo de álcool, de determinados medicamentos, etc. Se juntarem numa aula destas um quasi-farmacêutico com um aluno de medicina (o rapaz deve ser de Santa Maria), a instrutora de código aproveita para nos pôr a falar e tirar as suas dúvidas.
A discussão iniciou-se com a seguinte pergunta: quantos sentidos possuimos? Eu iniciei a resposta dizendo que existiam mais que os conhecidos cinco (visão, audição, etc...), pelo menos mais dois: o equilíbrio e a cinestesia, ou seja, a capacidade que temos de saber onde se encontram os nossos membros. O caro colega corrigiu-me e disse que nós possuimos apenas cinco sentidos, mas possuimos mais sensibilidades: postural, cinestésica, térmica, álgica, etc. Gostei da intervenção, que pelo menos aprendi mais qualquer coisa!
De seguida passámos para o estado psicológico do condutor: a pergunta da senhora instrutora foi "o que é uma depresão?". Ela fez esta pergunta virada para mim, mas a minha resposta foi passá-la ao colega médico, que ele é que tem que saber muito bem as doenças todas e fazer diagnósticos!!! E ele lá deu a sua explicação!
Prosseguiu-se para outra dúvida, que eu ao princípio fiquei um pouco hesitante em responder: porque é que no código se fala de subs. psicotrópicas, medicamentos e estupefacientes? A minha resposta foi a seguinte (corrijam-me se estou enganado!!!): fala-se em substâncias psicotrópicas quando se refere a qualquer substância que tenha efeitos ao nível do cérebro; quando se fala em medicamentos, eu associo rapidamente aos medicamentos que são utilizados com acções ao nível do cérebro ou que têm efeitos secundários centrais; e estupefacientes, quando se refere a substâncias que causam dependência psíquica. Correcto ou não, ninguém reclamou naquela sala...
De seguida passou a contar uma piquena história, esta sim foi a que me irritou, na qual contava que tinha ido à farmácia comprar um descongestionante nasal. Dizia ela: " Estava lá a médica da farmácia..."

MÉDICA DA FARMÁCIA?????????

Foi este o meu pensamento.

Rapidamente corrigi: "Médica não, farmacêutica!"
Resposta da instrutora: "Ah pois, eu nunca sei muito bem..."

:O

Como vêem, fiquei o resto daquela aula escandalizado.
E a pensar: será que vou ser confundido um dia destes quando estiver na farmácia?
Enfim...

segunda-feira, setembro 25, 2006

Gatos não alergénicos!


Eu tive de escrever um post sobre esta notícia!!!!
Uma maravilha do engenho humano, foi o que uma empresa californiana conseguiu fazer! Então não é que conseguiram criar um gato que não provoca alergias às pessoas??? E isto tudo apenas com cruzamentos com gatos que naturalmente não provocam as ditas alergias.
Parece que o principal responsável pelas alergias nos gatos é uma glicoproteína denominada de FEL D1, que resulta da expressão do gene Fel d1. Esta empresa limitou-se a fazer uma pesquisa de gatos que possuem alterações no gene Fel d1, e de seguida analisaram as mutações que poderiam provocar alterações nos epitopos do alergeno, de forma a que não originassem uma resposta alérgica. De seguida, procederam ao cruzamento dos gatos, planeado por um software de bioinformática. Resultado: uns kittens extraodinários que os asmáticos podem ter em casa, sem que haja problemas. Até têm um ano de garantia!!!!
O problema é mesmo o preço: cerca de $4000, ou seja, só para quem pode muito!
Os senhores da companhia sublinham que os seus gatos não resultam de manipulações genéticas, são apenas resultado de cruzamentos. E quem quiser já pode reservar o seu kitty aqui!!
E trazem o kit completo: testes de alergenos, vacinas em dia, e outras maravilhas!!!
Que giros que eles são, né? Eu quero um!!!

domingo, setembro 24, 2006

Mais um health ketchup!



Então cá vão as últimas da Saúde:

1) Antes de mais, alguém viu ontem os telejornais? ou leu os jornais? É que finalmente foi anunciado que na Europa foi concedida a autorização de venda das vacinas contra o cancro do cólo do útero(lembram-se de eu já ter falado nisto?). Mais um marco para a Saúde Pública mundial. O único problema é que estima-se que cada dose de vacinação irá custar cerca de 100 euros (e o programa completo inclui três doses). Portanto, considerando este "pequeno" custo, será pouco provável (?) que Portugal se junte aos Estados que vão tornar esta vacina obrigatória entre as raparigas com idades entre os 9-15 anos.

2) A FDA tem sido contestada ao longo dos últimos anos acerca da sua capacidade de monitorização dos medicamentos recentes no mercado, principalmente a partir do momento em que foi decidido que a comercialização do Vioxx tinha que ser anulada. A notícia é recente pois um comité do Instituto do Medicamento americano concluiu isto mesmo após um relatório feito. O que é que isto nos interessa, aqui em Portugal? Pois bem, interessa porque a FDA é considerada um pilar no que diz respeito a autoridades sobre o medicamento e tudo que a FDA conclui, o resto do Mundo ouve e segue os seus conselhos... Agora o problema é que, se concluem que a FDA não é assim tão imparcial nem tem os fundos suficientes para proceder a investigações completas para monitorizar os novos medicamentos, então já não é a coisa maravilhástica de sempre!! Leiam aqui o que se passa.

3) Outro assunto interessante é que no Reino Unido estão todos muito preocupados com a imparcialidade das instituições de caridade e solidariedade. É que, ao que consta, estas instituições recebem fundos directamente das indústrias farmacêuticas que produzem os medicamentos mais indicados para a patologia-alvo dessa instituição. Por exemplo, uma instituição que se preocupa com o cancro da mama nas doentes pelo país fora, é capaz de receber fundos da Roche, produtora do medicamento Herceptin (r), um quimioterápico do cancro da mama... Será que é assim tão mau acontecer este nível de patrocínio? Eu acho que por alguma razão isto acontece, e nas minhas suspeitas, deve ser porque de outro modo, estas instituições não conseguem acumular dinheiro para apoiar as suas actividades (e não nos podemos esquecer que muitas destas associações são patrocinadoras de alguma da investigação freelancer que se faz no âmbito dos seus interesses).

4) Mais uma má notícia para quem fuma! Para além daquilo que já todos sabemos (fumar mata, fumar aumenta o risco de cancro...), um estudo revelou a existência de ligação entre os fumadores e o risco de sofrer infecção pelo vírus da SIDA (HIV). Este estudo basicamente relaciona a potencialidade do tabaco diminuir as defesas do organismo, aumentando assim o risco (até 60%) dos fumadores contraírem o vírus e não serem capazes de o combater. No entanto, ainda há muita controvérsia pois, como devem calcular, há vários outros estudos que não relacionam estas duas variáveis desta maneira. Ou seja, ficamos na mesma? Não! Porque sabemos que fumar é realmente prejudicial à saúde. Esta relação só vem dar a possibilidade de pior conotação ao tabaco.

5) Uma esperança para os doentes de esclerose-múltipla! Estudos em ratinhos a que foi induzida esta doença, revelam que a vitamina B3 (nicotinamida) a longo prazo baixa o aparecimento da invalidez. Ou seja, a vitamina vai prolongar a actividade das fibras neuronais fazendo com que a doença não se revele tão cedo na vida do doente.

VIII Curso de Farmácia Prática

Uma vez que já acabou o curso e que o meu colega e amigo Ricardo já postou a sua opinião acerca de um tema que tem a ver com este curso, achei por bem fazer uma pequena revisão destes 5 dias de farmácia prática intensiva.

Antes de mais, tenho que informar que só fui a 50% do curso, e ainda fui contemplada com uma falta de um dos "docentes". No entanto este pequeno texto de opinião vai incidir-se sobre aquilo que eu achei acerca deste curso, mesmo sabendo que posso ter tido o azar de ter assistido aos painéis mais "chatos" e desinteressantes.

De uma maneira geral considero o saldo pouco positivo. Positivo porque o curso relembrou algumas dicas boas para o modo de aconselhar e de lidar com o público. No entanto, em termos de matéria, relembrou poucas coisas, visto que não tínhamos falado praticamente nada ou muito por alto de alguns assuntos assentes nalguns painéis. Acabando por em cada painel se limitarem a debitar conselhos, a jorrar formas farmacêuticas, onde basta lermos os slides para ficarmos com o conhecimento em causa...
Mas fiquei surpreendida com alguns comentários de alguns farmacêuticos. Lembro-me de um que me surpreendeu imensamente, onde o sr dr estava a querer explicar-nos que uma utente apareceu-lhe com uma determinada afecção e que tinha ido a uma farmácia ali perto onde lhe dispensaram o medicamento errado. O sr dr não só questionou a inteligência da utente como nos contou o que lhe disse acerca da farmácia concorrente: "Olhe, vá à farmácia perguntar se eles sabem que não podem dar isto... / se eles sabem o que é isto ... ". A meu ver estava o sr dr a violar pelo menos dois artigos do código deontológico da OF...

Capítulo VI:

Artigo 36º

Os farmacêuticos devem manter entre si um correcto relacionamento profissional, evitando atitudes contrárias ao espírito de solidariedade, lealdade e auxilio mútuo e aos valores éticos da sua profissão.

Artigo 37º

No exercício da sua actividade, o farmacêutico deve, sem prejuízo da sua independência, manter correctas relações com outros profissionais de saúde.

Na minha opinião, acho que o curso deveria mesmo ser alargado em termos de vagas, acho que não se justifica a necessidade de haver limites de vagas. Seguramente conseguem arranjar mais alguns farmacêuticos com o bichinho de ensinar (nem que sejam só umas tardes), e certamente a qualidade do curso não iria ser afectada, uma vez que a partir deste ponto a qualidade só poderá manter-se... (pior não pode ser!)
Outra coisa que me fez confusão, foi a meia hora dedicada à apresentação da Avalon Medical, onde um rapazinho representante em Portugal desta empresa de Recursos Humanos, veio cantar-nos a história da carochinha sobre emprego no Reino Unido. Primeiro questiono a necessidade de nos falarem duma coisa a que só podemos participar uma vez concluído o curso. Segundo, se estamos num curso de farmácia prática para aprender sobre determinadas afecções, doenças e afins, no que é que se enquadra este "recrutamento" em massa e desleal? A meu ver, este tipo de palestra devia ser refundida ao carácter facultativo da presença do público, e não a este carácter de "impingir" a ideia a uns estagiários com ideias sobre o mundo profissional ainda em crescimento. OK, podem dizer que foi para nós termos ideia que existe a possibilidade de trabalhar no UK, mas por favor, esta informação a seguir à discussão sobre Automedicação e antes de falarmos de Contracepção?? Nada enquadrado...

Lamento imenso só ter frequentado fisicamente metade do curso, mas pelo que vejo dos slides daquilo a que não pude assistir, acho que não há grandes perdas... O curso de farmácia prática está claramente "overrated"! As suas limitações são mais que óbvias, e o facto de muitos dos profissionais tornarem as lições quase como aulas de farmacoterapia sob pressão, torna tudo um pouco mais enlatado do que o que devia ser.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Aquilo que ninguém faz, mas que toda a gente faz, e que toda a gente sabe, mas que ninguém sabe!

Hoje vem um tema tabu nesta querida profissão: a dispensa de medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) por farmacêuticos.
Parece que aquilo que os nossos professores disseram ao longo dos cinco anos rapidamente desaparece no ar: basta umas quantas horas num curso de farmácia prática para que toda a gente aprenda que anti-histamínicos e corticosteróides são dispensados na farmácia sem pudor. Ou seja, nós inexperientes estagiários que ainda nem sequer chegámos aos balcões das farmácias, estamos já a aprender que aquilo que nos ensinaram não é bem assim.
Mas então o que falha aqui? Será que são os farmacêuticos que têm um ímpeto irresistível para ser médicos, ou antes é uma sociedade que não quer reconhecer aos farmacêuticos as suas capacidades?
É que a própria sociedade é um pouco hipócrita ao criticar este acto, pois toda a gente gosta de ir à farmácia para comprar um MSRM sem ter de ir ao médico.
Durante várias destas sessões no curso fala-se abertamente de dispensar MSRM em situações minor, visto que o farmacêutico não tem a capacidade de fazer diagnóstico de patologias mais graves.
Tudo isto gera também situações algo caricatas: fármacos com apresentações não sujeitas a receita médica mais caros que os respectivos genéricos (que são sujeitos a receita médica), ou fármacos que são bastante mais perigosos em MNSRM do que congéneros mais seguros que são MSRM (em particular, a presença de anti-histamínicos H1 de 1ª geração nas especialidades para gripe, contra as formulações mais seguras de anti-histamínicos de 3ª geração sujeitas a receita médica).
O principal benefício que a dispensa de MSRM por farmacêuticos traz é sem dúvida a escapatória às consultas do SNS, que como toda a gente sabe podem demorar alguns dias a serem marcadas, enquanto que a situação patológica mantém-se a incomodar a pessoa, senão mesmo a piorar.
Faço um pouco de mea culpa: será que os farmacêuticos têm realmente a capacidade de identificar as situações menos graves, e de as tratar com MSRM? É que também não parece ser uma boa ideia transformar a farmácia num consultório improvisado!
Pois é, alguns jovens estagiários ficam sempre um pouco confusos com estas situações com que se deparam. Espero que seja só um problema de tempo e que no estágio corra tudo bem!
(título by Li)

segunda-feira, setembro 18, 2006

O dilema da pílula

O título a este post engana. Não quero falar sobre o aborto nem da questão do referendo que já anda na boca de muita gente. Quero falar sobre o impacto da pílula do dia seguinte no planeamento familiar.
Li hoje um artigo muito interessante que explica que, ao contrário daquilo que se pudesse pensar, o fácil acesso ao medicamento contraceptivo de emergência, não implica necessariamente que a taxa de abortos baixe. O estudo é encomendado para a Escócia, e faz parte da avaliação do seu programa de saúde que visa como ponto principal o planeamento familiar.
Isto realmente faz-me pensar, porque na minha opinião sincera, sou a favor de um planeamento mais cuidado com muito mais apoios que hoje se verificam. O apoio deve ser mais racional e não deveria implicar simplesmente o fácil acesso da pílula contraceptiva (a de todos os dias e a de emergência) porque, ao que tudo indica, os jovens tendem a perceber que esse facilitismo é um escape no caso de algo correr mal e para evitar outros modos de prevenção. Aqui quando digo prevenção refiro-me à prevenção da gravidez. Sim, porque a prevenção da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DST) em princípio, será assegurada por preservativos (com os seus 99,99% de eficácia assegurada). Este estudo escocês demonstra que os jovens têm uma tendência cada vez maior de menosprezar este método de contracepção, pois vêem como métodos de resolução de uma gravidez não programada a pílula do dia seguinte e o aborto (que é legal no UK).
Acho que temos de pôr aqui os nossos olhos portugueses e avaliar bem a questão do referendo. Não estou em desacordo que se realize tal sufrágio; mas o que me faz despertar mais para este assunto é exactamente a necessidade de o compreender cada vez melhor. O problema das grávidas adolescentes não se soluciona só com o aborto legal, nem com o fácil acesso a contraceptivos. O problema está muito para além disto. Está, no meu entender, na consciencialização cívica do cidadão. É óbvio que os azares acontecem; o melhor condutor de F1 pode chegar a estrada nacional mais banal do seu país e espetar o carro numa árvore... Mas será que com a geração de uma nova vida, os azares não podem ser evitados?
O grande problema que se põe é mesmo quando se verificam números cada vez maiores de mães adolescentes solteiras - invariavelmente, os filhos terão menos condições de qualidade de vida ao nascerem nessa altura do que se nascessem quando as suas mães estivessem nos seus 20 e muitos anos. É a sociedade de hoje em dia, claro, onde a mulher para que seja independente precisa de alcançar um estatuto de respeito e conhecimento que lhe permita a independência. E isso verifica-se relacionado com o aumento das idades das mães-pela-primeira-vez.
O que eu queria mesmo chamar a atenção neste post, era que o conjunto de medidas de saúde pública funcionam para baixar o número de mães solteiras e em idade adolescente, mas vão até um certo ponto. Este certo ponto depende exactamente das desvantagens que apresentam estas medidas - porque é fácil arranjar um comprimido, ou porque é fácil ir abortar, as relações sexuais tornam-se banalizadas. E as pessoas esquecem-se que esse certo ponto implica exactamente a existência das DST.
Será que todos os frutos da promoção à utilização do preservativo decrescem em valor face a um facilitismo de acesso aos levonorgestrel e afins? (não quero dizer o mesmo do aborto, porque acho que deverá ser um choque demasiado grande para uma pessoa pensar sequer em voltar a pisar o chão do estabelecimento clínico onde o efectuou...)

sábado, setembro 16, 2006

Entradas e saídas...

Mais um ano lectivo que se inicia e mais uma vez a surpresa vai para as notas dos últimos colocados nos mais diversos cursos superiores por este país fora. Mas a surpresa maior é para a Medicina que ao contrário daquilo a que nos tem habituado, vem com uma média abaixo do "pódio dos 18 valores" (como diz o Ricardo)!
Um espanto? Na minha opinião não é um espanto coisa nenhuma! Quem estivesse atento à maneira como decorreram estes últimos exames nacionais do 12º ano, estaria à espera de médias mais baixas, que já vinham como prenúncio pela forma das médias das diferentes disciplinas de acesso à universidade (Biologia, Química, Matemática...). O que quero dizer é que este ano, com a inovação a nível dos exames nacionais, que apanhou toda a gente desprevenida (especialmente os alunos), as médias dos candidatos baixaram drasticamente para além daquela percentagemzinha que costuma acontecer com os malditos exames. Desta forma, não seria de esperar outra coisa para além das notas mais baixas nos cursos que normalmente tinham uma média mais alta.
Curiosamente, o último colocado na FFUL tem uma média razoável em comparação com a dos últimos anos, 16,35. Se bem que baixou, não deixa de ser uma inflacção provocada pela quantidade de candidatos que colocam o curso de Ciências Farmacêuticas como última opção numa festa de 5 opções para os cursos de Medicina. As vagas na FFUL continuam as 209 do costume, creio eu que é para compensar os ditos alunos aspirantes a médicos que desistem pelo curso fora... (e logo a começar no 1º ano). Mas... por falar em 209 vagas... analisemos o número que sai todos os anos da FFUL: à volta de 160 alunos! Perdemos 40 alunos para a medicina, para o desespero de não encontrar qualquer conforto na FFUL, para os anos mais díficeis (nomeadamente o 2ºano, falando ainda em termos de "antiga reforma"), para qualquer eventualidade que ocorra na vida de uma pessoa que não lhe deixe continuar os estudos... etc etc
E vendo bem a questão, será que somos poucos ou muitos? lembro-me de ler um gráfico em Saúde Pública que explicava que Portugal era o 4º país da Europa que tinha mais farmacêuticos por 1 000 habitantes (ou seriam 10 000 habitantes? ;-) )! [o 1º era a Finlândia!] Mas e as nossas saídas profissionais não estarão a esgotar? é que temos mais ou menos o mesmo número de recém-licenciados a sairem das 3 faculdades de farmácia públicas + os 60 recém-licenciados dos 3 cursos das universidades privadas (e ainda não conto com o curso de CF da Univ. do Algarve)... Só aí estão cerca de 660 novos farmacêuticos. Todos os anos!
Para mim este número torna-se preocupante.
Não digo isto porque me sinta ameaçada profissionalmente pelos restantes 659 recém-licenciados, mas acho que se torna preocupantes porque, tal como em muitas profissões, ser-se farmacêutico afinal também esgota e isso foi um ponto esquecido para muita gente (incluindo eu) que se tornou para este ramo com a mais valia das várias saídas profissionais. Dos diferentes ramos da farmácia alguns já se encontram preenchidos, como o das análises clínicas, onde a obtenção de um alvará para um novo laboratório da especialidade encontra-se dentro das coisas mais difíceis de conseguir neste país. Na indústria, considerando que o trabalho da produção por parte do farmacêutico é basicamente de supervisionamento e resolução dos problemas, coisas que requerem conhecimento e responsabilidade; considerando também que não há muitas indústrias em Portugal que PRODUZAM MESMO!, o ramo está a virar-se cada vez mais para a as áreas do marketing, dos registos de autorização no mercado, comercial... O bulk dos recém-licenciados é mesmo absorvido pela farmácia comunitária que, com todas as suas vantagens (tendo também algumas desvantagens), alicia muito mais do que o prosseguimento do percurso académico, que acaba por ser uma área cada vez menos da farmácia e mais dos licenciados em química / bioquímica / biologia...
Ou seja, mais tarde ou mais cedo vamos ouvir a frase do costume " ah, mas isto está muito mal para os farmacêuticos". Se bem que eu acho que ninguém deva ter pena daqueles com capital suficiente para abrir uma farmácia comunitária. Nem dos directores técnicos das indústrias. Nem dos catedráticos bem posicionados nas FFUL/P/C...

sábado, setembro 09, 2006

Laboratórios de Estado

Laboratórios de Estado são instituições estatais onde se pratica a ciência com dinheiros públicos. Exemplo disso é o INETI, que se define como "[O INETI é o] Laboratório de Estado do Ministério da Economia e Inovação que visa conceber, preparar e realizar actividades de Investigação, Desenvolvimento e afins dirigidas às empresas". Ou seja, o INETI disponibiliza os recursos necessários para que uma empresa se desenvolva, englobando várias áreas da ciência (como a energia, ciências do espaço, geologia, ambiente, entre outras).
O que há de novo com o INETI e outros tantos laboratórios de estado (LE) é que o Governo aprovou uma lei que reforma estes LE existentes para os reformular, integrar em novos consórcios e ainda criar novos LE. Neste âmbito, o INETI será extinto para formar um novo Parque de Ciência e Tecnologia no mesmo local.
Outra novidade é a criação de novos consórcios, um para a ciências do espaço e um para a segurança; e a continuação daqueles que já estavam previstos para os oceanos, física nuclear, riscos e ciências biologicas. Tal como diz o DN, a justificação para a criação destes grupos de ciência é:
A ideia é que estes consórcios agrupem centros de excelência, laboratórios associados e de estado, universidades e parceiros empresariais para a realização de trabalho de excelência em cada uma das grandes áreas por períodos de 10 anos.
Que o INETI será extinto, já o disse, mas fica ainda aqui a informação que serão criados dois LEs, nomeadamente o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), e o Instituto Nacional de Recursos Biológicos, sendo que este último integra dois laboratórios existentes que estudam as pescas e agricultura e ainda medicina veterinária. Outra novidade é que o Instituto de Medicina Legal também passará a ter o estatuto de LE.
Portanto, a meu ver os LE têm como parceiro principal o Estado que lhes deverá fornecer fundos para que cada LE desenvolva as suas ciências autonomamente. O Estado, no entanto, espera que consiga encontrar parceiros económicos (empresas com fundos) para sustentar os produtos intelectuais que os LE vão lançando ao longo dos 10 anos de patrocínio... Mas ao mesmo tempo pretende que pequenas e médias empresas possam usufruir mais facilmente da propriedade intelectual do Estado. (uma contradição?)
Mas o que realmente me confunde é que ali no meio do objectivo que o Estado tem para estes laboratórios, é que sejam também agrupadas as universidades. Em que posição é que as universidades vão intervir? Serão consideradas também LEs? Ou a ideia é fornecerem trabalhadores para os LEs?
Além de tudo isto, também me intriga a origem dos fundos de apoio a estes novos (e tantos!) LEs. Relativamente às universidades, e tomando como exemplo a minha experiência num laboratório de faculdade, onde se discutia pela posse de uma vareta de vidro (!), fico estupefacta que o Estado tenha decidido iniciar a sua carreira de patrocínio das ciências com vista a lucros, e não olha para as universidades primeiro.
A minha opinião é que, julgando pelo tipo de ciências que o Estado decide patrocinar, acho que estamos perante uma contratação de "cientistas / funcionários públicos" pela porta do cavalo, que devem pertencer a um conjunto de lobbies socialistas e que se apresentam actualmente sem emprego. Sim, porque que emprego há para um licenciado em física nuclear? ou em geologia? ou mesmo ciências biológicas? ou ainda ciências do espaço? (algumas destas ciências ainda têm a vertente do ensino, que se encontra mais que esgotada!)
Resumindo e concluíndo, o Estado Português mais uma vez põe a corda ao pescoço por querer ser como os outros países Europeus que têm produção intelectual de qualidade. Para sustentar umas ideias caseiras, empata dinheiros públicos. O problema é que a imitação é feita por metade, porque embora os outros estados Europeus possam patrocinar as suas ciências, o investimento é largagamente comportado por empresas privadas que têm capital (de risco) suficiente para investir. De qualquer maneira, nada se compara com o que se verifica nos USA onde mais de 60% do investimento é feito por particulares (empresas ou mecenas) e o Estado não passa dos 40% de patrocínio. E é preciso notar que nos USA, muito do investimento é mesmo feito a nível de Universidades, onde os cientistas depois podem efectivamente tornarem-se bem sucedidos e arranjarem emprego nos consórcios privados que lhes apoiaram desde sempre. Em Portugal, invariavelmente o cientista académico não passa de um acumular de títulos (mestres, PhD, pós-doc, pós-pós-doc...) e vê a sua carreira cada vez mais afunilada para aquilo que sempre fez - estudar. Tudo porque na realidade, não há mercado neste país para quem realmente é especialista em determinada coisa.
Ainda em termos económicos, não só o Governo está a pôr o pé na argola, como quero saber se os novos "funcionários públicos" vão pagar para a Segurança Social...

Em conclusão, meus caros amigos, o que falta em Portugal é visão e sobretudo, já que imitam o que os outros fazem lá fora, que imitem bem! (já dizia o Eça!...)

quinta-feira, setembro 07, 2006

Health ketchup

Cá vão as últimas da Saúde [Internacional e Nacional]:

1) Foi descoberta uma nova forma multiresistente da bactéria da tuberculose, que se denomina XDR
(extreme drug resistant) TB. Esta estirpe é classificada deste modo por apresentar resistência não só aos fármacos de primeira-linha como também a alguns de segunda-linha (que são mais agressivos, de tratamento prolongado e mais caros). Segundo a WHO (OMS) esta forma de TB tem aumentado especialmente na China, nos países da ex-URSS e na Índia.

2) A FDA finalmente aprovou o 1º coração artificial completamente implantável. É uma bomba de plástico e titânio que é produzida pela empresa Abiomed. Já testaram há mais de 5 anos, e tem vindo a ser um sucesso. Este mecanismo é suposto ser usado em doentes que estão em fase terminal e que estão demasiados fracos para receber um coração humano "novo". De qualquer maneira, é de salientar que cada um destes doentes custa a uma seguradora ou ao estado mais de um milhão de dólares no seu último semestre de vida...

3) Hoje temos direito a "estatísticas": diz o DN que os medicamentos vendidos fora das farmácias estão mais baratos 2% em Julho de 2006 em relação ao que se encontravam no mesmo mês do ano passado (dados do Infarmed). E o que é que isto quer dizer? Leiam o artigo! Mas saliento dois pontos: primeiro, quem tem os preços baixos nos medicamentos, pelos vistos, é o Modelo Continente! (mas não sei se aceitam os talões de desconto da Galp na compra destes produtos); segundo, leiam o pequeno excerto desta notícia... e vejam se descobrem algo estranho...
O paracetamol foi a substância activa mais vendida em termos de unidades e a Nicotina a mais vendida em valor, tendo o grupo farmacológico dos Analgésicos e Antipiréticos o que registou maiores vendas, com 22,3 por cento do total.

Para além do incrivelmente mau português; eu acho que se pode destacar a frase "Nicotina [foi] a mais vendida em valor", que parece querer dizer que as parafarmácias andam a vender tabaco!... ;-)

4) Nada a ver com notícias "a sério", mas estou correntemente a trabalhar numa indústria farmacêutica, e pergunto-me várias vezes:
a) porque é que no laboratório de controlo de qualidade não há um único licenciado farmacêutico a trabalhar?
b) porque é que esta indústria não tem um laboratório de R&D?
(e finalmente...)
c) porque é que eu estou a fazer o trabalho que mais ninguém quer fazer? (esta última pergunta assola-me a cabeça todos os dias às 7h da manhã...)

segunda-feira, setembro 04, 2006

Darwinismo ainda em debate!

Já não sei bem onde li isto pela primeira vez, acho que foi no Expresso deste sábado, mas de qualquer modo esta notícia tem a informação necessária.
Mesmo cerca de 150 anos após a publicação do livro "On the origin of species" por Charles Darwin, esta teoria ainda não é bem aceite por todos. Em particular, o Vaticano continua a não aceitar esta teoria, visto que o evolucionismo não reserva nenhum lugar a Deus.
Então o que é que se faz? Cria-se uma nova teoria, o "Intelligent Design" (ID), segundo a qual a vida não poderia simplesmente evoluido, mas que teria de ser um resultado de uma mente inteligente. Pretende-se mesmo prová-la cientificamente. Já há escolas americanas onde esta teoria é ensinada em alternativa ao evolucionismo de Darwin.
Mas para complicar, os apoiantes da teoria ID não falam propriamente em Deus, ao que os oponentes da teoria dizem que é apenas un maneira de remover a religião do ensino científico. O Vaticano, no entanto, mantém a sua teoria creacionista embora alguns membros da igreja parece que são apoiantes da teoria ID.
No meio desta salgalhada toda fica o resto do mundo que acredita na teoria de Darwin, e que faz o seu trabalho de investigação baseando-se no evolucionismo.
E olhem, eu no meio disto tudo fico à espera de mais desenvolvimentos!!

Depressões precoces

Tava eu no sábado no meio de uma festa familiar, quando abri a revista Única (que vem no Expresso). Vinha lá um artigo sobre a utilização de Prozac nas crianças, que recentemente tinha sido aprovada pela EMEA, e lá fui eu então à procura do comunicado da EMEA. Pois bem, a pedido dos nossos colegas profissionais de saúde ingleses, a EMEA reviu essa indicação terapêutica, mas com as seguintes resalvas:

1 - Somente após a terapia psicológica não ter funcionado;
2 - A dose inicial deve ser 10 mg e pode ser aumentada até 20 mg (nos adulto pode ir até aos 60mg, segundo o meu amigo Katzung!);
3 - E se ao fim de 9 semanas de tratamento não existirem benefícios clínicos, a terapêutica deve ser reavaliada.

Esta indicação é baseada em estudos efectuados em crianças e adolescentes, que revelaram resultados positivos. Porém, o CHMP ressalva que devem existir mais estudos sobre os efeitos ao nível do desenvolvimento sexual e comportamental, e também toxicidade testicular (a fluoxetina tem entre os seus efeitos adversos a disfunção sexual e a diminuição da líbido, segundo o Katzung). Estes estudos deveriam ser efectuados pelos detentores das AIMs, em relação ao Prozac a Eli Lilly. E para os profissionais de saúde, o CHMP recomenda a monitorização dos comportamentos suicidas.
Um detalhe muito engraçado no artigo da revista: falavam em seretonina e em fluxetina. Valia a pena dar umas liçõezinhas de farmacologia aos jornalistas de saúde, que volta e meia fazem erros de ortografia destes, quando o que têm que fazer é copiar!
Pois bem, as drogas do mundo contemporâneo estão a chegar também aos mais novos. Esperemos por resultados da utilização deste fármaco!!