terça-feira, novembro 14, 2006

Depressão nas crianças?

Uma coisa que eu acho que não passa pela cabeça de ninguém é que as crianças possam sofrer de sintomas de depressão. Parece um pouco estranho que uma criança, que normalmente vive despreocupada da vida alheia e dos problemas dos adultos, possa vir a sentir sensações que associamos a um quotidiano cheio de stress, cansaço, fadiga, problemas e mais problemas, muito trabalho... etc! Mas se pensarmos bem, e se a criança sofrer de depressão em relação a um problema que lhe afecta seriamente a sua qualidade de vida? E quando refiro qualidade de vida, falo daquilo a que lhe está intimamente ligado: a sua felicidade enquanto criança. Nestas circunstâncias, parece bastante lógico que uma criança possa sofrer de tristeza extrema como reacção a algo que lhe foi retirado e que, claramente, tem um grande significado na sua vida.

Portanto é nesta sequência que vos apresento uma notícia inglesa, que dá conta de uma menina de 4 anos que sofre de depressão por lhe ter sido negada a continuação da frequência neste ano lectivo decorrente, na escola onde ingressou no ano lectivo passado. O que lhe aconteceu, e que até já aconteceu aos meus sobrinhos (!), foi que a escola chegou ao limite de alunos e a menina já não foi a tempo de ter sido inscrita nessa escola para continuar neste ano. Toda esta situação despoletou uma polémica pois a criança (Molly Murphy) sentiu-se muito triste por ter de se separar dos seus coleguinhas. Molly revelou a sua depressão através de crises de vómitos, molhadelas nos lençóis à noite, e as habituais birras antes de ir para a escola. Claro que vão dizer, (e a minha mãe seria uma boa candidata a este pensamento) "ah, mas isso passava-lhe com uma boa psicologia familiar!" Mas aí é que está o problema! E se acontecem dois casos: 1) os pais não sabem lidar com a situação e até se sentem tão incomodados com isso que acabam por recorrer ao médico para tratar as "birras" e o comportamento invulgar; 2) os pais até sabem reagir bem à situação mas que mesmo assim a criança sinta uma tristeza maior que os obrigue a recorrer a um médico. Poderá ter sido o que aconteceu na realidade, e a decisão médica foi de adesão à terapêutica anti-depressiva.

Obviamente que a 1ª terapêutica neste caso, seria a terapêutica não-farmacológica, que se baseia essencialmente em levar a criança para a escola a que estava acostumada e numa série de exercícios de acompanhamento familiar. No entanto, o médico optou por seguir a terapêutica farmacológica com anti-depressivos. Os efeitos secundários poderão não ter sido estudados para crianças com 4 anos, uma vez que os ensaios clínicos dos medicamentos não englobaram esta faixa etária. Mas no UK os números indicam que, em 2003, 40 000 adolescentes e crianças estava a ser medicadas com anti-depressivos; apesar das associações de famílias apoiarem muito mais a terapia familiar.
Agora, na minha opinião pessoal, faz-me impressão considerar que uma criança de 4 ou 5 anos seja sujeita a terapêutica tão agressiva para o cérebro e para o organismo todo, como a terap. anti-depressiva é. Será que terá repercurssões no seu desenvolvimento psicológico? Será que a tudo que a Molly se queixe, tem de haver uma terapia farmacológica associada? Ou será que isto foi um caso onde não havia outra alternativa senão esta?
O assunto choca um pouco porque a doença é sempre associada a adultos. Mas é preciso ver que se calhar os adultos já chegaram a um ponto tal que querem prevenir a tristeza e as preocupações que as crianças de hoje em dia sofrem... É tal qual uma transposição para os mais pequenos.

3 comentários:

Anónimo disse...

e psicoterapia, não?

riacrdoo disse...

Por acaso este tema já veio à baila aqui no linezolide, num post passado sobre a revisão das indicações do Prozac. Mas segundo essa revisão, a alternativa farmacológica (neste caso apenas considerando a fluoxetina) só deveria ser tomada quando a psicoterapia não tinha resultado. E concordo com a opinião do nosso "anónimo", que sem dúvida era melhor começar com a psicoterapia!

Sophie disse...

Um tema interessante, sem dúvida...

e cada vez mais actual...

espero desenvolvimentos...

Fiquem bem**