domingo, abril 20, 2008

Degenerescência macular relacionada com a idade

Há dias no meu local de trabalho tivemos uma sessão de esclarecimento sobre um novo medicamento aprovado para a degenerescência macular relacionada com a idade (DMI).

Assim em palavras muito rápidas: o que é a DMI? Consiste numa perda de visão provocada pela degenerescência da região da retina chamada mácula. Essa degenerescência é muitas vezes provocada pela proliferação de vasos sanguíneos e deposição de colesterol (isto na versão húmida), que ao alterar a estrutura da retina levam à deterioração da visão. En savoir plus, cliquez ici
Ora, este novo medicamento de seu nome ranimizumab (cujo nome comercial é o Lucentis®) foi precisamente aprovado para esta patologia no ano passado, por procedimento centralizado a nível da EMEA. Até agora, o que se utilizava era o bevacizumab (Avastin®): ambos são fármacos anti-VEGF, o primeiro a fracção Fab de um anticorpo monoclonal, enquanto que o bevacizumab é um Ac monoclonal completo. São efectuadas injecções intravítreas de 50μL.

Interessantes são os seguintes factos: o bevacizumab não tem indicação para este tratamento (utilização off-label), mas o seu custo é virtualmente 0€, visto que se utiliza as sobras das ampolas abertas para tratamentos indicados (algumas neoplasias). Já o ranimizumab, que tem apenas esta indicação aprovada em RCM, cada ampola de 230 μL custa cerca de 2000€...
Fica-se aqui com um dilema: usar um fármaco sem indicação aprovada mas que não custa nada, ou usa-se um outro que é indicado, mas que é extremamente caro?

segunda-feira, abril 14, 2008

Tempo de Dados e Informação

Fui confrontada na farmácia por uma utente um-tanto-ou-quanto informada sobre o programa Xponent implementado pela IMS Health, em parceria com a ANF e obviamente as farmácias associadas que aceitaram a proposta da ANF.

Podem ler aqui o que se passa com este programa. [um post que explicita suficientemente bem o que se passa com este novo programa de recolha de dados]

As farmácias não ficam com a informação, pois é enviada por modem à base de dados, através da ligação de internet que a Consiste ® fornece às farmácias (farmalink ®). O retorno às farmácias por estarem a fornecer os dados é feito na forma de desconto no pagamento mensal dessa ligação de internet. Claro que o desconto só é dado se a farmácia atingir um determinado nível de informação dada, ou seja, se as leituras dos códigos de barras (nº de receita, local de prescrição e código do médico prescritor) atingirem o nível escolhido (cerca de 85%, se não me engano).

[Isto são informações completamente livres de consulta, pois a informação foi enviada para a farmácia. Como empregada e vendo-me forçada a ver o pedido por estes código no acto de facturação de uma receita, penso que a informação é mais que obrigatória para esclarecer todos os intervenientes no processo]

Voltando ao que me trouxe a este post, a utente pediu-me para não "ler" os códigos pedidos.

Apesar de saber porque me pediram para passar a inserir esses códigos, sempre me mostrei indignada e perguntei: a quem é que vai favorecer o fornecimento destes dados?

[lendo os comentários ao post que linkei ali atrás, do SaúdeSA, podemos tirar algumas elacções]

Achei por bem aceitar o pedido da utente e não li os códigos. Essencialmente porque vai ao encontro de todas as dúvidas que eu tenho acerca deste sistema de recolha de dados.

Parece-me que quem sai a ganhar é óbviamente a indústria farmacêutica, as big pharma. Estudos de mercado que saem directamente da fonte de vendas dos seus produtos - as farmácias. Penso que este projecto é somente um enhancement de projectos de recolha deste tipo de dados já existentes (não esqueçamos a principal razão de existência da IMS, que é uma multi-nacional!!)
A associação com o médico prescritor (em termos de especialidade, claro está) penso que não seja de perseguição e controlo ético da prescrição. É mais o controlo do marketing - as vendas andam a correr bem às indústrias?

Os farmacêuticos de comunitária querem-se bons vendedores - treinados no conceito de venda, é o ganha-pão e deverão ser ambiciosos por florescer nessa capacidade. Mas este programa nada se relaciona com o que se passa com a influência do farmacêutico na venda dos produtos prescritos. Assim, acredito que a única coisa com que a farmácia saia a ganhar seja mesmo o desconto de x € na conta de internet.

Talvez os médicos comecem a preocupar-se que as big pharma andem a investigar através deste programa, se eles também serão bons vendedores.

Até lá, não leio códigos até conseguir perceber melhor sobre o sistema. E vou ficar contente que os utentes se inteirem e interessem sobre estes assuntos.

quinta-feira, abril 10, 2008

A política de saúde II

Como seria de esperar, o Estado Português já voltou atrás em parte da sua actuação referente ao 3º Protocolo de Colaboração no Âmbito da Diabetes.

O Ministério da Saúde já se reuniu com ADSE e a ANF para que houvesse novo acordo a decidir o que fazer com a lacuna de comparticipação aos sub-sistemas nos dispositivos médicos para a diabetes (tiras reactivas, lancetas e agulhas). Voltou-se atrás, o organismo que se riscou do mapa a dia 1 de Abril, uma semana depois voltou ao mundo dos organismos vivos! É válido para muitos sub-sistemas mas não todos (os restantes têm de esperar mais um bocadinho...).

A portaria que altera os preços destes dispositivos médicos encontra-se aqui.

Claro que até haver esta nova "re-actualização" do protocolo que determina as comparticipações, os utentes dos sub-sistemas ficaram uma semana sem perceber muito bem o que lhes passou por cima! Inadmissível! Pois parece que brincam com as condições de saúde e necessidades das pessoas.

sexta-feira, abril 04, 2008

A política de Saúde

No dia 1 de Abril entrou em vigor o 3º e novo Protocolo de colaboração para a Diabetes Mellitus, que foi assinado entre a Apifarma, o Ministério de Saúde, a ANF e [penso] a entidade colectiva dos grossistas.

No dia 27 de Março deste ano foi estabelecido que a percentagem que os utentes pagam dos dispositivos médicos (tiras teste e lancetas) fosse reduzida para 12.5%, mantendo o Estado a sua comparticipação a 85%. [Indústria e grossista diminuem as suas margens de lucro sobre o PVP]. Os preços destes dispositivos vão baixar mesmo: vai haver atribuição de novo código de produto, correspondente a novos preços e consequentemente a aplicação de nova entidade de facturação para estes dispositivos médicos de protocolo.
Quem vai beneficiar destas alterações de preços são somente os utentes do SNS, pois os diabéticos utentes de outros sub-sistemas (como ADSE, SAMS, etc etc) deixam de usufruir directamente deste desconto. A estes utentes o Estado espera que se resolva o problema directamente entre as farmácias e os sub-sistemas que lhes comparticipam os medicamentos.

A política é obviamente de contenção de gastos em Saúde: os utentes diabéticos dos sub-sistemas tinham os dispositivos médicos pagos pelo SNS também. Acabou-se isso, tão simples quanto isso. E agora?

Agora das duas uma, ou se estabelecem protocolos (e rapidamente) entre as farmácias e esses sub-sistemas de saúde, ou então até lá estes utentes têm de pagar caixas de tiras teste e lancetas do "não protocolo" que têm preços acima daqueles praticados pelo "protocolo". Uma caixa de 25 tiras pode ficar por cerca de 35 euros. Diabéticos que precisem de fazer controlo 3 a 4 vezes ao dia, gastam 25 tiras numa semana. É preocupante!

Aqui lê-se que já se rectificou a lei com uma portaria. Mas ao que parece, ninguém [ANF] sabe do que se passa. ("qual papel?" "o papel!")

Isto parece o jogo da batata-quente!! Ninguém sabe o que se passa. Somos informados em cima da hora, temos de explicar às pessoas o que se passa e fazer-lhes entender que não podemos fazer mais nada senão cobrar-lhes o PVP dos dispositivos médicos que precisam. É desconcertante.

quarta-feira, abril 02, 2008

Mentiras? Quem nos dera!

No dia 1 de Abril (sim, este post vem tarde) houve um grande reboliço acerca do suplemento alimentar Depuralina ®. Claro que pensei que fosse a brincar, mas depois fui aqui e foi falado na televisão para alerta nacional, logo não poderia ser mentira!

Vi aqui este comentário ao sucedido e expus a minha opinião quase de seguida.

Reforço aqui o meu ponto de vista em relação aos suplementos alimentares: muito marketing, pouca informação antes da comercialização, pouco controlo.