quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Mudança de Sondagem

Cá nos encontramos no final do mês de Fevereiro, e tal como indica a periodicidade da sondagem deste blog, estamos na altura de mudar de tema!

Antes de mudar de sondagem, temos de apresentar os resultados da sondagem que agora finda!
Portanto a pergunta era:

"Há interesse em estudar fora do país?"

e as alternativas de resposta eram:

"Sim!", que obteve uns estonteantes 6 votos - 60%
"Não!", que não obteve qualquer voto
"Numas coisas sim, noutras não!", que foi resposta escolhida por 4 leitores - 40%,
sendo o total de votos 10.

É curioso constatar que ninguém (embora o número de votos seja pequeno) votou no "Não!". Estudar fora de Portugal, a meu ver, tem duas componentes essenciais a ter em conta: a experiência de estudar numa realidade diferente da portuguesa, aprendendo com as diferenças e tirar proveito destas; e aquilo que vamos fazer "lá fora" pode influenciar o nosso destino como recém-licenciados, primeiro pelo currículo e depois porque temos uma possibilidade de estudo que muito provavelmente não conseguiríamos em Portugal. Digo isto neste sentido, pois falo na qualidade de aluna que irá em programa Erasmus num futuro próximo, e foram estes dois princípios básicos que me levaram a participar no programa. Nesta lógica, o meu voto foi "Sim!" ;-) mas admito que se pensasse na vertente de fazer um ano curricular no estrangeiro, votaria na 3ª opção! Muitas vezes perde-se o ano quando se estuda lá fora, por falta de equivalências.
Claro que isto também depende da faculdade e do curso (especialmente se é "mobility-friendly").
Estudar fora do país também inclui a possibilidade de fazer o curso superior todo no estrangeiro. Será que é difícil um português licenciado no estrangeiro adaptar-se à realidade portuguesa? Claro que depende da profissão, mas será que há facilidade de adaptação = arranjar emprego?

O número de leitores que participaram na sondagem mantém-se na ordem dos 10. O intuito de tornar a sondagem mensal foi exactamente para dar maior oportunidade de aumentar o universo inquirido. No entanto, o objectivo ainda não foi alcançado.
Portanto, vamos passar à sondagem nova que permanecerá no blog durante o mês de Março. Apelo mais uma vez aos leitores para a sua participação. É óbvio que a sua participação é com o intuito de criar tema de debate e para nós, autores do blog, verificarmos se há ou não um aumento da afluência de leitores do blog. (A propósito, já chegámos às 3000 visitas!) Aproveito também para incentivar a participação sobre a forma de comentários aos posts. São todos benvindos! :-) Agradeço desde já àqueles que já comentaram e especialmente àqueles que, com alguma regularidade comentam os posts.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

HIV-1 and HSV-2, is there a link?

Saiu há dias um interessante artigo no New England Journal of Medicine (NEJM), sobre a possível influência da co-infecção peloo vírus herpes tipo 2 (HSV-2) na infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida de tipo 1 (HIV-1). Este artigo refere-se a um estudo epidemiológico realizado em África em mulheres que estavam infectadas pelos vírus HSV-2 e HIV-1.

Diversos estudos referem que indivíduos que sejam portadores do vírus herpes tinham até três vezes mais possibilidades de serem infectados pelo vírus HIV, enquanto que outros estudos referem também que a infecção por HSV-2 podia aumentar a quantidade de RNA de HIV-1 ao nível da mucosa genital. Os mecanismos que podem explicar estes dados são a afluência de linfócitos CD4+ às lesões herpéticas, ou mesmo a transactivação de genes HIV por algumas proteínas do HSV-2. Deste modo, o controlo da infecção por HSV-2 poderia ser um bom método para diminuir a incidência de casos de indivíduos infectados por HIV-1.

Este estudo experimental duplamente cego consistiu na administração a mulheres seropositivas para HIV-1 e HSV-2 de 500 mg de valaciclovir duas vezes por dia durante doze semanas. Foram definidos como parâmetros a controlar a presença, frequência e quantidade de RNA HIV-1 no sangue e na mucosa genital, e também o nível de DNA HSV-2 no sangue e a presença de úlceras genitais causadas pelo HSV-2. O grupo controlo recebeu placebo e as participantes no estudo foram aleatoriamente colocadas em cada um dos grupos.

Os principais resultados deste estudo são a diminuição da frequência de RNA HIV-2 na mucosa genital no grupo sujeito ao tratamento com valaciclovir (O.R. = 0,41), assim como uma diminuição da quantidade de RNA presente na mucosa genital. Também os níveis de RNA HIV-1 plasmáticos sofreram uma redução com o tratamento com valaciclovir. Para além disso, este estudo permitiu verificar que ao longo do tempo estes efeitos foram tornando-se cada vez maiores, ou seja, o número de episódios em que o RNA de HIV-1 foi detectado foi sendo cada vez menor, e também a quantidade detectada foi sendo cada vez menor.
Como o estudo bem refere, apesar destes resultados não terem uma implicação directa sobre o tratamento do HIV, podem melhorar a prevenção da infecção por HIV-1 (por redução da quantidade de vírus presente na mucosa genital), assim como auxiliar a acção da terapêutica anti-retroviral (visto que se obsevou uma redução nos níveis plasmáticos de RNA HIV-1).

Perguntar... para farmacêutico responder!

Desculpem-me, mas não resisti!

Aqui está uma espécie de panfleto informativo para justificar qual a razão da concretização da campanha que a ANF promove esta semana junto das farmácias associadas "Pergunte na sua farmácia". É um incentivo à população perguntar pela medicação que faz quando a compra na sua farmácia.

Ponto número um: Agora alguns tipos de medicamentos já não têm exclusividade de venda nas farmácias, o que a meu ver é um ponto particularmente importante, pois esse tipo de medicamentos são OTC, o que aumenta a probabilidade de existir auto-medicação quando um utente os compra. Visto que isto acontece, não percebo porque só existe esta campanha a nível das farmácias. Existem outros pontos, para além das farmácias, onde se vendem os mesmos medicamentos OTC que podem causar efeitos secundários e podem ter interacções medicamentosas com a medicação sujeita a receita médica que o utente já pratica! Ou os OTC não se contemplam nesta campanha?... (obviamente, é uma pergunta retórica).

Ponto número dois: Mas este acto de dispensa e comunicação verbal e não verbal de informação, não é aquilo para o qual o farmacêutico de oficina tem de estar preparado? Não foi isto que aprendi, como diz (e bem!) o tal panfleto explicativo, durante 5 anos? A formação contínua do profissional não contempla exactamente o objectivo deste se manter sempre informado? Para que este possa ser um melhor farmacêutico = = = > ser melhor prestador de informações sobre aquilo que sabe melhor - o medicamento!

Ponto número três: Porque é que a campanha só se mantém por uma semana? Numa só semana vamos melhorar as estatísticas da OMS que nos é apresentada? "(...) nos países ocidentais, as intoxicações com medicamentos estão entre a 4ª e a 6ª causa de morte (...)"

Por estas e algumas mais razões é que eu acho que esta campanha tem mais como objectivo relembrar o público quem é que realmente manda no negócio do medicamento! É que se não for isto, então acho que a ANF está a passar um atestado de estupidez aos farmacêuticos... Então somos os que mais entendemos de medicamentos e mesmo assim deixamos as pessoas comprar o que lhes apetece sem qualquer indicação sobre o medicamento que compram??? Não posso crer...

Mais uma vez peço desculpa por esta minha revolta contra a hipocrisia que eu encontro nesta campanha.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Prós piqueninos

Saiu há já algum tempo a legislação a nível europeu que regulamenta a execução de ensaios clínicos em crianças, embora o diploma só tenha entrado em vigor no dia 26 do passado mês de Janeiro.

A necessidade de regulamentar esta área prende-se com o facto de uma grande maioria dos fármacos administrados em crianças não terem sido testados nesta faixa etária. Para além disso, os ensaios clínicos realizados em crianças levantam sempre mais questões éticas do que em relação às dos ensaios realizados em adultos, pelo que a sua execução tem de ser muito bem fundamentada.
A União Europeia respondeu a esta necessidade com a criação de um comité destinado a esta área no seio da Agência Europeia do Medicamento, denominado de Comité Pediátrico (art. 4º do Regulamento (CE) Nº 1901/2006). Este comité, constituído por cinco membros do Comité para os Medicamentos de Uso Humano (CHMP), mais um elemento por cada país membro, tem como principal função analisar planos de investigação pediátrica, tendo em conta se os estudos previstos são susceptíveis de proporcionar benefícios terapêuticos significativos para a população pediátrica, ou preencham uma necessidade terapêutica (art. 6º).
Os principais incentivos dados à indústria farmacêutica para a execução de ensaios clínicos em crianças são a prorrogação do tempo de protecção de patente em mais seis meses, mesmo que os resultados obtidos nos planos de investigação pediátrica não resultem em novas indicações pediátricas mas sim em alterações ao RCM (art. 36º). No caso dos medicamentos órfãos, a exclusividade de comercialização passa de dez para doze anos (art. 37º). Para além disso, os Estados-membros poderão disponibilizar incentivos à investigação (art. 39º). Em relação a medicamentos genéricos, biológicos similares, tradicionais à base de plantas e homeopáticos, estes podem dispensar a execução de ensaios clínicos em crianças, desde que apresentem informação que justifique o seu uso em crianças (parágrafos introdutórios Nºs 11 e 20).

A Comissão Europeia prevê a utilização de um símbolo colocado na rotulagem, de forma a facilmente identificar-se um medicamento que possa ser utilizado na população pediátrica (art. 32º). Finalmente, medicamentos que já estejam no mercado com indicação para a população adulta podem manter a mesma designação comercial nos medicamentos aprovados para a população pediátrica (art. 30º).

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Orlistat como OTC - aprovado pela FDA

Uma das várias comissões formadas na FDA para avaliar as várias propostas e temas em debate que se põem nesta entidade americana reguladora de medicamentos, aprovou em Janeiro de 2006 a passagem de uma fórmula nova de orlistat para medicamento não sujeito a receita médica (nos USA, claro). No entanto, só a partir de 7 de Fevereiro de 2007 é que começou realmente a ser comercializada como tal.
Esta nova formulação, criada pela GlaxoSmithKline ® e que vai ter o nome comercial de Alli ®, tem uma dosagem mais baixa (60 mg - metade da existente no MSRM) que a formulação mais comum que conhecemos do orlistat - o famoso Xenical ® .
As razões deste medicamento passar a ingressar a lista de OTCs nos USA, acabam por se prender com o seu efeito marcado na diminuição de peso em obesos adultos. O orlistat actua por impedir a absorção de gorduras, diminuindo o aporte calório, por inibição da lipase pancreática. Sem a acção desta enzima, as gorduras não são hidrolisadas a ácidos gordos, fazendo com que estas sejam excretadas sem sofrer qualquer metabolização. É importante frisar que este tratamento só faz sentido quando há uma dieta rigorosamente bem pensada (por um médico nutricionista) como suporte de alimentação pobre em calorias e gorduras. Igualmente necessário é a existência de exercício físico regular praticado pelo doente.
A toma é sempre três vezes por dia, associando à refeição que contenha gorduras. Se a comida ingerida não conter gorduras, então a toma poderá ser omitida.
Visto por este prisma, entende-se o benefício em tornar esta molécula facilmente comercializada: sendo que a obesidade é factor de risco importante no risco cardiovascular e diabetes mellitus tipo 2.
Pelo próprio mecanismo de acção desta molécula, o que está seguramente inerente a este tratamento é a perda de absorção de alguns nutrientes (oligoelementos) que utilizam as gorduras para serem absorvidos. Neste caso, torna-se necessário associar ao tratamento um multivitamínico para compensar estas perdas.
Nem tudo são rosas! O orlistat tem efeitos secundários (como o que referi atrás) que incluem a flatulência e a esteatorreia (pela lógica da sua farmacologia). Além disso, é claramente contra-indicado em doentes diabéticos, e tem importantes interacções com medicamentos anticoagulantes e imunossupressores. Grávidas e mães em período de aleitamento também não devem tomar este medicamento.

Isto faz-me pensar em todos os suplementos alimentares que hoje em dia existem para este efeito - perda de peso. A publicidade é muito importante neste tipo de produtos, até porque depende muito dela para o seu sucesso. Esse tipo de produtos com essa finalidade, quase que poderia vender-se sozinho, se não fosse pelo vasto leque de oferta. Notei isto com a linha BioActivo ®, particularmente com o produto CLA (forte e Xtra). As pessoas começaram a questionar muito mais a sua eficácia e o modo de acção desde que o anúncio televisivo foi para o ar na tv. Senti uma necessidade em perceber melhor toda a linha e especialmente nestes produtos para o emagrecimento. Torna-se muito importante (sempre!) alertar para a importância de praticar exercício, de fazer dieta equilibrada e saudável, e lembrar que o processo de perda de peso é lento e muito progressivo. A importância do exercício físico e de fazer ou não dieta, implicava directamente no número de tomas (relativamente a estes produtos). Mas a consciêncialização é de facto o mais importante... o processo é mesmo lento e isto significa mesmo que num só mês não temos logo os melhores resultados possíveis. Claro que o orlistat é mais dirigido a utentes obesos, que acabam por reconhecer que necessitam de perder peso não só pela sua saúde mas para melhorar a sua qualidade de vida.


quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Desenvolvimentos no âmbito HIV

leiam, leiam:

aqui (em inglês)

aqui (em português)

e aqui (para quem tiver subscrição! Quem não tiver, pode ler o abstract!)



Boas notícias!

domingo, fevereiro 11, 2007

Viagra em formato OTC no dia 14 de Fevereiro...

... mas só no Reino Unido!

A cadeia de farmácias Alliance Boots estabeleceu um programa piloto para fornecer, como medicamento não sujeito a receita médica, Viagra ® a homens entre os 30 e 65 anos que sofram de disfunção eréctil. O preço ficou estabelecido em 50 libras. O que se pretende, dizem os promotores deste programa, é que se torne cada vez mais pública a existência desta condição, alegando que é bastante comum e que só um em cada dez homens que sofram de disfunção eréctil é medicado.
Não pensem que os homens simplesmente chegarão ao balcão e o farmacêutico cede o fármaco facilmente!! O protocolo estabelece que só algumas farmácias é que disponibilizar-se-ão a este serviço que consiste numa consulta privada com um médico (com direito a monitorização de tensão arterial, glicémia e colesterol) para avaliar a sua condição clínica.

A Alliance Boots também tem um serviço similar para o emagrecimento, queda de cabelo e tratamento de infecções por chlamydia.

sábado, fevereiro 10, 2007

Referendo já amanhã!

Não vou fazer um post acerca da minha opinião em relação ao referendo que se vai efectuar amanhã, dia 11 de Fevereiro. Não quero levantar ondas de conflito nem proporcionar uma discussão aqui no blog sobre este assunto. No entanto, ontem vi um panfleto do grupo d'Os Verdes a favor da opção SIM à pergunta que amanhã iremos (quem for responder à pergunta...) encontrar no papelzinho. Este panfleto causou um sentimento de confusão na minha consciência.
Passo a mostrar-vos:

O panfleto começa com uma reflexão acerca da pergunta e o grupo dá a sua opinião referindo o que está "verdadeiramente" em causa.


No outro lado do papel figura uma espécie de pré conclusão do grupo apoiante do SIM (antes da verdadeira conclusão e do verdadeiro apelo - a letras verdes):


A mim parece-me uma incoerência em termos de opinião, deixa-nos confusos. Por outro lado, há uma coerência com a forma como os outros grupos apoiantes (tanto do SIM como do NÃO) gerem a publicidade da sua ideia - 1º um comentário à pergunta, para nos lembrar de "qual a verdadeira questão que se põe", mas depois uma finalização naquilo que realmente gostam de comentar: o direito de opção, o direito à vida, se é ou não uma vida que se tira, etc etc etc...

Resumindo e concluíndo, com este tipo de gestão de opiniões e comunicações tão confusas, como é que não querem que a discussão acerca desta pergunta tão pertinente não seja ainda mais confusa? Como é que não deve haver pessoas confusas na sua resposta?
Só podemos concordar num ponto, a questão não é simples. Mas a resposta tem de o ser: ou SIM ou NÃO.

Só apelo ao voto de todos, por uma questão de participação activa na sociedade, independentemente da resposta simples que darão. :-)

ps: tenho pena de não ter conseguido arranjar um panfleto de um grupo apelador pelo NÃO. Quero frisar que escolhi este panfleto, que por mero acaso mo deram, somente para mostrar a grande confusão que se faz numa só opinião. Pelo que tenho visto pela comunicação social, os grupos do NÃO têm sido igualmente confusos. Finalmente, este meu post não se trata, portanto, de um apelo para votar NÃO!

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Dose unitária nas farmácias de oficina nos hospitais

O Jornal de Notícias notifica que hoje foi publicada a recomendação da Assembleia sobre a distribuição de medicamentos em dose unitária. Mas ainda não foi publicada a portaria que rege este acto.

Uma ideia com vista em aumentar a divulgação de medicamentos genéricos e diminuir o desperdício em medicamentos que o utente leva a mais para casa.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Mudanças na Saúde!

Caros leitores do linezolide, esta notícia que li há já alguns dias pareceu-me pertinente. Segundo dados recentemente divulgados no Canadá, e relativos à realidade canadiana, as mulheres começaram a morrer em número semelhante ao dos homens por algumas doenças do foro cardiovascular, precisamente o enfarte agudo de miocárdio e o acidente vascular cerebral. O relatório da Heart and Stroke Association of Canada refere: no caso do enfarte de miocárdio, enquanto que a mortalidade desceu para metade nos homens em 30 anos, nas mulheres desceu apenas 24%. Já em relação aos acidentes vasculares cerebrais, nos últimos 30 anos a mortalidade nas mulheres por esta doença aumentou, enquanto que nos homens diminui.

As razões que se apresentam para justificar estes dados são tanto sociais como biológicas. Argumenta-se, por exemplo, que as mulheres após um enfarte de miocárdio são menos referenciadas a um cardiologista, menos referenciadas para fazer angioplastias ou bypass cardíaco, e morrem mais no hospital após um enfarte. Mesmo depois destes tratamentos, vivem menos tempo que os homens. Outras razões apresentadas são o facto de se as mulheres forem viúvas ou tiverem alguém doente a seu cargo, irão menos vezes ao cardiologista ou não terão tempo para procurar informação sobre a doença. Importa dizer que os factores sócio-económicos são influentes na saúde e estilos de vida das mulheres, pelo que apoio governamental nesta área é considerado benéfico pelos autores do estudo.

É necessário relembrar que esta realidade pode não ser directamente extrapolada para a realidade nacional, visto que a evolução na saúde pública canadiana não foi exactamente a mesma que em Portugal nos últimos 30 anos. Porém, o Canadá é um dos países mais ricos do Mundo, e possui dos mais altos índices de desenvolvimento humano, pelo que esta tendência poderá ser seguida por outros países desonvolvidos.
Caras leitoras do linez, aprumem-se: o AVC e o enfarte, eles andem aí!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Naltrexona no tratamento da Doença de Crohn

A naltrexona é uma substância que tem sido usada no tratamento da dependência do álcool e de narcóticos, aliviando os sintomas da abstinência que estas drogas causam. É também uma molécula que tem sido estudada noutras áreas, nomeadamente como supressor do apetite, e mais recentemente, num ensaio clínico, foi demonstrada a sua capacidade de alívio dos sintomas da doença de Crohn.
Os investigadores da Penn State College of Medicine descobriram que administrando aos doentes baixas doses desta substância, monitorizando os doentes por 12 semanas e avaliando a qualidade de vida dos doentes, estes apresentavam melhoria considerável dos sintomas.
Os resultados demonstraram uma melhoria dos sintomas da doença em 89% dos doentes, enquanto que 67% dos doentes mostraram remissão à doença. Este resultado positivo deve-se a doentes tratados com naltrexona e medicamentos que normalmente são escolhidos para o tratamento desta doença (esteróides imunosupressores e corticosteróides). A reacção adversa desta nova terapia foram distúrbios detectados no sono de alguns dos doentes. De qualquer maneira, as vantagens mais evidentes, se a naltrexona se tornar um medicamento de escolha para a terapia desta doença, são os bons resultados com baixo custo e efeitos secundários menos agressivos (ao contrário dos imunosupressores).
O estudo continuará a ser financiado ($500,000) para que possam avaliar cada vez melhor os resultados deste tratamento nos doentes. Além disto, e porque não se sabe qual é o mecanismo de acção desta molécula para explicar o seu efeito, uma outra equipa tem já este objectivo de estudo.


__________


Suposições de que, com baixas doses de naltrexona (3,5 - 4 mg / dia) em doentes com esclerose múltipla, possa haver uma melhoria dos sintomas é uma discussão já activa desde 2004. O que se acredita é que esta molécula é capaz de levar à proliferação de linfócitos, o que na EM acaba por ser uma contradição (visto que é uma doença auto-imune). De qualquer modo no Reino Unido já há médicos a prescrever este fármaco em doentes de EM, mas sem recolha de dados. Ainda não existe nenhum ensaio clínico que possa levar a uma sustentação dos efeitos positivos que a naltrexona tem na EM.


Desperdício nos medicamentos

Confesso que vi este vídeo num blog excelente (publicidade! :-) ). Mas como isto me intrigou deveras, acho que não há mal nenhum em comentar o vídeo, aliás, a notícia TVI.

Ora vejam:



Vamos lá ver, há duas coisas que me chocam nesta notícia:
a) alguém no Ministério da Saúde teve um palpite de que "se calhar" as embalagens de medicamentos são grandes demais para aquilo que, em média, os utentes precisam realmente. O estudo é encomendado e os resultados mostram que, em média, "(...) disperdiçam-se 4,44€ se [o utente] aviar uma ou mais receitas de medicamentos comparticipados, de cada vez que for a farmácia (...)". As razões apontadas para justificar esta realidade são o dimensionamento das embalagens e a falta de adesão à terapêutica por parte do utente.
Quanto à falta de adesão, quem mais trabalha para isto não acontecer acaba sempre por ser o farmacêutico, que é o último elo da corrente de cuidados de saúde. Mas que mais é que podemos fazer? Acho que o descuido pela terapêutica iria manter-se mesmo se as embalagens correspondessem à duração do tratamento. Neste ponto, trata-se sempre de educação cívica e de saúde da pessoa - estou convicta que só se batalha no sentido correcto por força do diálogo e educação do doente.
Em relação às dimensões das embalagens, em apenas 4 meses de prática comunitária reparei em numerosos redimensionamentos, uns para corresponderem a um tratamento de 1 mês certinho, outros para arredondar aos 2 meses certinhos. Os antibióticos seguiram a lógica do tratamento certo, para evitar este desperdício.

O problema é quando há prescrição esporádica para resolver um problema novo e recente, que certamente desaparecerá e não terá recorrência.
Vejamos, "estou a espirrar demais, tenho o nariz entupidíssimo" -- vamos experimentar uma cetirizina, cuja caixa mais pequena é de 20 cp. Tomando um só à noite, e durante uns 3-4 dias... Sobram uns 16-17 cp! E o que é que eu faço a isto?? A indústria não produzirá embalagens de 10 ou menos cp sabendo que o nicho de mercado para esse dimensionamento é assim tão pequeno. É a realidade! Mas acho que está errado, deveria ser obrigatório pensar nestas alternativas.

Até acho que um grande mal das pessoas terem medicamentos a mais em casa, quando os acumulam por causa de tratamentos esporádicos, é que isto acaba numa utilização posterior para tratar "qualquer coisa parecida" ao que tiveram anteriormente, sem saberem se se adequa mesmo. Ou seja, naquelas pessoas que conhecem o conceito de Valormed e que tendencialmente não tomam medicamentos, há desperdício. Por outro lado, enquanto o medicamento estiver dentro do prazo de validade (*), existe possível automedicação.

Não querendo alongar-me ainda mais, queria só acrescentar que ainda me lembro do número de vezes em que o médico prescreve caixa pequena dum anti-inflamatório como a nimesulida, e a pessoa insistir comigo em que eu lhe dispense a caixa maior! Para quê se só tem de tomar isto durante 5 dias? Resposta: "ora, minha menina, para ficar lá em casa quando for preciso... Isso não é bom para as dores de cabeça??" Viva à legislação que me manda dispensar a caixa mais pequena, no caso de nada estar assinalado quanto ao tamanho; e seguir o que vem prescrito pelo médico! Acho que poupei uns bons euros a muita gente. ;-)

b) No mínimo, acho estranho que um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde seja impedido de ser divulgado pelo próprio ministro... mas viva à TVI que soube mexer-se bem para sabermos disto. ;-)



(*) Uma vez um utente divulgou que andava a tomar vitaminas cujo prazo de validade já tinha expirado há 2 anos! Claramente este senhor estava na vanguarda do não-desperdício.