sexta-feira, dezembro 15, 2006

Avanço na luta contra a osteoporose

Ora aqui está uma notícia que me intrigou primeiro de uma determinada forma, e depois, passados alguns dias, de outra forma.

Vamos por partes. A notícia que vos transmito refere-se a uma nova vertente de "combate" à osteoporose (mesmo que instalada), pois implica terapêutica génica nesta área. Até agora, os tratamentos desta doença baseavam-se na inibição dos osteoclastos (inibição da reabsorção da matriz óssea, portanto), ou então no estímulo, por parte dos osteoblastos, da formação óssea. A combinação destes tratamentos é bastante comum, para tirar partido da eficácia dos dois métodos de prevenção e combate à osteoporose (um exemplo disso é a associação de bifosfonados com colecalciferol - vitamina D3).
A inovação vem de estudos em ratos, que demonstram que a inactivação do gene Atp6v0d2 resulta em osteoclastos defeituosos e um processo melhorado de formação óssea. Os resultados traduzem-se num aumento significativo da massas óssea, e revelam a necessidade de melhor compreender a fisiologia e o metabolismo do osso (coisa para a qual já contribuiram!).

Na segunda parte deste post queria referir a minha indignação relativamente ao medicamento Protelos (r). Já tinha vendido este produto, já li o seu RCM algumas vezes, mas só esta semana é que conheci a DIM responsável por nos tirar dúvidas acerca deste produto farmacêutico. Como tal, essa senhora ensinou-nos o ranelato de estrôncio tinha exactamente as mesmas propriedades (em termos práticos e de resultados) que a experiência, acima referida neste texto. evidenciou. Diz a indústria que o produz (Servier (r)) que este medicamento é inovador por impedir a acção dos osteoclastos e favorecer ao mesmo tempo a formação da matriz óssea, tornando a balança mais pesada para o lado do crescimento ósseo. E parafraseando-os "Rebalança o turnover ósseo em favor da formação".


Agora eu pergunto, será que tem muito sentido uma terapêutica génica num momento onde este medicamento parece dominar a situação? É que as únicas precauções do Protelos são a insuficiência renal grave (por não terem feito estudos que provassem que o estrôncio se acumulasse nos rins destes doentes), e em doentes que há relativamente pouco tempo têm vindo a ser tratados para trombos sanguíneos.
É extremamente interessante esta dicotomia. Não quero parecer muito céptica em relação à terapêutica génica, mas neste caso acho que estamos perante uma situação em que essa terapêutica pode demorar tanto tempo a desenvolver, que a via de desenvolvimento de fármacos tradicionais seguramente a ultrapassará em largos anos de avanço.

3 comentários:

Anónimo disse...

De facto pareces um pouco céptica, mas acho que até é normal. Eu, no entanto, acredito que a terapia génica será o futuro, tendo por base alguns dos ensaios já realizados com os siRNAS, nomeadamente na doença degenerativa da mácula relacionada com a idade, onde já existem ensaios clinicos de Fase I. É claro que ainda há barreiras a ultrapassar, nomeadamente a possibilidade de efeitos off-target. Efeitos estes que não têm sido observados quando a administração é local e não sistémica. Neste trabalho em particular não vi qual a forma de silenciamento/inactivação do gene, mas se for mais uma possibilidade, não vejo porque não.

Paulo

Andie disse...

Interessante :-)

O meu cepticismo foi só neste caso concreto. Tens que ver que os medicamentos de terapia génica têm o seu custo muito elevado (não só em termos de produção mas principalmente pelo tempo que demorou o seu desenvolvimento). O sal de estrôncio apresenta-se como uma boa alternativa nos dias que correm, para além da alternativa que é pratica corrente na prescrição (bifosfonatos+calciferol). Nao estou a dizer não à inovação, até porque até hoje ainda não se sabem os verdadeiros efeitos secundários (que até podem ser somente de efeito a longo prazo) da toma regular do estrôncio.
O meu cepticismo prende-se mais pelo sentido prático da coisa.

Sim, concordo contigo, a terapia génica é um futuro da saúde. Ainda está para vir o verdadeiro boom nessa área.

obrigado por comentares. (tenho que agradecer, para te incentivar a comentar mais!) ;-)

Anónimo disse...

Muita das vezes pensamos que o futuro passa só pela terapia génica e pelo uso de ácidos nucleicos como vectores fármacos. Mas a quantidade de moléculas não biológicas é enorme. Muitas delas de origem natural ainda por descobrir e muitas outras irão ser obtidas por síntese. A síntese química não irá acabar, e vai acompanhar sempre os biofármacos.

Miguel