terça-feira, fevereiro 06, 2007

Desperdício nos medicamentos

Confesso que vi este vídeo num blog excelente (publicidade! :-) ). Mas como isto me intrigou deveras, acho que não há mal nenhum em comentar o vídeo, aliás, a notícia TVI.

Ora vejam:



Vamos lá ver, há duas coisas que me chocam nesta notícia:
a) alguém no Ministério da Saúde teve um palpite de que "se calhar" as embalagens de medicamentos são grandes demais para aquilo que, em média, os utentes precisam realmente. O estudo é encomendado e os resultados mostram que, em média, "(...) disperdiçam-se 4,44€ se [o utente] aviar uma ou mais receitas de medicamentos comparticipados, de cada vez que for a farmácia (...)". As razões apontadas para justificar esta realidade são o dimensionamento das embalagens e a falta de adesão à terapêutica por parte do utente.
Quanto à falta de adesão, quem mais trabalha para isto não acontecer acaba sempre por ser o farmacêutico, que é o último elo da corrente de cuidados de saúde. Mas que mais é que podemos fazer? Acho que o descuido pela terapêutica iria manter-se mesmo se as embalagens correspondessem à duração do tratamento. Neste ponto, trata-se sempre de educação cívica e de saúde da pessoa - estou convicta que só se batalha no sentido correcto por força do diálogo e educação do doente.
Em relação às dimensões das embalagens, em apenas 4 meses de prática comunitária reparei em numerosos redimensionamentos, uns para corresponderem a um tratamento de 1 mês certinho, outros para arredondar aos 2 meses certinhos. Os antibióticos seguiram a lógica do tratamento certo, para evitar este desperdício.

O problema é quando há prescrição esporádica para resolver um problema novo e recente, que certamente desaparecerá e não terá recorrência.
Vejamos, "estou a espirrar demais, tenho o nariz entupidíssimo" -- vamos experimentar uma cetirizina, cuja caixa mais pequena é de 20 cp. Tomando um só à noite, e durante uns 3-4 dias... Sobram uns 16-17 cp! E o que é que eu faço a isto?? A indústria não produzirá embalagens de 10 ou menos cp sabendo que o nicho de mercado para esse dimensionamento é assim tão pequeno. É a realidade! Mas acho que está errado, deveria ser obrigatório pensar nestas alternativas.

Até acho que um grande mal das pessoas terem medicamentos a mais em casa, quando os acumulam por causa de tratamentos esporádicos, é que isto acaba numa utilização posterior para tratar "qualquer coisa parecida" ao que tiveram anteriormente, sem saberem se se adequa mesmo. Ou seja, naquelas pessoas que conhecem o conceito de Valormed e que tendencialmente não tomam medicamentos, há desperdício. Por outro lado, enquanto o medicamento estiver dentro do prazo de validade (*), existe possível automedicação.

Não querendo alongar-me ainda mais, queria só acrescentar que ainda me lembro do número de vezes em que o médico prescreve caixa pequena dum anti-inflamatório como a nimesulida, e a pessoa insistir comigo em que eu lhe dispense a caixa maior! Para quê se só tem de tomar isto durante 5 dias? Resposta: "ora, minha menina, para ficar lá em casa quando for preciso... Isso não é bom para as dores de cabeça??" Viva à legislação que me manda dispensar a caixa mais pequena, no caso de nada estar assinalado quanto ao tamanho; e seguir o que vem prescrito pelo médico! Acho que poupei uns bons euros a muita gente. ;-)

b) No mínimo, acho estranho que um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde seja impedido de ser divulgado pelo próprio ministro... mas viva à TVI que soube mexer-se bem para sabermos disto. ;-)



(*) Uma vez um utente divulgou que andava a tomar vitaminas cujo prazo de validade já tinha expirado há 2 anos! Claramente este senhor estava na vanguarda do não-desperdício.

3 comentários:

riacrdoo disse...

"ora, minha menina, é para ficar lá em casa quando for preciso..." É o típico desejo que as pessoas têm de serem elas próprias a tratar da sua saúde. E penso que isto não seja uma situação fácil de se lidar, visto que as pessoas podem ofender-se facilmente. Daí que muitas vezes as pessoas não achem mal haver uns comprimidozinhos que sobrem nas caixas: "Da próxima vez já sei!"

Notas disse...

A quantidade de medicamentos fora do prazo que eu recebia lá na farmácia... Ficava sempre a pensar:'Como é possível as pessoas terem isto tudo lá em casa?'
Mas enfim.
Felizmente, já havia muitos utentes que diziam:'Quero a mais pequena! Senão fica para lá isso a estragar-se em casa!" Nomeadamente em relação à famosa nimesulida. Lol

Peliteiro disse...

Obrigado pela publicidade :-)