terça-feira, fevereiro 27, 2007

Perguntar... para farmacêutico responder!

Desculpem-me, mas não resisti!

Aqui está uma espécie de panfleto informativo para justificar qual a razão da concretização da campanha que a ANF promove esta semana junto das farmácias associadas "Pergunte na sua farmácia". É um incentivo à população perguntar pela medicação que faz quando a compra na sua farmácia.

Ponto número um: Agora alguns tipos de medicamentos já não têm exclusividade de venda nas farmácias, o que a meu ver é um ponto particularmente importante, pois esse tipo de medicamentos são OTC, o que aumenta a probabilidade de existir auto-medicação quando um utente os compra. Visto que isto acontece, não percebo porque só existe esta campanha a nível das farmácias. Existem outros pontos, para além das farmácias, onde se vendem os mesmos medicamentos OTC que podem causar efeitos secundários e podem ter interacções medicamentosas com a medicação sujeita a receita médica que o utente já pratica! Ou os OTC não se contemplam nesta campanha?... (obviamente, é uma pergunta retórica).

Ponto número dois: Mas este acto de dispensa e comunicação verbal e não verbal de informação, não é aquilo para o qual o farmacêutico de oficina tem de estar preparado? Não foi isto que aprendi, como diz (e bem!) o tal panfleto explicativo, durante 5 anos? A formação contínua do profissional não contempla exactamente o objectivo deste se manter sempre informado? Para que este possa ser um melhor farmacêutico = = = > ser melhor prestador de informações sobre aquilo que sabe melhor - o medicamento!

Ponto número três: Porque é que a campanha só se mantém por uma semana? Numa só semana vamos melhorar as estatísticas da OMS que nos é apresentada? "(...) nos países ocidentais, as intoxicações com medicamentos estão entre a 4ª e a 6ª causa de morte (...)"

Por estas e algumas mais razões é que eu acho que esta campanha tem mais como objectivo relembrar o público quem é que realmente manda no negócio do medicamento! É que se não for isto, então acho que a ANF está a passar um atestado de estupidez aos farmacêuticos... Então somos os que mais entendemos de medicamentos e mesmo assim deixamos as pessoas comprar o que lhes apetece sem qualquer indicação sobre o medicamento que compram??? Não posso crer...

Mais uma vez peço desculpa por esta minha revolta contra a hipocrisia que eu encontro nesta campanha.

10 comentários:

Anónimo disse...

1a- não me parece que a ANF fosse propagandear a campanha: pergunte na sua parafarmácia
1b- nas parafarmácias o farmacêutico raramente está disponível
1c - a ideia é levar as pessoas à farmácia

2-a campanha não é para farmacêuticos, é para relembrar as pessoas que podem contar com alguém sempre presente na farmácia, o farmacêutico

3-a campanha mantém-se por uma semana porque custa dinheiro. Depois, tal como antes, cabe aos sres doutores lembrarem as pessoas, pela prática profissional de excelência, e manterem actual a mensagem. Até porque se poupa muito dinheiro às pessoas e ao estado se as pessoas não forem a correr para o médico e para as urgencias ao mínimo problema de saúde.

Eu acho bem a auto-promoção da profissão, especialmente pq ainda há mta gente que nos vÊ como merceeiros que exploram minas de ouro sem fim.

Anónimo disse...

Guarda a revolta para depois. Assim que os medicamentos de dispensa exclusiva hospitalar sairem para as farmácias, para que serve o farmacêutico hospitalar? isso é o que deves pensar. E pela experiencia que eu tenho, o farmacêutico hospitalar deixa de ter sentido nos hospitais a partir desse mesmo momento. Porquê? são ratos de biblioteca que estudam muito, sabem muito, mas fazem muito pouco. Se não fossem os farmacêuticos de oficina não eramos classe nenhuma!

Andie disse...

Anónimo #1:

Se bem que eu queria comentar o teu comentário todo, resolvi só escolher aqui uma frase para comentar. Dizes tu: "Até porque se poupa muito dinheiro às pessoas e ao estado se as pessoas não forem a correr para o médico e para as urgencias ao mínimo problema de saúde."

Então recorrem onde? às farmácias! Por isso é que muita gente vai à farmácia da sua localidade pedir antibiótico para a garganta irritada. E o que é que o farmacêutico faz? Tem de avaliar o caso e saber reconhecer se deve recomendar uma ida ao médico, ou se aquilo é tratável com pastilhas ou outra coisa. Portanto, ao fim e ao cabo, a pessoa não poupa dinheiro porque segue uma das opções!
O sistema de saúde funciona mal porque o utente não tem facilidade de conseguir uma consulta. A farmácia em Portugal permite uma ligação com o utente que satisfaz essa necessidade. Mas a sua actuação quando facilita a medicalização sem diagnóstico assumido, é uma falta de informação. Por isso é que acho que é uma hipocrisia.
Esta campanha não é uma auto-promoção da profissão. Por ex, publicitar a ideia de cuidados farmacêuticos, promovendo o conceito de seguimento farmacoterapêutico junto de populações alvo, isso sim é que é auto-promoção.

riacrdoo disse...

Eu acho que esta campanha tem razão de ser, não penso que seja uma simples auto-promoção da profissão.

Muita vezes vemos anúncios nos meios de comuicação a informar as pessoas que podem pedir deteminadas informações sobre determinada doença ao seu médico de família, e sinceramete não penso que seja uma simples auto-promoção da parte dos médicos! E depois, como o anónimo #1 disse, a campanha é dirigida à população em geral, e não serve para dizer aos farmacêuticos o que eles devem fazer.

Se bem que seja o dever do farmacêutico informar os utentes/clientes da farmácia, também não vamos ser uns chatos e explicar tudinho quando as pessoas não estão interessadas (as pessoas também têm o direito de não querer ser informadas!!)

Além disso, pode ser uma maneira de informar as pessoas de como escolher uma farmácia, consoante a informação que lhes prestam em determinada farmácia. Aliás, é mesmo isso o que eu faço, quando vou à farmácia faço sempre o papel do doente que não percebe nada, e espero pelas perguntas que me fazem (ou não fazem) para avaliar a qualidade do serviço. Só descobrem o quasi-farmacêutico quando pago com o cartão MB da faculdade!! :)

Anónimo disse...

Muitas pessoas vão à farmácia pedir medicamentos por uma razão simples: hábitos de prescrição. Se de 2 em 2 meses têm um problema de saúde,infeccioso ou não, e o médico receita sempre a mesma coisa, então há a tentação de cortar custos etempo eadquirir directamente na farmácia. Ai há q alertar que é preciso um exame médico detalhado para excluir outraspatologias, ou agravamento desituaçõesde saúde. Mas a tentação existe e sempre existirá. Mas já dispensei medicamentos SRM qd vi que a pessoa n iriamesmoao médico,e tentei com base num questionário eliminar as possíveis contra-indicações e alertar que se a terapêutica de primeira linha não levasse a melhoras no espaço de x dias que consultasse omédico (quem nunca aproveitou um bocadinho de clorocil para tratar um início deconjuntivite). Acho que é a escolha do mal menor. Isto leva a 2 questões: muitos medicamentos deviam ser de indicação farmacêutica (um intermédio entre MSRM e MNSRM) e a falta de adequação do horário deconsultasmédicas. Não era muitomelhor que os CS dessem consultas a partir das 19h quenão fossemapenas as de urgência. São osidosos os que mais consomem estes recursos, é verdade, mas muitas vezes necessitam de acompanhamento por parte de filhos, sobrinhosou netos. E também estes precisam de consultas. E trabalham. E estudam. Se metade dos queentram na farmácia com receita tiveram que faltar à escola ou trabalhonão peladoença mas pelofactode necessitarem de recorrer a uma consulta, então... este país perde produtividade de uma maneira assustadora.

Andie disse...

Riacrdo, desculpa mas eu acho que prefiro que a pessoa oiça o que tenho para lhe explicar do que deixá-la sair da farmácia com medicamentos na mão sem ter tido qualquer informação, só porque estava mal-humorada naquele dia. Tenham paciência!! Algumas vezes aconteceu-me apanhar pessoas nessa condição, e mesmo assim fiz questão de lhes perguntar e informar como sempre fiz. No final do dia és tu que lidas com a tua consciência e tens de saber o que fizeste e disseste. Há responsabilidades e o acto da dispensa de medicamentos é uma responsabilidade!
E no fundo é dessa responsabilidade que esta campanha trata, a necessidade de se trabalhar bem, de sermos bons profissionais. Mas se a campanha existe, a meu ver, admitimos que existem farmacêuticos que dispensam medicamentos sem informação. Ou seja, corroboram com aquela ideia de "merceeiros" que o anónimo #1 falou no seu comentário. Eu sei que há ovelhas negras em todas as *famílias* (neste caso, profissões), e as formações contínuas acho que são uma boa arma para evitar que essas "ovelhas" se propaguem. A mentalidade dos licenciados em farmácia mudou ao longo dos anos, e hoje fala-se em cuidados farmacêuticos, uma área que numa das suas bases engloba exactamente o tema desta campanha - manter o utente bem informado acerca da sua saúde.
O primeiro comentário a este post diz:"não me parece que a ANF fosse fazer uma campanha: pergunte na sua parafarmácia". Mas aí é que está a minha revolta. Eu estou a falar do *outro* sentido desta campanha. Não digo que não é dirigida ao público - claro que vejo isso! A propaganda do que realmente se passa e se faz numa farmácia é necessária nos dias de hoje, exactamente porque existem as parafarmácias - onde o público pode recorrer para comprar também medicamentos OTC. O procedimento de dispensa desses produtos deve obrigatoriamente incluir os mesmos parâmetros! A ANF separa as águas com a mensagem desta campanha.

Anónimo disse...

claro que poupas dinheiro:

caso 1 - constipação
hipótese A: vais à farmácia, o farm vê que não é grave e dispensa-te Cêgripe, e 2 dias depois um expectorante. Gastas ... 9 euros.

hipótese B: vais ao médico, pagas 3 euros no CS, mas cm n tens tempo, vais ao particular e pagas 35 euros. ele prescreve: água do mar, paracetamol, cecrisina e ambroxol. gasto total: 50 euros.

a constipação agrava-se para infecção do tracto respiratório superior. ambos os casos têm que voltar ao médico. gastam 35 euros em consulta (ou 3 euros) e mais 25 a 30 euros em antibiótico, anti-inflamatório, DPI e um anti-histamínico.

Agora faz as contas e vÊ se não rende o aconselhamento de primeira linha do farmacêutico. Estes casos aparecem-me dia sim dia sim na farmácia, de pessoas revoltadas qd voltam do médico e se apercebem que era tratável com aconselhamento farmacêutico. Podia dar mais exemplos: dores musculares, entorses, conjuntivites, gastroenterites, e afins.

Andie disse...

Sim, concordo. Era disso que me referia quando falei que a farmácia é a ponte entre o utente e o serviço de saúde que não corresponde às exigências da população. Quando estava na farmácia, era disso que o meu dia-a-dia se tratava.
Mais uma vez volto a frisar que o que mais me levou a escrever sobre esta campanha foi a sua "segunda mensagem" que interpretei.

Eu sei que é off-topic, mas queria só pedir que os anónimos se identificassem nem que fosse com siglas ou simbolos. É só porque às tantas não sei se estou a responder ao mesmo anónimo, se a diferentes anónimos! :-) Torna-se mais fácil de referenciar os comments.
De qualquer maneira, volto a agradecer os comentários! Boa discussão que aqui se criou! Obrigado.

Anónimo disse...

Todos os anonimos menos o segundo fui eu que postei.

Ass: the lone pharmacist

Andie disse...

Optimo, obrigada! já estou mais esclarecida.