Desculpem-me, mas não resisti!
Aqui está uma espécie de panfleto informativo para justificar qual a razão da concretização da campanha que a ANF promove esta semana junto das farmácias associadas "Pergunte na sua farmácia". É um incentivo à população perguntar pela medicação que faz quando a compra na sua farmácia.
Ponto número um: Agora alguns tipos de medicamentos já não têm exclusividade de venda nas farmácias, o que a meu ver é um ponto particularmente importante, pois esse tipo de medicamentos são OTC, o que aumenta a probabilidade de existir auto-medicação quando um utente os compra. Visto que isto acontece, não percebo porque só existe esta campanha a nível das farmácias. Existem outros pontos, para além das farmácias, onde se vendem os mesmos medicamentos OTC que podem causar efeitos secundários e podem ter interacções medicamentosas com a medicação sujeita a receita médica que o utente já pratica! Ou os OTC não se contemplam nesta campanha?... (obviamente, é uma pergunta retórica).
Ponto número dois: Mas este acto de dispensa e comunicação verbal e não verbal de informação, não é aquilo para o qual o farmacêutico de oficina tem de estar preparado? Não foi isto que aprendi, como diz (e bem!) o tal panfleto explicativo, durante 5 anos? A formação contínua do profissional não contempla exactamente o objectivo deste se manter sempre informado? Para que este possa ser um melhor farmacêutico = = = > ser melhor prestador de informações sobre aquilo que sabe melhor - o medicamento!
Ponto número três: Porque é que a campanha só se mantém por uma semana? Numa só semana vamos melhorar as estatísticas da OMS que nos é apresentada? "(...) nos países ocidentais, as intoxicações com medicamentos estão entre a 4ª e a 6ª causa de morte (...)"
Por estas e algumas mais razões é que eu acho que esta campanha tem mais como objectivo relembrar o público quem é que realmente manda no negócio do medicamento! É que se não for isto, então acho que a ANF está a passar um atestado de estupidez aos farmacêuticos... Então somos os que mais entendemos de medicamentos e mesmo assim deixamos as pessoas comprar o que lhes apetece sem qualquer indicação sobre o medicamento que compram??? Não posso crer...
Mais uma vez peço desculpa por esta minha revolta contra a hipocrisia que eu encontro nesta campanha.
10 comentários:
1a- não me parece que a ANF fosse propagandear a campanha: pergunte na sua parafarmácia
1b- nas parafarmácias o farmacêutico raramente está disponível
1c - a ideia é levar as pessoas à farmácia
2-a campanha não é para farmacêuticos, é para relembrar as pessoas que podem contar com alguém sempre presente na farmácia, o farmacêutico
3-a campanha mantém-se por uma semana porque custa dinheiro. Depois, tal como antes, cabe aos sres doutores lembrarem as pessoas, pela prática profissional de excelência, e manterem actual a mensagem. Até porque se poupa muito dinheiro às pessoas e ao estado se as pessoas não forem a correr para o médico e para as urgencias ao mínimo problema de saúde.
Eu acho bem a auto-promoção da profissão, especialmente pq ainda há mta gente que nos vÊ como merceeiros que exploram minas de ouro sem fim.
Guarda a revolta para depois. Assim que os medicamentos de dispensa exclusiva hospitalar sairem para as farmácias, para que serve o farmacêutico hospitalar? isso é o que deves pensar. E pela experiencia que eu tenho, o farmacêutico hospitalar deixa de ter sentido nos hospitais a partir desse mesmo momento. Porquê? são ratos de biblioteca que estudam muito, sabem muito, mas fazem muito pouco. Se não fossem os farmacêuticos de oficina não eramos classe nenhuma!
Anónimo #1:
Se bem que eu queria comentar o teu comentário todo, resolvi só escolher aqui uma frase para comentar. Dizes tu: "Até porque se poupa muito dinheiro às pessoas e ao estado se as pessoas não forem a correr para o médico e para as urgencias ao mínimo problema de saúde."
Então recorrem onde? às farmácias! Por isso é que muita gente vai à farmácia da sua localidade pedir antibiótico para a garganta irritada. E o que é que o farmacêutico faz? Tem de avaliar o caso e saber reconhecer se deve recomendar uma ida ao médico, ou se aquilo é tratável com pastilhas ou outra coisa. Portanto, ao fim e ao cabo, a pessoa não poupa dinheiro porque segue uma das opções!
O sistema de saúde funciona mal porque o utente não tem facilidade de conseguir uma consulta. A farmácia em Portugal permite uma ligação com o utente que satisfaz essa necessidade. Mas a sua actuação quando facilita a medicalização sem diagnóstico assumido, é uma falta de informação. Por isso é que acho que é uma hipocrisia.
Esta campanha não é uma auto-promoção da profissão. Por ex, publicitar a ideia de cuidados farmacêuticos, promovendo o conceito de seguimento farmacoterapêutico junto de populações alvo, isso sim é que é auto-promoção.
Eu acho que esta campanha tem razão de ser, não penso que seja uma simples auto-promoção da profissão.
Muita vezes vemos anúncios nos meios de comuicação a informar as pessoas que podem pedir deteminadas informações sobre determinada doença ao seu médico de família, e sinceramete não penso que seja uma simples auto-promoção da parte dos médicos! E depois, como o anónimo #1 disse, a campanha é dirigida à população em geral, e não serve para dizer aos farmacêuticos o que eles devem fazer.
Se bem que seja o dever do farmacêutico informar os utentes/clientes da farmácia, também não vamos ser uns chatos e explicar tudinho quando as pessoas não estão interessadas (as pessoas também têm o direito de não querer ser informadas!!)
Além disso, pode ser uma maneira de informar as pessoas de como escolher uma farmácia, consoante a informação que lhes prestam em determinada farmácia. Aliás, é mesmo isso o que eu faço, quando vou à farmácia faço sempre o papel do doente que não percebe nada, e espero pelas perguntas que me fazem (ou não fazem) para avaliar a qualidade do serviço. Só descobrem o quasi-farmacêutico quando pago com o cartão MB da faculdade!! :)
Muitas pessoas vão à farmácia pedir medicamentos por uma razão simples: hábitos de prescrição. Se de 2 em 2 meses têm um problema de saúde,infeccioso ou não, e o médico receita sempre a mesma coisa, então há a tentação de cortar custos etempo eadquirir directamente na farmácia. Ai há q alertar que é preciso um exame médico detalhado para excluir outraspatologias, ou agravamento desituaçõesde saúde. Mas a tentação existe e sempre existirá. Mas já dispensei medicamentos SRM qd vi que a pessoa n iriamesmoao médico,e tentei com base num questionário eliminar as possíveis contra-indicações e alertar que se a terapêutica de primeira linha não levasse a melhoras no espaço de x dias que consultasse omédico (quem nunca aproveitou um bocadinho de clorocil para tratar um início deconjuntivite). Acho que é a escolha do mal menor. Isto leva a 2 questões: muitos medicamentos deviam ser de indicação farmacêutica (um intermédio entre MSRM e MNSRM) e a falta de adequação do horário deconsultasmédicas. Não era muitomelhor que os CS dessem consultas a partir das 19h quenão fossemapenas as de urgência. São osidosos os que mais consomem estes recursos, é verdade, mas muitas vezes necessitam de acompanhamento por parte de filhos, sobrinhosou netos. E também estes precisam de consultas. E trabalham. E estudam. Se metade dos queentram na farmácia com receita tiveram que faltar à escola ou trabalhonão peladoença mas pelofactode necessitarem de recorrer a uma consulta, então... este país perde produtividade de uma maneira assustadora.
Riacrdo, desculpa mas eu acho que prefiro que a pessoa oiça o que tenho para lhe explicar do que deixá-la sair da farmácia com medicamentos na mão sem ter tido qualquer informação, só porque estava mal-humorada naquele dia. Tenham paciência!! Algumas vezes aconteceu-me apanhar pessoas nessa condição, e mesmo assim fiz questão de lhes perguntar e informar como sempre fiz. No final do dia és tu que lidas com a tua consciência e tens de saber o que fizeste e disseste. Há responsabilidades e o acto da dispensa de medicamentos é uma responsabilidade!
E no fundo é dessa responsabilidade que esta campanha trata, a necessidade de se trabalhar bem, de sermos bons profissionais. Mas se a campanha existe, a meu ver, admitimos que existem farmacêuticos que dispensam medicamentos sem informação. Ou seja, corroboram com aquela ideia de "merceeiros" que o anónimo #1 falou no seu comentário. Eu sei que há ovelhas negras em todas as *famílias* (neste caso, profissões), e as formações contínuas acho que são uma boa arma para evitar que essas "ovelhas" se propaguem. A mentalidade dos licenciados em farmácia mudou ao longo dos anos, e hoje fala-se em cuidados farmacêuticos, uma área que numa das suas bases engloba exactamente o tema desta campanha - manter o utente bem informado acerca da sua saúde.
O primeiro comentário a este post diz:"não me parece que a ANF fosse fazer uma campanha: pergunte na sua parafarmácia". Mas aí é que está a minha revolta. Eu estou a falar do *outro* sentido desta campanha. Não digo que não é dirigida ao público - claro que vejo isso! A propaganda do que realmente se passa e se faz numa farmácia é necessária nos dias de hoje, exactamente porque existem as parafarmácias - onde o público pode recorrer para comprar também medicamentos OTC. O procedimento de dispensa desses produtos deve obrigatoriamente incluir os mesmos parâmetros! A ANF separa as águas com a mensagem desta campanha.
claro que poupas dinheiro:
caso 1 - constipação
hipótese A: vais à farmácia, o farm vê que não é grave e dispensa-te Cêgripe, e 2 dias depois um expectorante. Gastas ... 9 euros.
hipótese B: vais ao médico, pagas 3 euros no CS, mas cm n tens tempo, vais ao particular e pagas 35 euros. ele prescreve: água do mar, paracetamol, cecrisina e ambroxol. gasto total: 50 euros.
a constipação agrava-se para infecção do tracto respiratório superior. ambos os casos têm que voltar ao médico. gastam 35 euros em consulta (ou 3 euros) e mais 25 a 30 euros em antibiótico, anti-inflamatório, DPI e um anti-histamínico.
Agora faz as contas e vÊ se não rende o aconselhamento de primeira linha do farmacêutico. Estes casos aparecem-me dia sim dia sim na farmácia, de pessoas revoltadas qd voltam do médico e se apercebem que era tratável com aconselhamento farmacêutico. Podia dar mais exemplos: dores musculares, entorses, conjuntivites, gastroenterites, e afins.
Sim, concordo. Era disso que me referia quando falei que a farmácia é a ponte entre o utente e o serviço de saúde que não corresponde às exigências da população. Quando estava na farmácia, era disso que o meu dia-a-dia se tratava.
Mais uma vez volto a frisar que o que mais me levou a escrever sobre esta campanha foi a sua "segunda mensagem" que interpretei.
Eu sei que é off-topic, mas queria só pedir que os anónimos se identificassem nem que fosse com siglas ou simbolos. É só porque às tantas não sei se estou a responder ao mesmo anónimo, se a diferentes anónimos! :-) Torna-se mais fácil de referenciar os comments.
De qualquer maneira, volto a agradecer os comentários! Boa discussão que aqui se criou! Obrigado.
Todos os anonimos menos o segundo fui eu que postei.
Ass: the lone pharmacist
Optimo, obrigada! já estou mais esclarecida.
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