sábado, setembro 09, 2006

Laboratórios de Estado

Laboratórios de Estado são instituições estatais onde se pratica a ciência com dinheiros públicos. Exemplo disso é o INETI, que se define como "[O INETI é o] Laboratório de Estado do Ministério da Economia e Inovação que visa conceber, preparar e realizar actividades de Investigação, Desenvolvimento e afins dirigidas às empresas". Ou seja, o INETI disponibiliza os recursos necessários para que uma empresa se desenvolva, englobando várias áreas da ciência (como a energia, ciências do espaço, geologia, ambiente, entre outras).
O que há de novo com o INETI e outros tantos laboratórios de estado (LE) é que o Governo aprovou uma lei que reforma estes LE existentes para os reformular, integrar em novos consórcios e ainda criar novos LE. Neste âmbito, o INETI será extinto para formar um novo Parque de Ciência e Tecnologia no mesmo local.
Outra novidade é a criação de novos consórcios, um para a ciências do espaço e um para a segurança; e a continuação daqueles que já estavam previstos para os oceanos, física nuclear, riscos e ciências biologicas. Tal como diz o DN, a justificação para a criação destes grupos de ciência é:
A ideia é que estes consórcios agrupem centros de excelência, laboratórios associados e de estado, universidades e parceiros empresariais para a realização de trabalho de excelência em cada uma das grandes áreas por períodos de 10 anos.
Que o INETI será extinto, já o disse, mas fica ainda aqui a informação que serão criados dois LEs, nomeadamente o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), e o Instituto Nacional de Recursos Biológicos, sendo que este último integra dois laboratórios existentes que estudam as pescas e agricultura e ainda medicina veterinária. Outra novidade é que o Instituto de Medicina Legal também passará a ter o estatuto de LE.
Portanto, a meu ver os LE têm como parceiro principal o Estado que lhes deverá fornecer fundos para que cada LE desenvolva as suas ciências autonomamente. O Estado, no entanto, espera que consiga encontrar parceiros económicos (empresas com fundos) para sustentar os produtos intelectuais que os LE vão lançando ao longo dos 10 anos de patrocínio... Mas ao mesmo tempo pretende que pequenas e médias empresas possam usufruir mais facilmente da propriedade intelectual do Estado. (uma contradição?)
Mas o que realmente me confunde é que ali no meio do objectivo que o Estado tem para estes laboratórios, é que sejam também agrupadas as universidades. Em que posição é que as universidades vão intervir? Serão consideradas também LEs? Ou a ideia é fornecerem trabalhadores para os LEs?
Além de tudo isto, também me intriga a origem dos fundos de apoio a estes novos (e tantos!) LEs. Relativamente às universidades, e tomando como exemplo a minha experiência num laboratório de faculdade, onde se discutia pela posse de uma vareta de vidro (!), fico estupefacta que o Estado tenha decidido iniciar a sua carreira de patrocínio das ciências com vista a lucros, e não olha para as universidades primeiro.
A minha opinião é que, julgando pelo tipo de ciências que o Estado decide patrocinar, acho que estamos perante uma contratação de "cientistas / funcionários públicos" pela porta do cavalo, que devem pertencer a um conjunto de lobbies socialistas e que se apresentam actualmente sem emprego. Sim, porque que emprego há para um licenciado em física nuclear? ou em geologia? ou mesmo ciências biológicas? ou ainda ciências do espaço? (algumas destas ciências ainda têm a vertente do ensino, que se encontra mais que esgotada!)
Resumindo e concluíndo, o Estado Português mais uma vez põe a corda ao pescoço por querer ser como os outros países Europeus que têm produção intelectual de qualidade. Para sustentar umas ideias caseiras, empata dinheiros públicos. O problema é que a imitação é feita por metade, porque embora os outros estados Europeus possam patrocinar as suas ciências, o investimento é largagamente comportado por empresas privadas que têm capital (de risco) suficiente para investir. De qualquer maneira, nada se compara com o que se verifica nos USA onde mais de 60% do investimento é feito por particulares (empresas ou mecenas) e o Estado não passa dos 40% de patrocínio. E é preciso notar que nos USA, muito do investimento é mesmo feito a nível de Universidades, onde os cientistas depois podem efectivamente tornarem-se bem sucedidos e arranjarem emprego nos consórcios privados que lhes apoiaram desde sempre. Em Portugal, invariavelmente o cientista académico não passa de um acumular de títulos (mestres, PhD, pós-doc, pós-pós-doc...) e vê a sua carreira cada vez mais afunilada para aquilo que sempre fez - estudar. Tudo porque na realidade, não há mercado neste país para quem realmente é especialista em determinada coisa.
Ainda em termos económicos, não só o Governo está a pôr o pé na argola, como quero saber se os novos "funcionários públicos" vão pagar para a Segurança Social...

Em conclusão, meus caros amigos, o que falta em Portugal é visão e sobretudo, já que imitam o que os outros fazem lá fora, que imitem bem! (já dizia o Eça!...)

3 comentários:

riacrdoo disse...

Este post faz-me lembrar uma das conversas com um dos profs da fac sobre a avaliação dos centros de investigação da fac. A comissão avaliadora disse que o que mais faltava era investimento por empresas; a resposta da prof foi:" mas porque é que eles quererão investir aqui? Já tem os seus laboratórios equipados, não vão gastar mais dinheiro nas universidades!". Na minha sincera opinião, se alguns dos nossos profs deixassem de fazer a sua investigaçãozinha, e se também fossem muito mais aplicados na investigação que fazem, se calhar as empresas estariam mais interessadas a cooperar com as facs. Olhem para o Técnico, que o que não falta são colaborações com empresas. Se assim fizessem, deixarião de precisar dos financiamentos da FCT "como do pão para a boca"!!

Anónimo disse...

E já viram a "caldeirada" que vai ser a reformulação dos LE? Com um Parque de Ciência e Tecnologia gerido por universidades, laboratórios associados, LE etc. mais os consórcios a criar etc. Isto mais parece uma "sopa da pedra" em que se vão metendo todas as coisas que há à mão na mesma panela e depois é esperar que resulte. Ainda por cima o cozinheiro é o Mariano Gago, o que não augura nada de bom. É fantástico que decidiram extinguir uma série de LE e só agora, depois da extinção, é que vão estudar o que vão fazer com grande parte dos mesmos (sim, porque só está decidido o que vai ser feito para uma pequena parte). Não seria mais lógico pensar primeiro e concretizar depois? Esta reestruturação dos LE parece estar a ser feita por um paquiderme numa loja de procelanas.

Andie disse...

Mais uma vez começam por construir a casa pelo telhado e só depois se lembram de ver que não têm paredes!!
É o estado da propriedade intelectual em Portugal. Admiram-se que os "génios" estejam a ser exportados...