segunda-feira, setembro 18, 2006

O dilema da pílula

O título a este post engana. Não quero falar sobre o aborto nem da questão do referendo que já anda na boca de muita gente. Quero falar sobre o impacto da pílula do dia seguinte no planeamento familiar.
Li hoje um artigo muito interessante que explica que, ao contrário daquilo que se pudesse pensar, o fácil acesso ao medicamento contraceptivo de emergência, não implica necessariamente que a taxa de abortos baixe. O estudo é encomendado para a Escócia, e faz parte da avaliação do seu programa de saúde que visa como ponto principal o planeamento familiar.
Isto realmente faz-me pensar, porque na minha opinião sincera, sou a favor de um planeamento mais cuidado com muito mais apoios que hoje se verificam. O apoio deve ser mais racional e não deveria implicar simplesmente o fácil acesso da pílula contraceptiva (a de todos os dias e a de emergência) porque, ao que tudo indica, os jovens tendem a perceber que esse facilitismo é um escape no caso de algo correr mal e para evitar outros modos de prevenção. Aqui quando digo prevenção refiro-me à prevenção da gravidez. Sim, porque a prevenção da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DST) em princípio, será assegurada por preservativos (com os seus 99,99% de eficácia assegurada). Este estudo escocês demonstra que os jovens têm uma tendência cada vez maior de menosprezar este método de contracepção, pois vêem como métodos de resolução de uma gravidez não programada a pílula do dia seguinte e o aborto (que é legal no UK).
Acho que temos de pôr aqui os nossos olhos portugueses e avaliar bem a questão do referendo. Não estou em desacordo que se realize tal sufrágio; mas o que me faz despertar mais para este assunto é exactamente a necessidade de o compreender cada vez melhor. O problema das grávidas adolescentes não se soluciona só com o aborto legal, nem com o fácil acesso a contraceptivos. O problema está muito para além disto. Está, no meu entender, na consciencialização cívica do cidadão. É óbvio que os azares acontecem; o melhor condutor de F1 pode chegar a estrada nacional mais banal do seu país e espetar o carro numa árvore... Mas será que com a geração de uma nova vida, os azares não podem ser evitados?
O grande problema que se põe é mesmo quando se verificam números cada vez maiores de mães adolescentes solteiras - invariavelmente, os filhos terão menos condições de qualidade de vida ao nascerem nessa altura do que se nascessem quando as suas mães estivessem nos seus 20 e muitos anos. É a sociedade de hoje em dia, claro, onde a mulher para que seja independente precisa de alcançar um estatuto de respeito e conhecimento que lhe permita a independência. E isso verifica-se relacionado com o aumento das idades das mães-pela-primeira-vez.
O que eu queria mesmo chamar a atenção neste post, era que o conjunto de medidas de saúde pública funcionam para baixar o número de mães solteiras e em idade adolescente, mas vão até um certo ponto. Este certo ponto depende exactamente das desvantagens que apresentam estas medidas - porque é fácil arranjar um comprimido, ou porque é fácil ir abortar, as relações sexuais tornam-se banalizadas. E as pessoas esquecem-se que esse certo ponto implica exactamente a existência das DST.
Será que todos os frutos da promoção à utilização do preservativo decrescem em valor face a um facilitismo de acesso aos levonorgestrel e afins? (não quero dizer o mesmo do aborto, porque acho que deverá ser um choque demasiado grande para uma pessoa pensar sequer em voltar a pisar o chão do estabelecimento clínico onde o efectuou...)

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