sábado, setembro 16, 2006

Entradas e saídas...

Mais um ano lectivo que se inicia e mais uma vez a surpresa vai para as notas dos últimos colocados nos mais diversos cursos superiores por este país fora. Mas a surpresa maior é para a Medicina que ao contrário daquilo a que nos tem habituado, vem com uma média abaixo do "pódio dos 18 valores" (como diz o Ricardo)!
Um espanto? Na minha opinião não é um espanto coisa nenhuma! Quem estivesse atento à maneira como decorreram estes últimos exames nacionais do 12º ano, estaria à espera de médias mais baixas, que já vinham como prenúncio pela forma das médias das diferentes disciplinas de acesso à universidade (Biologia, Química, Matemática...). O que quero dizer é que este ano, com a inovação a nível dos exames nacionais, que apanhou toda a gente desprevenida (especialmente os alunos), as médias dos candidatos baixaram drasticamente para além daquela percentagemzinha que costuma acontecer com os malditos exames. Desta forma, não seria de esperar outra coisa para além das notas mais baixas nos cursos que normalmente tinham uma média mais alta.
Curiosamente, o último colocado na FFUL tem uma média razoável em comparação com a dos últimos anos, 16,35. Se bem que baixou, não deixa de ser uma inflacção provocada pela quantidade de candidatos que colocam o curso de Ciências Farmacêuticas como última opção numa festa de 5 opções para os cursos de Medicina. As vagas na FFUL continuam as 209 do costume, creio eu que é para compensar os ditos alunos aspirantes a médicos que desistem pelo curso fora... (e logo a começar no 1º ano). Mas... por falar em 209 vagas... analisemos o número que sai todos os anos da FFUL: à volta de 160 alunos! Perdemos 40 alunos para a medicina, para o desespero de não encontrar qualquer conforto na FFUL, para os anos mais díficeis (nomeadamente o 2ºano, falando ainda em termos de "antiga reforma"), para qualquer eventualidade que ocorra na vida de uma pessoa que não lhe deixe continuar os estudos... etc etc
E vendo bem a questão, será que somos poucos ou muitos? lembro-me de ler um gráfico em Saúde Pública que explicava que Portugal era o 4º país da Europa que tinha mais farmacêuticos por 1 000 habitantes (ou seriam 10 000 habitantes? ;-) )! [o 1º era a Finlândia!] Mas e as nossas saídas profissionais não estarão a esgotar? é que temos mais ou menos o mesmo número de recém-licenciados a sairem das 3 faculdades de farmácia públicas + os 60 recém-licenciados dos 3 cursos das universidades privadas (e ainda não conto com o curso de CF da Univ. do Algarve)... Só aí estão cerca de 660 novos farmacêuticos. Todos os anos!
Para mim este número torna-se preocupante.
Não digo isto porque me sinta ameaçada profissionalmente pelos restantes 659 recém-licenciados, mas acho que se torna preocupantes porque, tal como em muitas profissões, ser-se farmacêutico afinal também esgota e isso foi um ponto esquecido para muita gente (incluindo eu) que se tornou para este ramo com a mais valia das várias saídas profissionais. Dos diferentes ramos da farmácia alguns já se encontram preenchidos, como o das análises clínicas, onde a obtenção de um alvará para um novo laboratório da especialidade encontra-se dentro das coisas mais difíceis de conseguir neste país. Na indústria, considerando que o trabalho da produção por parte do farmacêutico é basicamente de supervisionamento e resolução dos problemas, coisas que requerem conhecimento e responsabilidade; considerando também que não há muitas indústrias em Portugal que PRODUZAM MESMO!, o ramo está a virar-se cada vez mais para a as áreas do marketing, dos registos de autorização no mercado, comercial... O bulk dos recém-licenciados é mesmo absorvido pela farmácia comunitária que, com todas as suas vantagens (tendo também algumas desvantagens), alicia muito mais do que o prosseguimento do percurso académico, que acaba por ser uma área cada vez menos da farmácia e mais dos licenciados em química / bioquímica / biologia...
Ou seja, mais tarde ou mais cedo vamos ouvir a frase do costume " ah, mas isto está muito mal para os farmacêuticos". Se bem que eu acho que ninguém deva ter pena daqueles com capital suficiente para abrir uma farmácia comunitária. Nem dos directores técnicos das indústrias. Nem dos catedráticos bem posicionados nas FFUL/P/C...

5 comentários:

riacrdoo disse...

Mas esta procupação já não é nova. Quando estavamos no 2º ano, lembro-me de ir à Assembleia da República (num maravilhoso dia em que tudo estava maluco por causa do caso Casa Pia), para ver a discussão de uma petição da APEF. Essa petição pedia para a AR se preocupar com o aumento das vagas em Ciências Farmacêuicas que tinha vindo a ocorrer (o Governo da altura queria aumentar as vagas nos cursos de saúde), e também pela aprovação de cursos de Ciências Farmacêuticas nas universidades privadas. Consequências? Nenhumas, abriram mais dois cursos de CF na UBI e na Universidade do Algarve. A própria prof Carla Barros, na sua saga para arranjar estágios para todos em hopitalar, queixava-se um dia numa aula de farmácia clínica: "Eu não sei o que esta gente vem fazer para farmácia, no estado em que as coisas estão...". Mais uma vez digo que a malta farmacêutica devia emancipar-se das suas preocupações em ganhar mais dinheiro, para passar a preocupar-se um pouo mais com o futuro da nossa profissão!

Andie disse...

É o choque tecnológico. Em que um dia acordas e descobres que se estiveres desempregado tão depressa não encontras lugar para trabalhar e isso é o maior choque de todos!... Será que ninguém encomendou um estudo ao estado a perguntar se daqui a 10-15 anos vamos ter farmacêuticos excedentes?
A prof Carla Barros estaria com toda a certeza a referir-se principalmente ao ramo hospitalar, que também é a 2ª coisa mais difícil de conseguir ingressar no nosso país! Começando pelo contrato a 6 meses e acabando com o ratio 2 farmacêuticos para 10 técnicos!...

Notas disse...

Exacto, completamente de acordo. Daí o meu sorriso irónico quando alguém ainda pensa que isto de ser farmacêutico é uma maravilha e me diz:"Ah, um curso muito bom. Muitas saídas, muito emprego..." Sim, pois. E o Pai Natal existe.

Andie disse...

Há dois mitos em farmácia: 1) farmácia comunitária é o mesmo que a loja de conveniência ali da esquina (vou descobrir em outubro se se passa mesmo isto!) 2) para onde quer que te vires, arranjas emprego (que vou descobrir se é mesmo assim, quando for licenciada).
;-)

Anónimo disse...

Ai, eu cá acho que é uma profissão excelente! A questão de que a farmácia é igual a uma loja de conveniência é uma realidade, nalguns casos um bocadinho mais arranjada do que algumas mercearias, mas claro, também com um movimento que em nada se compara ao do Modelo.
Por outro lado, os fabulosos salários, um jovem comecar aos 23 anos a ganhar tanto como a Dona Lurdes, com 60 anos, que vos faz a limpeza ai em casa, com a desvantagem que nas horas em que não está ninguem em vossa casa a D. Lurdes se senta em frente ao vosso sistema de cinema em casa a ver as novelas e voces tão a ali a bombar all day long, 8 horas por dia a comer coisas bem mais indigestas que o arroz de pato das quintas. Ah, e aos 40 quarenta anos se forem bons profissionais mesmo assim ainda vao ganhar cerca de metade do que a Soraia Vanessa, a vossa pedicure que com tanto desprezo voces tratam, ganha, com a vantagem que ela se ri por dentro que nem uma perdida das vossas patéticas pernas varicosas.
Mas claro, não desanimem, o trabalho não é muito sujo, o vosso guarda roupa resume-se a uma bata de inverno de manga comprida e uma de manga curta para o verão, e claro, meias de descanso, muitas meias de descanso. Mas vá, coragem rapaziada, o pior está agora a chegar.