segunda-feira, maio 26, 2008

Opiniões

Quando li hoje o boticário de província, leitura assídua especialmente desde que o adicionei ao meu google reader [sim, um momento de internet geek], o seu último post puxou-me o coração para reanimar este meu querido linezolide.

[as notícias não páram, e eu tenho tido demasiadas distracções]


Bom, resumindo e concluíndo, o que me traz a este post hoje é exactamente o re-blog deste post aqui.

E aproveito para também neste blog publicar a minha opinião em relação ao que se discute por aqueles lados...

Embora compreenda as preocupações de se realmente informar melhor a população pré-universitária acerca do que é de facto o curso de Ciências Farmacêuticas, eu devo referir dois pontos.

1º penso que a população pré-universitária de hoje está indubitavelmente mais inconsciente das decisões que tem de tomar do que em comparação à minha geração (aqueles que ingressaram à 7 anos num curso universitário). Os jovens pré-univ estão cada vez mais infantilizados. Óbvio que não podemos generalizar, mas podemos constatar isto, partindo de casos como a falta de educação cívica nas escolas secundárias que hoje em dia se verifica. Isto é um ponto importante, na minha opinião, a ser considerado. A maturidade tem um papel preponderante na escolha de um curso. Penso que uma maior informação é necessária, claro. Cada curso tem de saber vender o seu "peixe". Mas perante a imaturidade do aluno e a falta de acompanhamento cívico por parte dos pais, não compreendo como é que esperam que as gerações de hoje consigam vingar com boas escolhas na universidade, se no liceu são autênticas crianças egoístas e embirrentas?


2º Quando me candidatei à universidade, como disse anteriormente, à 7 anos atrás, lembro-me de deparar-me com os cursos de Engenharia Biomédica e/ou equivalentes tanto no IST como na FCUNL. Facilmente se via que as médias de entrada nestes cursos eram inflaccionadas. Isto porque uma percentagem (talvez a maioria) dos alunos que entravam, tinham escolhido em última opção num rol de opções onde Medicina era prevalente.
O mesmo se passou com Ciências Farmacêuticas (CF) não só no meu ano de entrada, como em anos anteriores. Talvez tenha diminuído ao longo dos anos, pois criaram-se estes curso que "diluem" as entradas de alunos em CF. Esta opinião, de que uma larga % de alunos caloiros em CF na realidade até queriam medicina, já foi aqui referida.
A minha questão é: Portugal tem uma liberalização, quanto a mim disparatada, em termos de criação de cursos universitários. São cursos que não têm qualquer reflexo no mercado de emprego! Um país tão pequeno, não só em tamanho territorial, como em visões futuras de criar oportunidades, nunca percebi como é que consegue ter tanto curso! No final, geram-se mais desempregados. OU pior, pessoas que não têm oportunidade de arranjar emprgo na sua área, pois as áreas não são assim tão versáteis, e vêem-se obrigados a acomodar-se a empregos totalmente diferentes da sua área de formação.

Apesar de tudo, em ciências farmacêuticas (ou farmácia, falando de modo mais geral), os licenciados não têm esta preocupação. Até hoje sabemos sempre que havemos de ter oportunidade de emprego nesta vasta área de farmácia.

[Ou então não! o meu caso e o de muitos que como eu não querem trabalhar nos empregos de comunitária, indústria, hospitalar ou análises, mas sim enveredar por um ramo mais científico, vêem-se preocupados com o seu futuro. Pelo menos eu estou.]

A auto-análise que os colegas que inciaram este debate fizeram é sinal de que se tem consciência desta "cogumelização" de cursos que não encaixam na realidade Portuguesa de trabalho.
Na minha opinião, e julgando por outros cursos que existiram e já deixaram de existir, acredito piamente que estas ciências analíticas e afins vão acabar por fechar. É triste afirmar isto, mas é a passividade que se observa e sempre se observou ao longo dos anos.


Outras duas coisas que queria referir muito rapidamente.

Primeiro, sinto que o comodismo [assunto aqui brevemente explorado em comments anteriores] é um "malefício" que não só depende do carácter do trabalhador como obviamente e em maior força depende do tipo de emprego. Farmácia comunitária ainda é "easy money". Cá em Portugal até nem acho que seja assim tão "easy", pois vejo os meus colegas a esfolarem-se em horários de serviços permanentes em dias úteis, fins-de-semana ou feriados, tendo como recompensa o pagamento de um salário por si bastante bom acompanhado do pagamento de horas extraordinárias. Há países na Europa onde o trabalho é das 9-5 e por hora ganha-se mais. Mas claro, estamos a falar de Portugal - uma realidade económica bem diferente.
Bom, mas comparativamente com a entrada na indústria, começar como 1º emprego em comunitária, é óbvio que o dinheiro a entrar na maior parte dos casos pode provocar algum letargismo. Mas, vejamos: estes horários extenuantes que se fazem para ganhar "bem", eventualmente cansam. A indústria oferece uma melhor alternativa, um emprego talvez mais descansado [as generalizações são inevitáveis e possivelmente incorrectas!]. Daí 7 cães a um osso quando os recém-licenciados querem ingressar na indústria à procura de um emprego menos cansativo, mas onde infelizmente na maioria das vezes lhes apresentam estágios e empregos temporários.
Resumindo, o que eu quero dizer é que comodismo estabelece-se em qualquer profissão. Basta a pessoa sentir-se pouco inclinada a mudar.

A opinião do post, fala da divulgação da actividade científica do farmacêutico.
Lembro-me de assistir a uma aula de micologia em que a professora praticamente implorava que nós, após conclusão do curso, dessemos uma olhadela ao mercado de trabalho científico. O problema a que esta professora tão preocupada nos chamava a atenção era que os lugares de ciência estavam a ser ocupados por licenciados em bioquímica, química ou biologia. Achava ela um escândalo.
Eu compreendi que, o escândalo é devido a duas simples causas: os farmacêuticos ao licenciarem-se, acham mais aliciante exercer um dos ramos da sua profissão pelo mercado do trabalho fora, do que continuar a investir no ramo académico, invariavelmente patrocinado pelo Estado [e portanto mal-pago, comparativamente com outras possibilidades de emprego]; os bioquímicos, químicos e biólogos, formam-se em maior número do que aquilo que o mercado de trabalho em Portugal consegue absorver, logo não é anormal que se expandem para áreas que não sejam directamente "suas".
O problema é que a via académica geralmente encerra-se em si mesma. Há um processo de autofagia. O aluno que se propõe a doutoramento é escolhido e após 4 anos de trabalho não tem qualquer prospecto do seu futuro. Não se formam cientistas para andarem a acumular títulos académicos (pós-doc, pós-pós-doc...). Quantas empresas cá em portugal empregam doutorados?
Para quê doutoramo-nos num ramo de investigação científica se não temos hipóteses de desenvolver as nossas capacidades liderando uma equipa de investigação, excepto em lugares proporcionados pelo Estado (institutos de investigação como o ITQB, por ex). A minha preocupação é esta. As causas são muitas: falta de empenho do Estado em incentivar financeiramente a prática da investigação científica em farmácia; falta da cultura de mecenato neste país; poucas ligações de indústrias com verdadeiras sedes de I&D por cá, e que possam estabelecer parcerias com as universidades.
Não digo que isto seja totalmente impossível de acontecer em Portugal - mas afirmo que, na nossa sociedade, estamos muito àquem daquilo que se passa na Europa (e só falo da Europa, pois estamos na UE!).

Desejo bom debate de ideias a todos! :) espero ansiosamente por novos comentários.


fartei-me de escrever.
o meu assunto preferido é o do meu penúltimo parágrafo. cada um puxa a brasa à sua sardinha... ;)

2 comentários:

Anónimo disse...

Eh pá, isto dá pano para mangas... Ou, como eu costumo dizer, para um bonito vestido comprido...

Peliteiro disse...

Andie, conto consigo para moderar, animar e divulgar o grupo Farmacêuticos

[peliteiro@gmail.com]