sexta-feira, novembro 16, 2007

O flagelo da frase "esse medicamento está em ruptura de stock"

O assunto que hoje trago para o Linezolide é um tema que traz muitas dores de cabeça a quem precisa de medicamentos, como um doente crónico, e não os há por haver ruptura de stock.

Ainda não percebi muito bem se o problema da ruptura de stock de medicamentos se prende somente com um mau cálculo por parte de quem encomenda da "casa-mãe" as quantidades a ter em Portugal, ou se estamos a falar de uma falha a nível da "casa-mãe", por exemplo, a nível de produção.

Quando falta um medicamento, existe em mim uma necessidade de perceber o que se passa com essa falta. Acho que não devo ser só eu a ter esta dúvida! :) Espero eu... Até pelo bem do utente que precisa do medicamento.

Já nem falo de faltas como a do Lorenin ®, que sinceramente até acho que a grande maioria das pessoas toma este medicamento já pela indiferença que existe em tomar esta classe de medicamentos. Falo de falhas de stock em Portugal de medicamentos que não têm muitas outras opções terapêuticas.

Outra coisa que me parece tão estranho acontecer, mas que é muito real, é o sentimento de complacência para com a maneira de resolver o assunto. Não há grande alternativa em resolver o problema, enquanto simplesmente se espera pela reposição de stock, porque muitas vezes enquanto isso, há ainda alternativas terapêuticas, como os medicamentos genéricos ou a mesma substância activa em formulações de outras marcas registadas.

Mas e quando nada disto existe? A resposta foi recentemente, no ínicio deste ano, legislada pela Deliberação 105/CA/2007. Numa das secções deste documento abre-se autonomia para que farmácias comunitárias possam colmatar esta falta com a importação directa dos medicamentos em falta, de uma farmácia de um país onde o medicamento tenha AIM aprovada (país da UE, claro está). Pode também adquirir através dos esforços de uma empresa distribuidora que tenha contactos noutros países.

É claro que fico contente que a farmácia possa ajudar mais do que podia, antes desta deliberação ser aprovada. Mas é um passar de batata-quente que se torna bastante explícito quando se interroga um laboratório representante da marca em falta.

O próprio envolvimento do Infarmed neste processo resume-se a uma eventual espreitadela aquando da próxima fiscalização. A farmácia que adquire medicamentos nesta base de "AUE-modificada", como lhe chamo, está obrigada a apresentar ao Infarmed, de 6 em 6 meses, uma listagem dos medicamentos que importou do estrangeiro, e manter a papelada exigida pela lei em ordem.

Queixo-me de duas coisas:

1) a necessidade dos laboratórios compreenderem que os medicamentos não podem faltar aos utentes que necessitam deles; mas sobretudo, que não mostrem a sua inércia quanto a este assunto, como se "enquanto há alternativas terapêuticas, nada podemos fazer!". Nem sempre é verdade, cada indivíduo tem a sua ADME, e por isso as alternativas terapêuticas até podem deixar de existir para determinado indivíduo.
Nesta situação, noto os laboratórios de mãos mais atadas do que as farmácias.

2) Em relação à última frase do ponto anterior, não acho que seja necessariamente mau que as farmácias agora tenham esta autonomia. Mas, como entidade privada, praticamente solitária em termos de movimentação no mercado de aquisição (sem ser obviamente pelos contactos do costume que são nacionais), não acham que é um passar para as farmácias uma questão que estaria obrigatoriamente mais relacionada com as indústrias (nem que seja pelo facto de estas fazerem parte de uma cadeia internacional de mercado)??
Em resposta a esta questão, acho que só prova que o multitasking do farmacêutico é aquilo com que contam quando deliberam este tipo de questões.

Por mim, fico contente, como já disse anteriormente, que haja esta liberdade de aquisição e também uma pseudo-desburocratização. Acho é triste que os responsáveis pelo problema se mantenham nos seus lugares, a admirar a celeridade dos outros que pouca experiência têm a resolver estes casos, e nada façam ou contribuam para que um utente possa ver o seu problema resolvido mais depressa.

3 comentários:

teardrop disse...

Acho que este post faz todo o sentido. Quem trabalha numa farmácia comunitária tem de lidar todos os dias com este problema. Desde o Verão que existe uma enorme quantidade de medicamentos esgotados. É problemático para os doentes e para nós, porque nada podemos fazer para remediar a situação, exceptuando indicar uma consulta médica de modo a poder proceder-se a uma alteração do medicamento.

Anónimo disse...

Em resposta às questões com que iniciaste o post, muitas vezes a "culpa" está na casa-mãe das farmacêuticas, que limitam muito a produção destinada a Portugal, mesmo que as empresas cá enviem previsões muito superiores esperadas para a procura. Mas como Portugal é dos mais pequeninos fica a ver navios...

riacrdoo disse...

Somos piqueninos mas adoramos tudo o que seja novidade da indústria farmacêutica.
Cá para os meus lados (hospital) nada é pior que ocorrer uma ruptura de stock de um medicamento sem AIM em Portugal. Resultado de más previsões ou de consumo excepcional do medicamento, são um bico de obra para resolver em tempo útil e para o doente internado não ficar sem medicação.
Mas concordo com tema geral do post: nao há nada mais desagradável para dizer a um doente do que "não temos esse medicamento diponível no momento, está esgotado!".