domingo, junho 24, 2007

Notícias do Mundo da Saúde!

Hoje trago duas notícias bastante interessantes!



Foi aprovado nos Estados Unidos pela FDA a utilização do fármaco pregabalina, comercializado sobre o nome de Lyrica®, para o tratamento da fibromialgia. Este fármaco, aprovado anteriormente para o tratamento da epilepsia, estados de ansiedade generalizados e para a dor neuropática, é um inibidor dos canais de cálcio dependentes de voltagem.
Interessante é o facto da fibromialgia não ter, concretamente, critérios de diagnóstico. Há um certo consenso em relação a uma série de sintomas, mas não há critérios claros que possam indicar se um indíviduo tem ou não fibromialgia. Muitos dos sintomas podem ser oriundos de outras patologias como a depressão, lupus eritematoso, ou deficiência em vitamina B12, pelo que penso que o diagnóstico desta doença não deva ser fácil.
E por isto mesmo ponho a minha pergunta: como é que se aprova um medicamento para uma determinada patologia, se nem é possível diagnosticá-la convenientemente?



Um outro tema, também bastante interessante tem a ver com o vírus VIH: cientistas de Seattle conseguiram construir um retrovírus que infectava os primatas à 4 milhões de anos atrás. Este vírus chamado de PERV, Pan troglodyte endogenous virus (que nome!!), foi construido a partir do genoma do chimpanzé, analisando a sua sequência genómica e por eliminação das mutações que foi sofrendo ao longo do tempo.
Posteriormente ensaiaram-no em linhas celulares humanas e de chimpanzé, e verificaram que este retrovírus era capaz de infectar apenas as células de chimpanzé. Isto porque uma proteína, a TRIM-5, que existe nos primatas torna imunes as células humanas e não as do chimpanzé.
Esta proteína é capaz de bloquear a infecção pelo vírus VIH nos chimpanzés e não nos humanos. Aparentemente, a evolução desta proteína nas duas espécies fez com que a espécie humana fosse imune a este vírus antigo, mas não ao VIH, e vice-versa no chimpanzé.
É claro que se trata ainda de um tema especulativo, mas pelo menos deixa boas ideias no ar para futuras investigações!

3 comentários:

Notas disse...

Olha do que tu foste falar...
O Pan troglodytes troglodytes (suponham que isto está em itálico), isto é, o vulgo chimpanzé já foi identificado como o reservatório natural do HIV-1. O SIVcpz que infecta esta espécie (sem, no entanto, lhe causar doença) é o 'ancestral' do HIV-1.

Quanto à TRIM-5alpha, ela existe tantos nos macacos como nos humanos, embora com sequências de aminoácidos ligeiramente diferentes.
Isto faz com que a TRIM-5alpha dos macacos consiga impedir a infecção destes pelo HIV, mas não pelo SIV.
E a TRIM-5alpha humana consegue impedir nos humanos a infecção pelo SIV mas não pelo HIV.
Nem calculas o número de estudos que têm sido feitos desde que se descobriu isto da TRIM-5alpha.

Bem, acho que me excedi aqui no comment. Sorry, mas este tema é-me particularmente querido.
Mais informações a minha revisão de conjunto está à disposição. ;)

Beijinhos*

Anónimo disse...

É muito simples, em termos clínicos interessam apenas os resultados. Não precisas de conhecer muito bem a doença, os seus preceitos, causas, mecanismos, nem de ter um diagnóstico definitivo antes de começar um tratamento. Se conheceres, e quando conheceres, e puderes fazer um diagnóstico definitivo facilmente melhor. Enquanto não, siga para a frente. Muitas vezes até são aceitáveis os pontapés à bela da farmacoterapia que vemos ao balcão. Medicamente, e especialmente nos países latinos, o melhor fármaco é o que funciona. Daí a preferência por antibióticos de última geração. Não sei se é uma atitude médica boa ou má. Tenho uma opinião, claro, mas deixo-a para outra vez. Acho é que esta atitude abre uma boa janela de oportunidade para complementar com a escola farmacêutica (muito mais regida por regras) e assim maximizar os resultados em saúde.

riacrdoo disse...

Caro the lone pharmacist:

Concordo com essa possibilidade de mesmo não conhecendo bem a doença tratar-se os sintomas. Mas aqui temos uma outra questão: temos uma entidade pública, nacional, a qual deve reger-se pelas ditas regras às quais aludiu. É que enquanto um médico decide (seja o que for) para um doente único, a FDA aprova para toda a população (doente ou potencialmente doente), e aqui sim temos de respeitar essas tais regras. As entidades reguladoras dos medicamentos devem promover o uso racional do medicamento, não é? E por aí que eu argumento: como é que se aprova um medicamento para uma doença que não é diagnosticável?