domingo, abril 22, 2007

Nova lei da propriedade das farmácias

No passado dia 19 de Abril, foi aprovada na Assembleia da República, em maioria do PS, a alteração da lei da propriedade das farmácias portuguesas. A oposição absteve-se: tanto PSD, BE, como CDS-PP; e opôs-se o PCP.

Já agora, aproveito para parafrasear o primeiro-ministro José Sócrates, tal como o Diário Digital o fez, dizendo que esta alteração porá o fim de «um regime de condicionamento reconhecidamente anacrónico que perdurou tempo demais» (em Maio de 2006).

[O PCP opôs-se? então mas a cassete do PCP não é contra o capitalismo e os monopólios?...]

E porque é que o resto da oposição se absteve? A resposta, penso eu, será a que o mesmo "jornal" adianta: "Na semana passada, toda a oposição criticou a opção do Governo por liberalizar a propriedade das farmácias através de um pedido de alteração legislativa em vez de apresentar uma proposta de lei, que permitiria um debate mais aprofundado no Parlamento."

Não se assustem! A Alliance Boots não pode vir para Portugal começar a comprar farmácias a torto e a direito!... Há um limite de quatro propriedades para a mesma entidade / pessoa.

Na minha opinião pessoal acho que a lei tinha mesmo de ser actualizada, não faz sentido manter-se uma situação como esta. Chega a ser ridiculamente contornada com pais e filhos e tios e primos cada um a ter a sua farmácia mas a formar uma espécie de "sociedade anónima familiar" onde partilham lucros & stocks! Se o negócio é bom, porque não multiplicar? É o que estes fazem!
No entanto, mais uma vez, a falta da discussão na comunidade política é sinónimo de pouco de interesse e informação sobre o assunto. O argumento máximo é sempre "contra os monopólios", "contra o lobby".
Tiraram a exclusividade da propriedade aos farmacêuticos, mas não tenho pena da classe. Do modo como vejo isto, se alargassem o sistema para ser muito facilitado o negócio e a oferta ao público, certamente haveria pessoal inteligente a comprar farmácias e a torná-las ainda mais rentáveis. Sejam eles farmacêuticos ou não. O bom negócio é bom quando funciona.
Senão vejamos um exemplo bem português, os cafés. Qualquer um abre um cafézito em Portugal. O problema é que se vendermos só bicas e pastéis de nata, mais tarde ou mais cedo há qualquer coisa que corre mal, temos de pagar uma conta maior que nos leva o budget todo do mês e já entramos no ciclo vicioso da falência.
A ciência de manter uma farmácia aberta não é para qualquer um. A facilidade de adquirir uma terá sido concedida, mas a sua gestão mantém-se e a sua evolução depende sempre de pessoas credíveis e competentes. Os farmacêuticos podem tirar cursos de gestão que os ajuda a compreender o sistema de organização e como aplicar os princípios de gestão na farmácia. Aliás, os farmacêuticos actuais proprietários já vão com um head-start incrível! Quem tiver uma farmácia, pode tratar de pensar em comprar mais uma. :-)
O produto a vender condiciona muito o sucesso do negócio, e acho que não é um chico-esperto que irá revolucionar sem mais nem menos a venda dos medicamentos - há regras a cumprir! (e os farmacêuticos DEVEM segui-las...)

Em adenda, foi também legislado (ou alterada a legislação) da venda de medicamentos ao domicílio e pela internet. Coisa que eu quero saber como é que o Governo Português resolveu. Um caso a investigar.

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Edit:
Estava a ler isto novamente e pensei: "Mas conheço umas farmácias cuja gestão é tão caótica e que revela a facilidade de manter o negóciozinho pequenino e local!" É uma contradição com a frase "A ciência de manter uma farmácia aberta não é para qualquer um".
Mas aí é que está a maravilha (na minha opinião) da facilidade de acesso à propriedade de farmácias, se fosse bem constituída, haveria uma maior concorrência, aparentemente desleal para o pequeno proprietário mas que leva a uma qualidade de serviços mais eficazes, rápidos e standardizados (que requerem seguimento de protocolos). Mas com 4 farmácias não se faz concorrência suficiente. É como ter 4 franchises de pizza-huts em Portugal inteiro!...

Continuo a achar que esta alteração só veio "oficializar" os negócios de família...


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