domingo, outubro 22, 2006

Notícias!

Notícias do mundo da saúde, há que estar atento ao que se passa à nossa volta!

1º - O Ministério da Saúde pretende que os medicamentos para algumas patologias, SIDA, Cancro, e Hepatite C, passem a ser administrados nas farmácias. Já agora, para começar, fica a dúvida se realmente querem dizer administrar ou dispensar, visto que alguns destes medicamentos são administrados por via oral, e não é necessário um profissional de saúde para os administrar.
Para este tema assenta que nem uma luva o facto de estar a estagiar no hospital! Isto porque na ambulatório da farmácia hospitalar onde estou a estagiar, os principais medicamentos que se dispensam são precisamente para estas doenças. Todos estes medicamentos são assegurados em 100% pelo SNS ou pelos subsistemas de saúde respectivos, e estão sujeitos a legislação específica, indicando quem os pode receitar e os locais onde podem ser dispensados: médicos nas consultas da especialidade, e dispensa na farmácia hospitalar.
Verdade seja dita, estes medicamentos apresentam-se quase todos em formas que são fáceis de administrar pelo prórpio doente, em particular a terapêutica anti-retroviral que é praticamente toda por via oral. Mesmo alguns medicamentos injectáveis, como os interferões, apresentam-se sob a forma de seringas pré-cheias (as chamadas "canetas") para administração sub-cutânea e que não são muito complexas de utilizar. Contudo, a principal vantagem é precisamente o controlo que se tem sobre a terapêutica do doente, em particular a terapêutica anti-retrovial. Isto porque há doentes que não fazem correctamente a terapêutica, e assim que uma destas situações é detectada, é enviada para os grupos de adesão à terapêutica. São terapêuticas bastante caras, pagas por todos os contribuintes e se um doente não a faz correctamente mais vale não a fazer de todo. Numa farmácia comunitária o doente sempre pode ir à farmácia seguinte para lhe dispensarem o medicamento em questão, não havendo por isso um controlo tão eficaz, mesmo considerando a existência da tal folha individual do doente (que ficaremos à espera de perceber como é que será feita).
Para além disso, estas terapêuticas são todas muito caras, pelo que representam um grande investimento da farmácia em stocks. E ainda ficamos por saber se à passagem destes fármacos para a farmácia comunitária, corresponde uma descomparticipação dos medicamentos. Se estas terapêuticas (em particular a anti-retroviral) já são complicadas e susceptíveis à não adesão, o pagamento de uma parte do medicamento pode muito bem fomentar a não adesão à terapêutica.

2º - O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos propôs um pacto na saúde entre médicos, enfermeiros, farmacêuticos e partidos políticos. O objectivo é:
apaziguar a instabilidade que se vive na saúde provocada pelas medidas tomadas pelo ministro da saúde

(Este detalhe da instabilidade gerada pelo ministro é delicioso!!).

O nosso ministro da saúde disse que a ideia era interessante, mas ingénua! Uma ideia interessante mas ingénua?? É claro que não vamos estar à espera que de uma tal reunião resulte a panaceia para todos os problemas da saúde em Portugal, até porque a resolução desses problemas é um dos deveres do ministro. Mas lá que poderia funcionar como uma purificação para alguns problemas da saúde em Portugal, lá isso poderia!

3 comentários:

Andie disse...

em relação ao 1º ponto, tens muita razão. Em termos de gestão de farmácias, acho que é uma dor de cabeça. São medicamentos muito caro, não sabes quantas farmácias vão estar disponibilizadas para aceitar esta novidade, logo podes também correr o risco de não saber qual a adesão dos utentes. No início é um risco de capital que não seria muito necessário... Visto que pode haver essa tal facilidade do utente descontinuar a terapêutica ou mudar de farmácia só porque lhe apetece. Entretanto tens ali alguns bons euros empatados...

Em relação ao 2º ponto, acho que o sr bastonário, mais uma vez, apresentou-se muito simpaticamente aberto a uma discussão sobre o sistema de saúde português sem haver qualquer ponta por onde se lhe pegue. É bom que se mostre disponível para a discussão, dando uma mãozinha para ajudar nos problemas. Mas esta intervenção do sr bastonário é quase como quando alguém começa a falar sozinho no meio duma mesa onde cada um fala para o seu lado e sobre aquilo que lhe interessa... Neste conceito, e se calhar já estou a dar um GRANDE benefício de dúvida ao sr ministro, é que acho esta proposta ingénua!
Enfim, também é preciso ver que o sr bastonário tinha que encerrar o 8º congresso nacional das farmácias a dizer alguma coisa proveitosa para o sector... ;-) (é tudo uma questão de marketing, dizendo:"nós estamos aqui a espera para resolver o problema, e agora só faltam vocês!...")

riacrdoo disse...

Nope! Discordo, Andie! :P

Alguém tem que dar o braço a torcer: independentemente de à partida saber-se que a receptividade vai ser pouca, alguém tem de começar, dar um passo em frente. Alguém diz que esse debate seria completamente desnecessário? Ou inútil? Às vezes é necessário andar um pouco atrás das pessoas e persuadí-las a fazer determinadas coisas. Se alguém insistir neste debate, a probabilidade de ele ocorrer será muito maior, do que ficar à espera que as coisas se resolvam de outro modo.

Andie disse...

pois mas ficamos na mesma. Sentam-se alguns na mesa de reuniões, mas os que faltam (que por acaso são os que têm a palavra final no assunto) nem vê-los!
Continuo a achar que se o ministerio da Saude tem problemas de comunicação com os sindicatos, ordens, associações e afins do sector de saúde, não acho que um simples debate resolva o assunto. O maior problema é que, aos olhos de quem manda, tudo está bem. Ou melhor, antes estava mal, mas agora que mudaram ficou melhor; portanto agora nem está assim tão mau!... E enquanto isso continuar, não há disponibilidade que o valha.