quarta-feira, junho 14, 2006

Bicho Carpinteiro

Dia de chuva, o jardim fica a cheirar bem! Nada melhor que escrever um post!

Hoje vai ser sobre uma das maravilhas da comunidade científica: o síndrome das pernas irrequietas (RLS - restless leg syndrome).
Isto começou quando há já alguns dias andava a fazer uma magnífica pesquisa de artigos na net, que resultam quase sempre numa série de artigos que não têm nada a ver com aquilo que queríamos. Apareceu-me um review, que vou aqui relatar, e que os curiosos podem procurar nesta referência: Mathis, Johannes (2005): "Update on restless legs", Swiss Medical Weekly, 135, 687-696. A publicação não era minha conhecida (não é nenhum Lancet), mas o tema era muito curioso!
O magnífico RLS é carcterizado por uma necessidade insistente de mover os membros, por vezes mesmo por movimentos expontâneos; um aumento destes sintomas no descanso e durante a noite ou sono; e um alívio dos sintomas quando em movimento. Cerca de metade dos doentes tem história familiar de RLS, 90% tem insónias e, maravilha das maravilhas, mais de 5 movimentos periódicos por hora durante o sono ( mas quem é que se dá ao trabalho de contar os movimentos durante o sono?? )!
Enfim, mas o que mais me assuta é o tratamento que este senhor indica para esta patologia tão inquietante: a terapêutica de primeira linha começa com levodopa ou um agonista dopaminérgico (pramipexol ou ropinirol, este último melhor na IRC pois também não tem eliminação renal!!), mas depois é capaz de chegar a benzodiazepinas, antiepiléticos (valproato!) ou opióides (o tramadol é tramado!)!!! Isto porque parece que a doença está associada a desregulação nos sistemas dopaminérgicos e dos opióides.
Mas eu alguma vez queria ver o meu bicho carpinteiro tratado com metadona ou valproato?? Ou morfina, que também vem referenciado? E quanto à levodopa, que este autor recomenda, tem um magnífico efeito rebound no dia a seguir de manhã, onde os sintomas são exarcebados! Mas vá lá, os agonistas dopaminérgicos têm este efeito em menor proporção dos doentes...
E já agora, será que sou só eu a fazer a associação bicho carpinteiro-problemas psicológicos? Não é possível que estados de depressão ou ansiedade estejam na origem deste problema? O artigo não revela nada, ou é uma hipótese à muito descartada ou então é simpaticamente (d)esquecida...
Eu acredito que o RLS seja incomodativo para os doentes, mas prefiro mexer-me quando estou a dormir a esta terapêutica!
Ó Andrea, se alguma vez te queixares do insecto que durante a noite roi a tua cama, dá-lhe um tramadol para ele se tramar!

3 comentários:

Andie disse...

Eu sofro deste belo síndrome! Não imaginas as mil vezes que ouvi a frase:"importaste de não fazer isso?". Até nas aulas de piano fazia isto... É difícil parar, aliás, às vezes quando estudo até tenho de me concentrar para não fazer os movimentos para não me cansarem as pernas!! Incrível

Quanto ao estudo, eu acho que há estudos e estudos... assim como o mar (há mar e mar, há ir e voltar!) :-) Ou seja, a frase "não é nenhuma Lancet" traduz isto e resume tudo o que nós possamos vir a criticar nesse estudos que tão brilhantemente nos fizeste conhecer!

E posto isto, vou ali buscar levodopa. Até já! Hehe...

Pat888 disse...

Eu também passo por isto quase todos os dias ou noites. Mas o pior é a minha filha que além de ter as pernas irrequietas tem umas dores horríveis quando se deita mais tarde do que devia, tem 13 anos. Esses tratamento não me parecem nada simpáticos, mas pode ter a certeza que não é um problema psicológico, antes fosse...
(Pelo que tenho lido é neurológico)

Anónimo disse...

necessario verificar:)