segunda-feira, abril 14, 2008

Tempo de Dados e Informação

Fui confrontada na farmácia por uma utente um-tanto-ou-quanto informada sobre o programa Xponent implementado pela IMS Health, em parceria com a ANF e obviamente as farmácias associadas que aceitaram a proposta da ANF.

Podem ler aqui o que se passa com este programa. [um post que explicita suficientemente bem o que se passa com este novo programa de recolha de dados]

As farmácias não ficam com a informação, pois é enviada por modem à base de dados, através da ligação de internet que a Consiste ® fornece às farmácias (farmalink ®). O retorno às farmácias por estarem a fornecer os dados é feito na forma de desconto no pagamento mensal dessa ligação de internet. Claro que o desconto só é dado se a farmácia atingir um determinado nível de informação dada, ou seja, se as leituras dos códigos de barras (nº de receita, local de prescrição e código do médico prescritor) atingirem o nível escolhido (cerca de 85%, se não me engano).

[Isto são informações completamente livres de consulta, pois a informação foi enviada para a farmácia. Como empregada e vendo-me forçada a ver o pedido por estes código no acto de facturação de uma receita, penso que a informação é mais que obrigatória para esclarecer todos os intervenientes no processo]

Voltando ao que me trouxe a este post, a utente pediu-me para não "ler" os códigos pedidos.

Apesar de saber porque me pediram para passar a inserir esses códigos, sempre me mostrei indignada e perguntei: a quem é que vai favorecer o fornecimento destes dados?

[lendo os comentários ao post que linkei ali atrás, do SaúdeSA, podemos tirar algumas elacções]

Achei por bem aceitar o pedido da utente e não li os códigos. Essencialmente porque vai ao encontro de todas as dúvidas que eu tenho acerca deste sistema de recolha de dados.

Parece-me que quem sai a ganhar é óbviamente a indústria farmacêutica, as big pharma. Estudos de mercado que saem directamente da fonte de vendas dos seus produtos - as farmácias. Penso que este projecto é somente um enhancement de projectos de recolha deste tipo de dados já existentes (não esqueçamos a principal razão de existência da IMS, que é uma multi-nacional!!)
A associação com o médico prescritor (em termos de especialidade, claro está) penso que não seja de perseguição e controlo ético da prescrição. É mais o controlo do marketing - as vendas andam a correr bem às indústrias?

Os farmacêuticos de comunitária querem-se bons vendedores - treinados no conceito de venda, é o ganha-pão e deverão ser ambiciosos por florescer nessa capacidade. Mas este programa nada se relaciona com o que se passa com a influência do farmacêutico na venda dos produtos prescritos. Assim, acredito que a única coisa com que a farmácia saia a ganhar seja mesmo o desconto de x € na conta de internet.

Talvez os médicos comecem a preocupar-se que as big pharma andem a investigar através deste programa, se eles também serão bons vendedores.

Até lá, não leio códigos até conseguir perceber melhor sobre o sistema. E vou ficar contente que os utentes se inteirem e interessem sobre estes assuntos.

13 comentários:

riacrdoo disse...

riacrdo ---» diz:
dois pontos
riacrdo ---» diz:
1º - não acho graça nenhuma essa ideia de vender informações sobre receitas
riacrdo ---» diz:
2º - também não acho que deva ser o doente a decidir se os dados são enviados ou não

Anónimo disse...

Essa utente tem ar de ser médica.

Quando a vender informações sobre receitas: nada a opor.

Anónimo disse...

1. Pelo que li não tens conhecimento total sobre o programa.

2. Informação=€

3. A Farmácia pode ganhar muito mais com este programa que os curtos € do desconto.

Pedro D.

Andie disse...

Olá a todos.

Riacrdo, eu discordo da tua opinião, acho que as pessoas informadas devem sempre manifestar a sua opinião e, neste caso, se houver oportunidade de evitar "ler" os códigos, a minha consciência [pouco virada para o negócio, como já repararam...] dita que eu devo evitar "ler" os códigos.

Anónimo #1, a utente não é médica. Simplesmente leu alguns artigos na imprensa nacional que exploravam este assunto da Xponent, ANF e preocupações da OM.

Olá Pedro D. ;), eu admiti no post que não sei tudo sobre o projecto. Já sei um bocadinho mais pois fui investigar e ler, mas não sei tudo, de facto. Outra coisa, também admito que a farmácia pode ganhar mais com o "survey" que se se divulgar à farmácia os seus resultados. Coisa que não vinha no projecto proposto aos associados pela ANF. Mas pode vir a ser proposto, sim.

Anónimo disse...

Olá Andie!

Cada receita pede mais duas leituras.

Tendo em conta uma farmácia média:
150 receitas/dia
300 leituras extra/dia
7200 leituras mensais (24 dias) 1segundo por leitura
2 horas/mês

Se forem feitas por farmaceuticos dá para ver que o desconto extra mal paga o trabalho feito pelos membros da equipa.

O resto fica para o msn ;-)

Continuação do bom trabalho!

Pedro D.

Anónimo disse...

"Anónimo #1, a utente não é médica. Simplesmente leu alguns artigos na imprensa nacional que exploravam este assunto da Xponent, ANF e preocupações da OM."

As preocupações da OM não interessam nem ao Menino Jesus, andie. Eu teria explicado isso à utente. Mas isto sou eu.

Andie disse...

E dirias mesmo isso? em que termos é que as preocupações da OM, que foi uma expressão que arranjei para ilustrar as queixas que a OM fez acerca do programa Xponent, realmente não interessam ao Menino Jesus?
E para fazer as nossas opiniões mais válidas, temos de explicar as coisas desse modo às pessoas: minimizando assim, desse modo arrogante, a perspectiva de outros sobre o mesmo assunto?

A verdade é que a imprensa nacional publicou sobre o assunto exactamente sobre as questões levantadas pela OM. Independentemente daquilo que eles se queixavam, correctos ou não, a sua indignação é reflexo de má informação sobre o programa.

No fundo, as suas preocupações de facto despoletaram uma incerteza neste assunto; do público mais atento. Por isso, acho que interessa sim, se é para criar debate sério e ajudar a informar melhor sobre este projecto. [mesmo que o nome do utente não seja pedido, o público está envolvido por ser o universo do estudo]

Anónimo disse...

Não percebo como a colega dá crédito a um blog tão soez e tendencioso como o saudesa, naõ percebo como a colega linka um blog inimigo declarado dos farmaceuticos.

Tudo o que de lá vem é mau vento.

Andie disse...

eu linkei este post do SaudeSA, sim, mas não quer dizer que eu concorde com tudo o que escrevam.
Além disso, é sempre bom ouvir ambas as partes de uma discussão. Por vezes é bom ouvir quem critica mais para saber argumentar. É bom saber ouvir outras opiniões.

E não é tendencioso pensar que a classe farmacêutica é só rosas?... ;)

Anónimo disse...

Concordo absolutamente com o "farma". Linkar um blogue que passou 2 anos inteirinhos a atacar a classe farmacêutica, a rejubilar com as medidas de Correia de Campos (só com aquelas que lhes convieram), e que passa a vida a diabolizar a ANF, é de muito mau gosto, andie. Devia rever seriamente as suas fontes.

riacrdoo disse...

O SaudeSa tranformou-se num blog "big breda": toda a gente critica, mas toda a gente lê!

Andie disse...

Resumindo e concluíndo, acerca do tema nao há comentário, não há comentário também acerca do que eu escrevi, mas por ter feito referência a um post que eu achei que estava suficientemente explorado é que há comentário.

Peço desculpa, mas não tenho qualquer problema em linkar posts que eu acho que tenham sentido em serem linkados, especialmente por uma questão de haver maior informação sobre o assunto. Seja do SaudeSA, seja de um blogue qualquer...

Se não concordam com a visão dos autores do SaudeSA sobre este assunto, então escrevam-lhes.

Se não concordam com a minha visão sobre este assunto, são mais que bem recebidos a escreverem-me.

Mas massacrarem-me por ter mencionado um post de um blog?...
AInda por cima alegando que [por outras palavras] sendo farmacêutica tenho de me juntar ao grupo para me defender contra aqueles que acham que a actividade pertence a um lobby.
COm comentários como estes dois últimos é que realmente isto parece um grande grupo que tem de se defender!

EU defendo uma melhor informação e maior esclarecimento acerca deste assunto do Xponent. Já por diversas vezes questionei os meus colegas na farmácia onde trabalho, inclusivé a minha DT. Poucas foram as perguntas que obtiveram resposta. Curiosamente inteirei-me melhor sobre o assunto conversando com um ex-colega de curso.

Da crítica também se constrói a melhor informação.

Anónimo disse...

Sou farmacêutico comunitário e acho que não temos o direito de fornecer a terceiros informações sobre hábitos de prescrição de médicos. Isso é informação privada que nos é confiada pelo sistema que diz que é o farmacêutico que dispensa unica e exclusivamente as prescrições médicas. Informar empresas e delegados de saídas é uma coisa. Relacioná-las com quem as prescreve, seja por boca, seja por sistema informático é imoral, pouco ético e quem sabe ilegal.