quinta-feira, setembro 06, 2007

Nem há uma semana lá estou...

Comecei a trabalhar novamente em farmácia comunitária; primeiro dia foi 3 de Setembro.

Nem uma semana fez que estou a trabalhar e já encontrei variadíssimos casos alarmantes de como o malfadado "sistema" não funciona. Vou passar a descrever sucintamente o que me aconteceu ontem, quarta-feira dia 5 de Setembro.

Uma senhora idosa, visivelmente transtornada, cansada e com dificuldade em andar (auxiliada por uma bengala), dirigiu-se a mim com um par de receitas acabadinhas de serem prescritas pela sua médica de família, no H.Curry Cabral. Receitas electrónicas, importante frisar. Quando as passa para a minha mão, a minha reacção foi de desilusão e um pouco de desespero - o cabeçalho inteiro em ambas as receitas não fora impresso! Não havia número de receita, nada de código de barras do local de prescrição, nada de nome, nada de número de beneficiário! Como é que é possível, pensei eu?
Após uns primeiros instantes a analisar o mais que pude aqueles papéis para ver se havia alguma alternativa para a senhora levar os seus medicamentos, decidi recorrer ao conselhos dos colegas. Chegámos todos à conclusão que nada feito! Não se poderia dispensar nada com o desconto, não se podia aceitar a receita. Ainda propus fazer aquilo que não é permitido mas que todos fazem - venda suspensa; mas a senhora nem dinheiro tinha para comprar pelo preço inteiro.
Uma situação desconfortável para nós, farmácia. Situação de desespero para a senhora! [ficou comigo uma série de minutos intermináveis praticamente a chorar e a lamentar-se.] E isto tudo poderia ter sido evitado se o médico prescritor tivesse aberto os olhos quando assinou a receita...

É o verdadeiro jogo de "passar-a-batata-quente"! Ninguém se importa... e eu sinto-me culpada por não poder ajudar mais.

Ainda por cima hoje em dia, em que o controlo das receitas aviadas está tão apertado como o cinto financeiro dos portugueses!...

1 comentário:

teardrop disse...

Infelizmente os problemas financeiros dos nossos utentes agravam-se a cada dia. Há situações dolorosas para quem atende, muitas vezes chego a casa incomodada pelo que vi durante o dia. Fica sempre o sentimento de impotência, de não poder disponibilizar algo tão essencial porque a pessoa não pode pagar.

Também já recebi uma receita semelhante onde não se via o que estava prescrito porque a impressora devia estar com falta de tinta...