quarta-feira, março 12, 2008

Mea Culpa

Às vezes também é conveniente fazer um pouco de mea culpa, que os farmacêuticos também fazem os seus erros. Estas duas pequenas histórias que se passaram com dois familiares meus retratam o que também se faz de mal nas farmácias portuguesas. E que alguns utentes têm os pés bem na Terra.

1 - Há dias uma tia minha dirigiu-se a uma farmácia para comprar alguma coisa para "dormir melhor". Alguns acontecimentos familiares levaram a que uma certa instabilidade onírica se instalasse na minha tia e que melhor do que se aconselhar na farmácia do bairro.
Consequência: saiu da farmácia com uma embalagem de mexazolam.
Ora, nós que nos queixamos diariamente de ter idosos ao balcão para comprar uma caixita de lorazepam ou bromazepam, ou seja lá o que for sem receita("Agora como é que vou dormir??"; "O dinheiro que vou gastar a ir buscar a receita ao médico não compensa, comprar sem receita é mais barato e eu preciso" et cetera...), não convém dispensar sem receita a uma utente que nunca tomou/precisou.

2 - Uma outra tia minha (tantas tias...) foi há uns tempos aconselhar-se com um farmacêutico por causa de uma infecção cutânea que a filha tinha. O farmacêutico diligente apresentou-lhe logo a solução: flucloxacilina, que aquilo passaria num instante. E aqui tive de dar os parabéns pela resposta da minha tia:
"Não obrigado, eu não vou dar um antibiótico à minha filha sem o aconselhamento de um médico...".
Mais tarde acabou por ir à mesma farmácia com uma receita exactamente com flucloxacilina, sentindo-se "envergonhada" por recusar inicialmente o referido medicamento.

Mas também, quem nunca fez nada errado que atire a primeira pedra...

13 comentários:

Anónimo disse...

"Não obrigado, eu não vou dar um antibiótico à minha filha sem o aconselhamento de um médico...".

Onde é que isto merece parabéns? É ignorância pura, sem ofensa.

Anónimo disse...

No MINIMO a nível de antibióticos - pela carrada de formação que temos à volta deles - sinceramente tenho de concordar com o comentario acima.

Andie disse...

Se bem que muitas vezes chego à conclusão que o farmacêutico teve na sua formação mais farmacologia que um médico, quem tem o direito de prescrever é este último e não o farmacêutico.

e digo-vos, esta discussão é mesmo um bom exemplo do "preso por ter cão, preso por não ter"....

Anónimo disse...

O farmacêutico de comunitária nuca deverá prescrever por uma questão de ética (obviamente que muitas vezes não é o que acontece).
E não só de farmacologia se faz um farmacêutico, como não só de anatomia se faz um médico obviamente.

Andie disse...

mais uma vez friso: preso por ter cao e preso por nao ter...

e já se começa a estender este "ditado" para qualquer coisa que eu responda!...

Anónimo disse...

Na minha opinião de cidadão há medicamentos que não fazem sentido estarem sujeitos apenas a receita médica. Deviam estar sujeitos a receita médica ou farmacêutica, e esse é, na minha opinião, o caso de vários antibióticos.

Anónimo disse...

Concordo com o ultimo comentário.
andie não é nada disso. ;)
No caso dos antibióticos num mundo utópico o medico ao ver o paciente retirava uma amostra e enviava para o laboratório a fim de se identificar qual a estirpe bacteriana e o melhor antibiótico para a eliminar.
Como sabemos que isso NUNCA se faz, muitos antibióticos deveriam estar sujeitos a receita farmacêutica.
Basta observarmos todas as microbiologias clínicas que temos juntamente com o resto da formação. Encontramos-nos mais e melhor adequados para pelo menos esta prescrição em especifico do que qualquer medico. Não é por acaso que a maioria dos microbiologistas clínicos são farmacêuticos.
É engraçado ver o quão ignorante foi a atitude da mulher.

Andie disse...

Isto faz-me confusão porque muitas vezes aquilo que vejo é o tradicional abuso de antibióticos que ficam lá por casa dos utentes... já falámos disso aqui no blog. A questão aqui presente é uma situação antígona a esse abuso: esta senhora, na minha opinião, de ignorante só terá o facto de não conhecer como é que se atribuem correctamente os antibióticos respectivos às infecções.

Penso que foi nesta perspectiva que o Riacrdoo acabou por querer partilhar esta situação.

Além disto, a legislação portuguesa de facto está muito aquém de conceder ao farmacêutico de comunitária poderes para dar parecer de diagnóstico a uma situação de infecção. O medicamento é sujeito a receita médica, e com as inspecções do Infarmed a perguntar por justificações de vendas de antibióticos sem receita, o farmacêutico tem de saber defender-se.

O problema é que esta questão deveria ser posta em todas as vertentes. Seja antibióticos (pelo perigo de ao longo do tempo criarem resistências...), seja benzodiazepinas, seja antidepressivos SSRIs... etc etc etc.

Não esqueçamos que no primeiro ponto deste post do nosso colega, ele refere que uma utente saiu da farmácia com mexazolam na mão para "curar" uma insónia/ um stress pontual.

-- A questão que vos ponho é (aos anónimos todos deste rol de comentários): se esta situação é diferente daquela do segundo ponto? A senhora que aceitou isto já não é ignorante porque confia na formação de farmacologia do farmacêutico e em toda a sua experiência na prática de diagnóstico e aconselhamento nesta área de ansiolíticos / hipnóticos?

Ou será que as benzodiazepinas são também um dos exemplos de medicamentos que, na opinião de um dos anónimos, fazem sentido de ser medicamento sujeito não apenas a receita médica?

A farmácia comunitária em Portugal corrige demasiado o vazio entre o SNS e a necessidade do utente em ser acudido. Por esta razão é que se cai neste paradoxo de situações "ilegais" mas no entanto feitas muitas vezes com a segurança do conhecimento ciêntifico (não tendo a segurança da lei). Pois a lei não prevê a (in)competência de todos.

riacrdoo disse...

Antibióticos em receita farmacêutica é de doidos, desculpem lá!

E mais uma coisa: nós até podemos ser os profissionais do medicamento, mas não o somos da doença! Gostava de saber com que critérios e meios complementares de diagnóstico é que o meu colega identificou a situação clínica da minha prima, e decidiu indicar o antibiótico...

Anónimo disse...

Provavelmente com a mesma que o médico, o olho e o conhecimento.
Fez exactamente o que o médico fez, reconheceu, percebeu e tratou.
Desculpe, mas o farmacêutico é dotado de conhecimentos clínicos sobre a doença causada por microrganismos. E neste ultimo ponto garanto-lhe que mais do que qualquer médico de clínica geral.

Anónimo disse...

"-- A questão que vos ponho é (aos anónimos todos deste rol de comentários): se esta situação é diferente daquela do segundo ponto? A senhora que aceitou isto já não é ignorante porque confia na formação de farmacologia do farmacêutico e em toda a sua experiência na prática de diagnóstico e aconselhamento nesta área de ansiolíticos / hipnóticos?"

Não. Não concordo com a prescrição farmacêutica de hipnóticos/ansioliticos.
Agora quando se fala em alguns antibióticos que são receitados sem meios complementares de diagnostico (como a maioria os é) para alguns casos específicos, já acho que poderiam estar sujeitos a prescrição farmacêutica.
Contudo coloca-se sempre o problema derivado da questão, a ética.

Anónimo disse...

Nunca nenhum médico me prescreveu antibióticos usando meios complementares de diagnostico.

Anónimo disse...
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